GRUPO
DOS ONZE.
OS
GRUPOS DE ONZE COMPANHEIROS.
“Povo desunido, povo
desorganizado é povo submetido”. Assim pensava em1963, o então deputado federal
Leonel de Moura Brizola. A frase, ainda atual, resume bem a agitação política
existente no governo João Goulart, onde esquerda e direita radicalizavam a sua
atuação política. Foi pregando sobre a necessidade de organização do povo para
que o mesmo se libertasse da pobreza e exploração internacional, que Brizola
começou a discursar na rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Em novembro de
1963, é lançada por ele a ideia de formar os “Grupos de Onze Companheiros” ou
“Comandos Nacionalistas”.
Leonel Brizola
desempenhava importante papel na política brasileira. Após a renúncia de Jânio
Quadros em 25 de agosto de 1961, Brizola, então governador do Rio Grande do
Sul, liderou a Campanha da Legalidade para defender a posse do vice-presidente João
Goulart, adiando de certa maneira o golpe que se concretizaria em 31 de março de
1964. Os discursos em defesa da constituição fizeram dele um grande líder político,
principalmente entre as esquerdas.
Ao propor a criação
dos grupos, Brizola se inspirou no futebol, dada a proximidade do país com esse
esporte. Cada grupo seria formado por onze pessoas e um integrante seria escolhido
o capitão. No início, dois ou três começariam até chegar ao número de onze, e
as reuniões seriam realizadas nas casas dos membros. Com os onze definidos,
lavrariam a ata de fundação com o nome de todos e informariam por carta ou
pessoalmente, a criação do grupo ao deputado Leonel Brizola, na sede da rádio Mayrink
Veiga.
Segundo o criador, o
movimento iria lutar pela “defesa das conquistas democráticas, resistência a
qualquer tentativa de golpe, instituição de uma democracia autêntica e nacionalista,
imediata concretização das reformas, em especial das reformas agrária e urbana,
e pela libertação da pátria da espoliação internacional”. Para atingir
essesobjetivos, os grupos iriam articular ações, em todo o Brasil. Ressalte-se
que nada era clandestino, e sim totalmente aberto e público, visto que as
instruções para a criação dos grupos eram transmitidas via rádio para todo o
país.
O discurso visando à
melhoria das condições de vida do povo, fez com que a ideia tivesse grande
aceitação popular. A oposição ao movimento também teve força, os conservadores
o acusavam de terrorista, e a imprensa publicava notícias ilusórias sobre as
possíveis ações dos grupos, sempre os associando ao comunismo.
Interessante notar, é
que a imprensa, tentando atrapalhar o movimento, acabou por supervalorizar o
mesmo, chegando a causar pânico na direita civil-militar, que imaginava estar
próxima uma guerra civil dentro do país. Vale lembrar também, que o Partido
Comunista Brasileiro foi contrário à iniciativa de Brizola, o que arruína a
ideia de associar esse movimento ao comunismo.
O número de
participantes é incerto, mas cálculos do professor Cibilis Viana, que fazia
parte da organização, informam que as vésperas do golpe, já haviam se formado cerca
de 100 mil grupos. O historiador Jorge Ferreira, apresenta dados do ex-deputado
Neiva Moreira, com cerca de 60 a 70 mil militantes organizados.
No meio desses
milhares de seguidores Brasil a fora, a cidade de Muniz Freire foi representada.
O grupo formado a partir da liderança de Jonatas Ribeiro Soares tinha os
seguintes membros: Ângelo Cizotto, Carlinho José de Arêas, Ilton Vieira, Jair Ribeiro
Soares, Lino Ribeiro Soares, Mario Ribeiro Soares, Mauro Rodrigues de Oliveira,
Nelson Bolzan, Renato Viana Soares e Rômulo Araújo. A adesão se deu pela
admiração a figura de Brizola, e por sua luta a favor dos mais pobres.
Com o golpe
consolidado, estes grupos foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional e
injustamente perseguidos com prisões e outras barbaridades cometidas pelo novo
regime. Em Muniz Freire, também aconteceram perseguições e prisões. A pena foi
cumprida no Fórum local, e diferente de outras cidades, aqui os presos foram bem
tratados. O dossiê “Grupo dos Onze”, existente no Arquivo Público Estadual, menciona
a condenação de alguns: Jonatas (um ano de reclusão), Mauro (seis meses), Nelson
(seis meses), Rômulo (seis meses), Carlinho (seis meses) e Ângelo (seis meses).
Vale destacar que Renato, Ilton e Jair também foram condenados. No caso de
Mario e Lino, houve o indiciamento, mas o processo não foi em frente e,
portanto, não houve condenação.
Além da perseguição
oficial, eles sofreram com o preconceito de parte da sociedade que erroneamente
os ligava ao comunismo. É bom frisar que o grupo de Muniz Freire também não
praticou atos ilegais, e, portanto, o preconceito, a perseguição e posterior
condenação foram injustas.
Mesmo com toda
dificuldade, esses grupos deixaram marcas e se constituíram numa inovação em
estimular as massas. Em entrevista ao jornalista FC. Leite Filho, o sociólogo
Herbert de Souza, um dos últimos coordenadores dos Grupos dos Onze no Brasil,
dimensiona o movimento: “Era uma coisa que crescia espontaneamente. O Brizola
pegava a rádio Mayrink Veiga, que todo mundo escutava e dizia o seguinte:
Reúnam 11 companheiros, peguem os nomes deles e nos enviem cópias. E começavam
a surgir os comitês. E se formou Grupo dos 11 em todo lugar”.
A verdade, é que o
movimento, até então promissor, não teve tempo de prosperar. Dias antes do
golpe, as primeiras reuniões estaduais e uma nacional, ainda estavam sendo
organizadas. A rapidez do movimento golpista o impediu de produzir maiores
resultados.
Na memória dos membros
muniz-freirenses entrevistados, ficaram as lembranças de uma luta justa e
pacífica, mas que foi derrubada por um golpe civil-militar que maltratou não só
onze pessoas, mas a maioria de um país.
Herbert Soares Caçador
– 31 de Março de 2012.
Muniz Freire/ES
Publicado no
suplemento PENSAR do jornal A Gazeta de 26-05-2012
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