terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Lideranças do setor cafeeiro de Minas Gerais pedem políticas de comercialização ao governo




Produtores creem que novas medidas são necessárias para enfrentar a especulação do mercado
Divulgação
Nas últimas duas safras, o setor pode ter perdido R$ 10 bilhões com a queda nos preços
Produtores de café do sul de Minas Gerais elaboraram no início do mês, um documento solicitando uma ação imediata do governo para adotar políticas de comercialização do café. O problema maior está na chamada pré-comercialização. Só através do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) ainda estão estocadas quatro milhões de sacas, que servem de garantia dos empréstimos da venda antecipada que não pagam a dívida. Lideranças da cafeicultura calculam que, nas últimas duas safras, o setor perdeu R$ 10 bilhões com a queda nos preços. 

Na Cooperativa Agropecuária de Machado (Coopama), estão armazenadas 90 mil sacas de café, registro bem acima da média histórica para esta época do ano, que seria de, no máximo, 20 mil sacas. O estoque deveria servir para pagar as dívidas da pré-comercialização, mas, o mercado, por esperar esta oferta maior, forçou os preços para baixo.

Na estocagem da cooperativa, 30 mil sacas foram depositadas como garantia do empréstimo feito através da pré-comercialização. Se os produtores venderem todo o café para quitar a dívida, incluindo juros e custo de estocagem, o prejuízo passa de R$ 1,5 milhão.

– Houve esta queda brusca nos preços do produto e hoje nós estamos carregando um café que já está  pré-comercializado e não se paga mais pelo preço que está. Hoje, o custo dele hoje já não é acessível para o produtor pagar com a venda do produto – afirma o diretor da Coopama, Fernando Caixeta Vieira.

O cafeicultor Jose Sólon de Lima Júnior enfrenta essa situação. Ele produziu 1.400 sacas em 2012.  Em outubro, fez o empréstimo e depositou 400 sacas na cooperativa, ao preço de R$ 360,00. Ele precisou vender 100 sacas na semana passada e já está com prejuízo de R$ 70,00 por saca.

– Fiz acreditando na conversa que a gente ouvia nos escritórios de café, de que poderia melhorar o preço, talvez chegar próximo aos R$ 500,00, que já houve dois anos seguidos. Acreditei nisso, fiz a R$ 360,00 e vendi a R$ 290,00. Se tivesse vendido na época, estaria mais feliz hoje. Essas quatrocentas sacas são R$ 28 mil de perda – lamenta o cafeicultor.

O produtor Celso Rossi Júnior também negociou uma pré venda de 500 sacas a R$ 300,00 em dezembro do ano passado. O cafeicultor não se conforma em ficar no prejuízo, já que apostou nas informações que vieram do mercado.

– Precisaríamos, neste momento, da firme defesa de nossas lideranças, de nossos órgãos, para que rebatessem todas essas informações errôneas, mas, infelizmente, estamos diante de um mercado especulativo e o produtor, de um modo geral, não se encontra em uma situação agradável – declarou.

No município de Varginha, o dia foi de reuniões com cooperativas, sindicatos e cafeicultores de Minas Gerais e São Paulo. Lideranças da Comissão do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Conselho Nacional do Café (CNC) ajudaram a aprovar um documento que pede uma ação imediata do governo.

Entre as principais reivindicações estão o preço mínimo de R$ 340,00, prorrogação dos créditos até os preços reagirem, antecipação de R$ 900 milhões do Funcafe para estocagem e leilões de Pepro programados para agosto. Medidas necessárias para enfrentar a especulação do mercado. 

– Nós entendemos que uma ação de governo neste momento vai sinalizar para o mercado, primeiro para o Brasil como maior produtor, segundo maior consumidor e maior exportador, tendo uma política definida para cafeicultura. Em um segundo momento, para o Brasil a partir do momento em que entra ou para comprar café ou para  sinalizar um prêmio equalizador para o produtor escoar seu produto. Com certeza, o mercado vai acompanhar e nós vamos viver uma nova realidade, com preços acima do nosso custo, o que não vem acontecendo – diz o presidente da Comissão do Café da CNA, Breno Mesquita.

– O mercado está extremamente especulativo nas ações e o Brasil não tem nenhum excedente muito grande de café. O mercado aposta contra e só tem alguém, um ente capaz de mudar uma situação desta, e este ente é o governo federal – conclui o coordenador do CNC, Maurício Miarelli.

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