sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Obama esqueceu seu ‘começar de novo’ com a América Latina?



 
Saul Landau
Miembro del Instituto para Estudios de Política
Adital
Tradução:ADITAL
O presidente Barack Obama tocou notas triunfantes em seu discurso do Estado da União. Porém, não mencionou seu fracasso em mudar a política que não funciona. Algo que deve ser analisado é Cuba, onde a névoa da irrealidade envolveu a política dos Estados Unidos durante mais de meio século. Nos escritórios de Washington, onde são traçadas as políticas e no Capitólio, poucos parecem perceber que as tentativas para subverter o governo de Cuba não têm funcionado. Vejam o fracasso da Baía dos Porcos, em abril de 1961; a subsequente Crise dos Mísseis, quando líderes cubanos aceitaram armas nucleares soviéticas para impedir uma ameaça de invasão dos EUA; e o fracassado embargo econômico de mais de 50 anos juntamente com as tentativas de isolar diplomaticamente a Cuba.
A cada ano, o Congresso destina dinheiro para causar dano em nossa ilha vizinha, como se ao apoiar aos "dissidentes” e organizando telefones via satélite e grupos de Internet farão com que, de alguma maneira, as infelizes massas cubanas saiam às ruas de suas cidades para derrocar o governo.
Essa política norte-americana já tem 54 anos. "Tem que dar um tempo”, gritam os seguidores da linha dura, como os senadores Marco Rubio (republicano pela Flórida) e Bob Menéndez (democrata por Nova Jersey) e a represnetante Ileana Ros-Lehtinen, todos cubano-americanos. Esses fanáticos anticastristas e seu grupo já enganaram o país por muito tempo. É hora de que Obama e o Secretário de Estado, John Kerry, sejam realistas e dissipem a bruma de estupidez que tem nublado o cérebro político de Washington.
Pensem na vida em Cuba como se lá vivessem pessoas dos Estados Unidos: os cubanos vão trabalhar e vão à escola pela manhã; se transportam em ônibus; almoçam; regressam a suas casas; porém, sem ter que preocupar-se de que executem sua hipoteca ou os desalojem; e mais de 90% deles votaram a favor do governo em suas eleições parlamentares, há duas semanas.
Ante um governo que já durou por 54 anos, tem feito investimentos significativos na saúde e na educação de seu povo e que funciona de uma maneira tão rotineira como qualquer governo no hemisfério, por que os fazedores de políticas em Washington continuam inventando ilusões como base para a estratégia política dos EUA, ao crer que uma conspiração contínua pode derrocar a um governo que provê seu povo de serviços médicos gratuitos, alimentos subsidiados, educação gratuita até a pós-graduação e muitos outros benefícios sociais?
Em Cuba, não se vê gente sem casa ou crianças fora da escola. Por que os fazedores de política continuam comportando-se como se pudessem derrocar a um governo que provê a seu povo de benefícios que os norte-americanos não conseguem disfrutar: O não realismo reina na política para com Cuba, desde 1959.
Durante décadas, os países latino-americanos e caribenhos, pressionados por Washington, no início dos anos 60, para que rompessem com Cuba, restabeleceram as relações normais, e a Comunidade de Estados latino-americanos e Caribenhos (Celac) acaba de eleger Raúl Castro para encabeçar a organização regional. Criada em Caracas em 2011, a Celac surgiu como uma alternativa à Organização de Estados Americanos (OEA), dominada pelos EUA. Nem os Estados Unidos, nem o Canadá pertencem à organização; porém, agora, vários chefes de Estado latino-americanos louvam aos Castro e apoiam firmemente a independência cubana de Washington. Os presidentes do Brasil, do Equador, da Venezuela, da Bolívia, da Argentina e da Nicarágua se reúnem regularmente com seu homólogo cubano e discutem temas latino-americanos e caribenhos. A reunião de Trinidad, em 2009, na qual Obama reuniu-se com chefes de Estado latino-americanos e caribenhos e na qual falou de sua franqueza e prometeu "começar de novo”, agora provoca desdenhosos comentários por parte dos que o escutaram.
Obama suportou duras críticas latino-americanas pelo comportamento anterior dos Estados Unidos na região, acusações que foram desde a grosseira exploração econômica até o constante apoio às ditaduras militares, da década de 60, passando pela década de 70, até a década de 80. Até agora, não se pode qualificar de "novo” o novo começo norte-americano de Obama com a América Latina e Caribe, especialmente em relação à política para com Cuba. De fato, a Usaid financia a subversão em Cuba, o que provocou a prisão de Alan Gross, que trabalhava para uma companhia que tinha contrato com a Usaid para organizar um grupo de "dissidentes” sob o pretexto de prover de conectividade a Internet à comunidade judaico-cubana. Gross foi preso portando caros e sofisticados equipamentos e com o disco rígido de seu laptop, que continha cópias de seus "relatórios de viagens” a Cuba, que detalhavam seus devaneios subversivos. A Segurança do Estado cubano havia se infiltrado em grupos dissidentes e um tribunal cubano condenou o norte-americano por cometer delitos contra o Estado cubano. Foi condenado a 15 anos de prisão.
Obama poderia facilmente fazer que Gross seja libertado, ao conceder uma anistia aos Cinco Cubanos, agentes de inteligência que se infiltraram em grupos de violentos exilados com sede em Miami que haviam começado a por bombas em Havana. Foram presos pelo FBI e declarados culpados por conspiração pelo delito de espionagem. Um ato tal abriria a porta a negociações maiores e à restauração das relações entre os dois países.
Quando Obama ouvirá as notícias? Quando aplicará um realismo "novo” à política dos EUA-Cuba e abandonará o meio século de busca para derrocar o governo de Cuba e restaurar as relações diplomáticas e comerciais com a Ilha? O mundo abandonou a guerra fria. Porém, não foi realmente a Guerra Fria ou o envolvimento soviético com a ilha que, em primeiro lugar, atingiu Washington. A desobediência de Cuba, sua ausência de veneração pela supremacia dos EUA na região, seu rechaço à Doutrina Monroe e ao Corolário de Roosevelt, e a expropriação por parte de Castro das propriedades corporativas norte-americanas fizeram de Havana um alvo, cuja insolência continua incomodando a elite de Washington.
Porém, eles coexistiram antes com inconveniências.
Nota:
Os filmes de Saul Landau ‘Fidel’ y ‘Por favor, que el verdadero terrorista se ponga de pie’ podem ser obtidos em DVD por meio de cinemalibrestudio.com. Landau é membro do Instituto para Estudios de Políticas.
[Fonte: Original em espanhol publicado e enviado por Progreso Semanal].

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