segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Orgânico x Sustentabilidade x Qualidade



Por Marcos Croce
postado em 04/02/2013

Vale a pena ser Orgânico? Vale mais o café Orgânico? O café Orgânico é melhor?

Estas são perguntas normalmente feitas por produtores, por compradores e por consumidores. Ainda existe um grande questionamento por uma grande parcela da população com relação a melhor, mais saudável e mais correta forma de agricultura dos alimentos em geral. Estamos passando por importantes mudanças de paradigma no mundo. Há uma busca de novos valores, de uma vida mais Saudável, de um mundo mais Sustentável, de uma escolha de produtos de qualidade para o consumo próprio.

Estamos vivendo um momento em que a bebida Café esta sendo redescoberta. Já estamos conhecendo mais variedades de vinhos, de cervejas, de tequilas e de cachaças. A cultura do chá e suas diversidades já é de há muito conhecida. Qualquer restaurante hoje tem a sua carta de vinho. Vários já estão com suas cartas de cerveja e de cachaça. O café continua sendo apenas o cafezinho : beeem preto, beeem forte, com muuuito açúcar. Um local mais sofisticado oferece uma bolachinha, um chocolate ou uma água com gás.........Muito importantes para "limpar" o gosto ruim, amargo, adstringente do cafezinho, de baixa qualidade, super torrado e ainda mal tirado. Há não muito tempo, o cafezinho era um simples complemento da refeição. Ele era um "bônus" e era oferecido sem custo extra ao cliente dos restaurantes. Depois veio o advento do Espresso, que modificou a forma de fazer e de servir o café, o que viabilizou aos restaurantes poder cobrar por esse novo Café Espresso.

Agora estamos entrando em uma nova fase: a do Café de Qualidade. Como o vinho, temos o café com mais ou menos corpo; temos o café mais frutado ou mais floral; tem café que "enche a boca" e não vai para a garganta; tem aquele com um retrogosto agradável e prolongado. No Brasil temos diversas variedades - Bourbon, Obatã, Icatú, Catuaí, Mundo Novo, entre outros - em geral misturados nos terreiros e vendidos como "commodities" ou como 'cafezinhos'. Recentemente, começaram a aparecer cafeterias mais preocupadas com cafés especiais, separados por variedades, com denominação de origem, com "terroir", com nome da fazenda produtora, com critério de produção, com cuidado na torra e no preparo de servir. Existem ainda muitas outras variedades, como Geisha, Pacamara, Java, etc , que não são cultivadas no Brasil e que logo mais serão descobertas aqui também. Cada variedade apresenta a sua própria característica quanto a densidade, o aroma, o sabor. Dependendo da localização, da altitude, da latitude, do clima de cada estação, da forma de colheita, do cuidado na secagem, da armazenagem, da torra, esses cafés poderão apresentar suas características, suas peculiaridades, seus "encantos" individuais. Como o vinho, que é sempre relacionado com a uva e com a origem, o Café de Qualidade começa a surgir no mercado. E, como tudo na vida, quando se identifica e se aprende algo de qualidade, fica muito difícil voltar atrás e consumir algo ruim. Essa é a grande vantagem do café, pois por mais caro que seja, ele é um produto democrático, accessível a qualquer bolso e que aproxima as pessoas.

O Café Orgânico é aquele que é produzido sem a utilização de agrotóxicos ou quaisquer outros produtos nocivos ao meio ambiente ou ao seres vivos. O café é fertilizado com compostos de produtos naturais e as pragas são combatidas com preparos especiais. Na FAF - Fazenda Ambiental Fortaleza nós desenvolvemos duas formas de cultivo de cafés Orgânicos: O Orgânico Ativo e o Orgânico Passivo.

Cultivo Orgânico Ativo é aquele que tem o trabalho e interferência permanentes, que precisam ser alimentados, regados, podados, roçados e que não permite a utilização de substâncias químicas e tóxicas, e que então necessitam de capinação manual intensa. Torna-se muito difícil a produção da cafeicultura Orgânica de quantidade e normalmente buscam-se formas de cultivos complementares nos cafezais ( milho, feijão, mandioca, etc). A característica básica da agricultura Orgânica é a diversidade, em que há rodízio de cultivares onde as diferentes raízes e folhagens contribuem para um equilíbrio na produção.

No Cultivo Orgânico Passivo buscamos a criação de cafezais de Sombra onde o mato não cresce , o solo não está exposto diretamente ao sol, onde os pés de café possam se desenvolver com a mínima interferência humana. Nesse tipo de cultivo observamos que a produção é bem menor, porém os frutos se desenvolvem melhor com maturação mais lenta e prolongada e notamos que têm favorecido a qualidade da bebida.

O problema do Cultivo Orgânico é que ele é muito mais custoso e têm uma produtividade muito menor que o cultivo convencional. O café para ser considerado Orgânico tem que ter um Selo de uma Certificadora Orgânica. Os custos da certificação são de responsabilidade dos produtores. O (re)aprendizado do cultivo Orgânico é de responsabilidade dos produtores. A colocação no mercado (ainda muito pequeno e restrito) é de responsabilidade dos produtores. O benefício de um alimento mais saudável e de uma terra mais saudável, com mais árvores, água limpa e ar limpo é de benefício de todos.

O Café Sustentável é aquele que busca o equilíbrio entre a produção e o meio ambiente. É aquele que leva em consideração a degradação da terra, a preservação das espécies, a proteção das nascentes e a manutenção de corredores verdes. O desafio para o produtor consciente e responsável é encontrar uma fórmula de levar a sua propriedade a ser Sustentável não somente na área Financeira, mas também naSocial e na Ambiental. A questão é como aumentar a produtividade e diminuir os custos mas sempre tendo em vista a próxima geração .

O Café Orgânico é um Café Sustentável, mas o café não precisa ser Orgânico para ser Sustentável. Pelo alto custo do Café Orgânico, muitos compradores hoje optam pelo que se convencionou a chamar de "Direct Trade" ou Compra Direta. Nestes casos, o comprador, que visita o produtor anualmente, que conhece a fazenda e os métodos de produção Sustentável das fazendas, são os "Certificadores" naturais dos produtos que eles compram e vendem em suas torrefações ou em suas lojas. A origem dos produtos e o motivo da compra estão nos rótulos dos produtos, permitindo ao consumidor conhecer todo o processo de rastreabilidade desde a origem até o ponto de venda.

O grande problema que vivemos hoje é que o custo do Café Orgânico é muito alto e o mercado não esta preparado para pagar essa diferença, principalmente pelo café não ser um produto consumido "in Natura" como tomates, hortaliças, frutas, pois ele passa por um processo de torra que diminui consideravelmente o contato do consumidor com os agrotóxicos usados. No processo de seleção do orçamento familiar, o café Orgânico fica em segundo plano. E aí aparece o problema maior: para não encarecer o produto final - Café Orgânico - diminui-se a qualidade da matéria prima: os cafés de varreção (catados no chão) ou os cafés verdes (não maduros) , de cultivo Orgânico, também são Cafés Orgânicos! Muitas pessoas confundem café Orgânico com café deQualidade. O Café Orgânico pode ser de altíssima Qualidade, mas pode ser também de Qualidade inferior.

Hoje existe um mercado crescente para Cafés de Qualidade que paga preços até superiores a 500% dos cafés "commodity". Porém, o café Orgânico raramente chega a obter 20% de ganho no valor. Em geral, quando a venda do produto baseia-se mais no marketing do Orgânico, nota-se que a qualidade é inferior. Temos que antes buscar o café de Qualidade, e o Orgânico é o 'bônus" que valoriza ainda mais o produto.

Apesar de produzirmos 100% de nossos cafés de forma Orgânica na FAF, somente vendemos/exportamos 15% com o Certificado Orgânico. Os nossos compradores ou alegam que não precisam, pois eles não têm a certificação de torragem e venda, ou alegam que os mercados que atuam não valorizam os produtos Orgânicos. Nossos compradores compram nossos cafés pela Qualidade e pagam bem por isso, o fato de serem Orgânicos e Sustentáveis vem de "bônus". Eles também precisam de ajuda na conscientização de seus consumidores para justificar um preço melhor pelo selo Orgânico.

Precisamos todos nos unir para divulgar e conscientizar o consumidor sobre o real valor do Café de Qualidade Orgânico. Nós na FAF, vamos continuar a produzir nossos cafés, e demais produtos, de forma Orgânica, pois esta é nossa filosofia de vida e nosso compromisso de deixar a FAF saudável para as próximas gerações. É de extrema importância que os produtos Orgânicos sejam associados com a Qualidade, pois é somente desta forma que o consumidor final poderá dar maior valor e assim concordar em pagar mais.

Necessitamos fazer um trabalho de divulgação para que essa conscientização seja feita em grande escala, pois a Agricultura Orgânica e o alimento Orgânico são de benefício de todos.

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