quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Produção de leite no Nordeste - Com irrigação, teremos voo de ave de arribação



Por Francisco Zuza de Oliveira 
postado há 1 dia atrás

Recentemente o MilkPoint publicou a matéria Produção de leite no Nordeste - um voo de galinha, texto que foi bem redigido e que expõe uma verdade incontestável sobre o semiárido nordestino. Muitos esquecem dos vários anos de chuva irregular, e desinformados histórica e tecnicamente, não conseguem mensurar os riscos reais de colapso na produção. Fato que atingirá a maioria das cadeias produtivas agropecuárias cultivadas em sequeiro (sem irrigação) quando a situação se repetir. Essa irregularidade das chuvas com quedas significativas na produção é o fato mais regular nesse Trópico, levando a economia rural a ser uma atividade muito difícil de ser planejada.

Uma economia agropecuária sujeita a essas irregularidades realmente tem pouca sustentabilidade, como negócio e até como atividade de subsistência, principalmente agora que o custo da subsistência é bem maior. Veja, o celular parece que também já faz parte da subsistência, mesmo no campo.

Por outro lado, o autor exagera um pouco, com análise dirigida, debitando ou correlacionando o fato das perdas na produção somente às ações políticas intempestivas dos políticos. O Brasil como um todo é culpado pelo Nordeste ter passado uns 300 anos com poucas escolas, e sem aulas adequadas, levando parte da população a ter pouca capacidade analítica e dificuldades em separar fatos de ilusões produtivas, principalmente os rurícolas que são as maiores vítimas.

Hoje as universidades e as escolas técnicas chegaram ao interior do Nordeste, formando gente mais capacitada para ocupar os novos agronegócios.

Hoje também já podemos destacar as muitas infraestruturas hídricas que, só nos últimos 20 anos foram implantados no NE, permitindo-nos a redirecionar a forma de produzir leite, grãos, frutas e fazendo uso da tecnologia da irrigação com competitividade e sustentabilidade. Por esse hiato temporal de ensino, falta gente preparada para esses novos agronegócios, que têm mais oportunidades do que riscos. Você que está preparado e tem dinheiro para investir, venha para o Ceará produzir leite e ganhar dinheiro!

Mesmo aqui no Ceará, até pouco tempo, muitos pecuaristas não conheciam as grandes possibilidades de produzir leite de forma competitiva nos perímetros públicos de irrigação.

O Semiárido nordestino com irrigação, é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores ambientes do mundo para produção de alimentos e leite, principalmente.

Parece que o homem só aprende, diante das dificuldades. O Nordeste sempre foi alvo das grandes secas e foram através das perdas econômicas e financeiras é que os governantes abriram os olhos (executando construções de barragens, etc.), assim como os produtores (que começaram a produzir de novas formas, com irrigação), e os industriais (que buscaram novas parcerias para disporem de matérias primas). Novas visões e melhores formas de agir obrigaram os envolvidos a saírem da zona de conforto ou do conforto obscuro.

Os resultados da produção de leite em pastejo rotacionado irrigado foram obtidos e validados pelo criador Luiz Prata Girão, da Fazenda Flor da Serra, em Limoeiro do Norte - CE. Tais dados já foram divulgados no MilkPoint, e hoje a fazenda produz 43.800 litros/ha/ano, 20. 000 litros/dia, com custo operacional médio de R$ 0,60/l e rentabilidade de 35%. Há vários outros produtores que apresentam bons resultados em sistemas irrigados de produção, mostrando que a produção irrigada de leite no Nordeste é competitiva e pode ser considerada um voo de ave de arribaçã.

Nessa seca de 2012, os sistemas irrigados de produção de leite no CE teve aumento na produção em torno de 30%. Temos até o exemplo do produtor Dico Carneiro, cuja produção saltou de 26.000 para 41.000 litros de leite/dia, com silagem de milho irrigado.

No novo Ceará, para enfrentar as secas que sempre virão,  há atualmente  2.500 Km em 81 rios perenizados através de 138 barragens construídas. (Há 20 anos atrás não tinha nenhum Km perenizado.) O cearense, em uma fala bairrista e com um orgulho pouco inteligente, diz que possui o maior rio seco do mundo – O Jaguaribe.

Para os próximos 20 anos, o Governo do Estado já começa implantar o Projeto Cinturão da Águas, com a construção de canais que perenizarão mais 1.500 km, deixando o Ceará com a maior rede de socialização das águas considerando todos os Estados do Nordeste. No futuro, terá água o Estado que tiver a melhor gestão hídrica e não aquele que tiver a maior quantidade.

Vale lembrar que nos Estados do Nordeste, há em torno de 140 mil hectares de terras com infraestrutura e água, implantadas pelo Governo Federal, prontas para irrigar, porém subutilizados ou paradas. Grande parte dessas terras poderia produzir leite em sistema irrigado com lucratividade e sustentabilidade. Os sistemas de produção de leite com irrigação já estão validados técnico, econômico e financeiramente.

Portanto, a agropecuária irrigada bem gerenciada é competitiva e sustentável. São nichos de negócios calculados por quem faz muita conta e tem na tecnologia e na gestão de pessoas, as principais ferramentas do negócio.

Em qualquer atividade agropecuária de sequeiro, no semiárido nordestino, as três piores atitudes de um produtor são: esperar pela chuva, esperar pelos políticos e pelos milagres, com vistas a ter segurança e rentabilidade na produção.
 

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