07.03.13 - Mundo
Ilustração: bomconselho.org
A espiritualidade cristã -sobre a qual refletimos no artigo anterior- é espiritualidade pascal, ou seja, espiritualidade que brota da vivência, sempre mais profunda e sempre mais envolvente, da Páscoa: o mistério do Cristo crucificado, sepultado e ressuscitado, que é o mistério do amor infinito de Deus para conosco.
De fato, a Páscoa ou o mistério pascal é o centro da vida dos cristãos/ãs e, do ponto de vista celebrativo, é o centro do ano litúrgico, no qual o tempo cronológico é transformado em tempo kairológico, que é o tempo da ação de Deus em favor do seu povo. Fazendo a memória, ou seja, tornando presente a Páscoa do Senhor na Eucaristia, participamos de seu mistério de morte e ressurreição.
A liturgia é a celebração do mistério pascal na vida e a celebração da vida no mistério pascal. Nessa celebração, "trata-se da recriação de nosso eu, adquirindo a forma de Jesus Cristo ressuscitado, segundo o Espírito de Deus. É processo lento e sofrido, e ao mesmo tempo alegre e esperançoso, que deverá durar até a nossa morte. Perfazendo seu próprio caminho pascal, cada pessoa está ao mesmo tempo participando e colaborando na Páscoa de todo o tecido social, de toda a realidade cósmica (cf. Rm 8, 18-25)) até à plena comunhão, quando Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15, 28)" (Ione Buyst. Viver o mistério pascal de Jesus Cristo ao longo do ano litúrgico: um caminho espiritual. Semana de Liturgia, São Paulo. outubro de 2002).
Viver a espiritualidade cristã como espiritualidade pascal significa viver o mistério pascal, ou seja, viver como Jesus viveu; morrer como Jesus morreu; ressuscitar como Jesus ressuscitou. E viver o mistério pascal significa fazer acontecer a Páscoa de Jesus -que é a nossa Páscoa- na vida pessoal, na história humana e no mundo todo, até à Páscoa definitiva, à plenitude do Reino de Deus, à plenitude da vida e da felicidade.
A Páscoa ou o mistério pascal, que é passagem da morte (e de tudo o que a morte significa) para a vida (vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito) é uma realidade dinâmica e processual, que -de maneira sempre mais integrada e integradora- perpassa e impregna a totalidade da existência humana na sociedade e no mundo.
A vida, para os que têm fé, é uma caminhada pascal. Enquanto estamos no mundo, sempre precisamos morrer a tudo o que está errado em nossa vida, sepultando os nossos pecados (o ser humano velho) e sempre precisamos ressuscitar para a vida nova em Cristo (o ser humano novo). "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em plenitude" (Jo 10,10).
A espiritualidade pascal é, pois, "espiritualidade da comunhão" (DA, 181, 307, 316); "espiritualidade da comunhão com todos os que crêem em Cristo” -comunhão ecumênica (DA, 189); e "espiritualidade da comunhão missionária"- com todos os seres humanos (DA, 203).
A alma da espiritualidade pascal é o Espírito Santo, o Amor de Deus, que nos faz mergulhar no mistério da Santíssima Trindade, nos torna testemunhas do Cristo Ressuscitado e nos compromete pessoalmente com o seu Projeto de Vida, que é o Reino de Deus, na sociedade e no mundo. A espiritualidade pascal é espiritualidade pentecostal (pneumatológica) e trinitária.
Os cristãos/ãs precisam experimentar, cada vez mais, a "dinâmica histórica do Espírito Santo". O Espírito Santo "é o fogo do amor que arde entre o Pai e o Filho. E esse fogo é Deus-amor divino que une as pessoas da Trindade. Esse mesmo amor está agindo, conforme a vontade das pessoas, também no cosmos inteiro".
Os cristãos/ãs tornam-se instrumentos para o agir do Espírito Santo na medida do seu compromisso em fazer acontecer a Páscoa, ou, em outras palavras, o Reino de Deus na sociedade e no mundo de hoje. Isso significa "transformar estruturas injustas em estruturas justas; transformar egoísmo em amor; converter mecanismos de opressão em solidariedade; comutar atitudes de poder em fraternidade”.
Por outro lado, "opor-se a tal transformação das estruturas significa tornar-se obstáculo ao agir do Espírito Santo, e isso ocorre também quando se tenta justificar tal oposição com argumentos religiosos. Tais atitudes o próprio Jesus já encontrou no seu tempo, e as suas advertências permanecem válidas para todas as épocas" (Renoldo J. Blank, A dinâmica histórica do Espírito Santo. Em: Vida Pastoral, janeiro-fevereiro de 2007, p. 7-8).
"Se nos amamos uns aos outros, Deus está conosco, e o seu amor se realiza plenamente entre nós. Nisto reconhecemos que permanecemos com Deus, e ele conosco: ele nos deu o seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. (...) Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4, 12-13, 16).
Aos discípulos e, hoje, a todos/as nós, Jesus prometeu: "O Espírito Santo descerá sobre vocês e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra” (At 1,8).
No próximo artigo -que é o último de uma série de quatro- refletiremos sobre a espiritualidade pascal como "espiritualidade do seguimento de Jesus”.
[Leia também o artigo: A espiritualidade como espiritualidade humana em:
http://www.dmdigital.com.br/novo/#!/view?e=20130224&p=21
http://www.dm.com.br/texto/94907-a-espiritualidade-como-espiritualidade-humana
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=73697http://www.brasildefato.com.br/node/12049)
e o artigo: A espiritualidade humana como "espiritualidade cristã”, em:
http://www.dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130302&p=19
http://www.dm.com.br/texto/97056-a-espiritualidade-humana-como-espiritualidade-crista
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=73868
http://www.brasildefato.com.br/node/12142)].
Goiânia, 06 de março de 2013.
Fr. Marcos Sassatelli
Frade Dominicano. Doutor em Filosofia e em Teologia Moral. Prof. na Pós-Graduação em DD.HH. (Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil/PUC-GO). Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arq. de Goiânia. Admin. Paroq. da Paróquia N. Sra. da Terra
Adital
Ilustração: bomconselho.org
A espiritualidade cristã -sobre a qual refletimos no artigo anterior- é espiritualidade pascal, ou seja, espiritualidade que brota da vivência, sempre mais profunda e sempre mais envolvente, da Páscoa: o mistério do Cristo crucificado, sepultado e ressuscitado, que é o mistério do amor infinito de Deus para conosco.
De fato, a Páscoa ou o mistério pascal é o centro da vida dos cristãos/ãs e, do ponto de vista celebrativo, é o centro do ano litúrgico, no qual o tempo cronológico é transformado em tempo kairológico, que é o tempo da ação de Deus em favor do seu povo. Fazendo a memória, ou seja, tornando presente a Páscoa do Senhor na Eucaristia, participamos de seu mistério de morte e ressurreição.
A liturgia é a celebração do mistério pascal na vida e a celebração da vida no mistério pascal. Nessa celebração, "trata-se da recriação de nosso eu, adquirindo a forma de Jesus Cristo ressuscitado, segundo o Espírito de Deus. É processo lento e sofrido, e ao mesmo tempo alegre e esperançoso, que deverá durar até a nossa morte. Perfazendo seu próprio caminho pascal, cada pessoa está ao mesmo tempo participando e colaborando na Páscoa de todo o tecido social, de toda a realidade cósmica (cf. Rm 8, 18-25)) até à plena comunhão, quando Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15, 28)" (Ione Buyst. Viver o mistério pascal de Jesus Cristo ao longo do ano litúrgico: um caminho espiritual. Semana de Liturgia, São Paulo. outubro de 2002).
Viver a espiritualidade cristã como espiritualidade pascal significa viver o mistério pascal, ou seja, viver como Jesus viveu; morrer como Jesus morreu; ressuscitar como Jesus ressuscitou. E viver o mistério pascal significa fazer acontecer a Páscoa de Jesus -que é a nossa Páscoa- na vida pessoal, na história humana e no mundo todo, até à Páscoa definitiva, à plenitude do Reino de Deus, à plenitude da vida e da felicidade.
A Páscoa ou o mistério pascal, que é passagem da morte (e de tudo o que a morte significa) para a vida (vida nova em Cristo, vida segundo o Espírito) é uma realidade dinâmica e processual, que -de maneira sempre mais integrada e integradora- perpassa e impregna a totalidade da existência humana na sociedade e no mundo.
A vida, para os que têm fé, é uma caminhada pascal. Enquanto estamos no mundo, sempre precisamos morrer a tudo o que está errado em nossa vida, sepultando os nossos pecados (o ser humano velho) e sempre precisamos ressuscitar para a vida nova em Cristo (o ser humano novo). "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em plenitude" (Jo 10,10).
A espiritualidade pascal é, pois, "espiritualidade da comunhão" (DA, 181, 307, 316); "espiritualidade da comunhão com todos os que crêem em Cristo” -comunhão ecumênica (DA, 189); e "espiritualidade da comunhão missionária"- com todos os seres humanos (DA, 203).
A alma da espiritualidade pascal é o Espírito Santo, o Amor de Deus, que nos faz mergulhar no mistério da Santíssima Trindade, nos torna testemunhas do Cristo Ressuscitado e nos compromete pessoalmente com o seu Projeto de Vida, que é o Reino de Deus, na sociedade e no mundo. A espiritualidade pascal é espiritualidade pentecostal (pneumatológica) e trinitária.
Os cristãos/ãs precisam experimentar, cada vez mais, a "dinâmica histórica do Espírito Santo". O Espírito Santo "é o fogo do amor que arde entre o Pai e o Filho. E esse fogo é Deus-amor divino que une as pessoas da Trindade. Esse mesmo amor está agindo, conforme a vontade das pessoas, também no cosmos inteiro".
Os cristãos/ãs tornam-se instrumentos para o agir do Espírito Santo na medida do seu compromisso em fazer acontecer a Páscoa, ou, em outras palavras, o Reino de Deus na sociedade e no mundo de hoje. Isso significa "transformar estruturas injustas em estruturas justas; transformar egoísmo em amor; converter mecanismos de opressão em solidariedade; comutar atitudes de poder em fraternidade”.
Por outro lado, "opor-se a tal transformação das estruturas significa tornar-se obstáculo ao agir do Espírito Santo, e isso ocorre também quando se tenta justificar tal oposição com argumentos religiosos. Tais atitudes o próprio Jesus já encontrou no seu tempo, e as suas advertências permanecem válidas para todas as épocas" (Renoldo J. Blank, A dinâmica histórica do Espírito Santo. Em: Vida Pastoral, janeiro-fevereiro de 2007, p. 7-8).
"Se nos amamos uns aos outros, Deus está conosco, e o seu amor se realiza plenamente entre nós. Nisto reconhecemos que permanecemos com Deus, e ele conosco: ele nos deu o seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. (...) Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4, 12-13, 16).
Aos discípulos e, hoje, a todos/as nós, Jesus prometeu: "O Espírito Santo descerá sobre vocês e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra” (At 1,8).
No próximo artigo -que é o último de uma série de quatro- refletiremos sobre a espiritualidade pascal como "espiritualidade do seguimento de Jesus”.
[Leia também o artigo: A espiritualidade como espiritualidade humana em:
http://www.dmdigital.com.br/novo/#!/view?e=20130224&p=21
http://www.dm.com.br/texto/94907-a-espiritualidade-como-espiritualidade-humana
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=73697http://www.brasildefato.com.br/node/12049)
e o artigo: A espiritualidade humana como "espiritualidade cristã”, em:
http://www.dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130302&p=19
http://www.dm.com.br/texto/97056-a-espiritualidade-humana-como-espiritualidade-crista
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=73868
http://www.brasildefato.com.br/node/12142)].
Goiânia, 06 de março de 2013.
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