247 - Responsável pela cobertura do Poder Judiciário para o jornal Estado de S. Paulo, o jornalista Felipe Recondo tinha uma pergunta a fazer ao ministro Joaquim Barbosa na última segunda-feira. Queria saber como o presidente do Supremo Tribunal Federal encarava a duríssima nota publicada por três associações de magistrados, que classificaram a conduta do ministro como "superficial" e "desrespeitosa" (leia mais
aqui). Barbosa havia dito que os juízes brasileiros têm uma mentalidade pró-impunidade e, por isso mesmo, recebeu a nota dos juízes como resposta. O fim da história é conhecido. Recondo nem conseguiu terminar sua questão e foi chamado de "palhaço" pelo chefe do Poder Judiciário, que também determinou que ele continuasse a "chafurdar no lixo" – o repórter vinha apurando uma reportagem sobre mordomias no STF.
Joaquim Barbosa, como também é sabido, não se desculpou de maneira correta. Soltou apenas uma nota genérica falando de seu apreço pela imprensa e atribuiu seus excessos verbais às "dores nas costas". No entanto, o ministro também agiu nos bastidores. Solicitou que assessores procurassem a direção do Estado de S. Paulo e transmitissem a mensagem de que o jornal não tem mais um bom diálogo no STF – na prática, o ministro, que já havia colocado na geladeira a repórter Mariângela Galucci, também do Estadão, pediu a cabeça de Recondo (leia mais
aqui).
O resultado prático está na edição deste domingo do Estado de S. Paulo e o jornal quatrocentão da família Mesquita, hoje comandado por Francisco Mesquita Neto e dirigido pelo jornalista Ricardo Gandour, decidiu se curvar – ao menos, parcialmente – à pressão de Barbosa. No editorial "Magistratura dividida", que circula na edição deste domingo, o jornal sai em defesa justamente do personagem que agrediu seu profissional. Na prática, o Estadão escolheu o pior momento possível, e o dia em que tem maior leitura, para defender, mais uma vez, Joaquim Barbosa. "As críticas das associações de juízes ao ministro Joaquim Barbosa são injustas. Ao dirigente máximo do Judiciário cabe defender os interesses maiores da instituição, e não ser porta-voz dos interesses corporativos daqueles que a integram".
Recondo, portanto, nem precisa mais insistir em perguntar ao ministro Joaquim Barbosa como ele encara as críticas dos juízes. O Estadão comprou a versão do presidente do STF e respondeu por ele. A nota é fruto de interesses corporativos dos membros do Judiciário, que estão sendo corrigidos pelo anjo vingador Joaquim Barbosa. Para o jornalista e militante político Emiliano José, há uma outra explicação. "Depois de endeusar o ministro Barbosa, que foi o Torquemada do PT, a alternativa que resta ao Estadão é defendê-lo em qualquer circunstância", afirma. Mesmo quando o próprio Estadão é atacado.
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