Ricardo Zúniga García
Colaborador de Adital. Educador nicaraguense. Analista político
Adital
Tradução: ADITAL
"Los que mueren por la Vida, no pueden llamarse muertos”Alí Primera, cantautor popular venezolano.
Sem dúvida alguma, a prática social, pedagógica, política alentada e conduzida por Hugo Chávez, tecida pacientemente por seu movimento V República tem sido capaz de gerar e organizar um projeto político venezuelano com dimensões latino-americanas, que transformou profundamente a vida do povo venezuelano e sua perspectiva histórica rumo ao futuro. Também tem sido estímulo e apoio consistente de outros processos de autodeterminação e de transformação social em vários países latino-americano (Argentina, Bolívia, Equador, Nicarágua e outros).O movimento político animado por Chávez, nutrindo-se de uma profunda e autêntica relação com seu povo conseguiu, com muita habilidade, convocando às grandes maiorias descontentes, para entrar em um jogo político-eleitoral da democracia formal "representativa” e ganhar o poder do Estado (Executivo e Legislativo). Pouco a pouco, foi fortalecendo sua capacidade de poder real, propondo e promulgando uma nova Constituição e, simultaneamente, recuperando para o povo venezuelano o controle efetivo de seus bens naturais (petróleo, ferro e outros). Nesse caminhar, teve decisiva importância o crescimento da consciência política popular expressada na vitoriosa resistência ao golpe empresarial militar de abril de 2002, a coesão de exército em torno aos interesses da nação e a recuperação efetiva da maior empresa do país, Petróleos de Venezuela (Pdvsa).
Quando o poder político exercido pelo movimento de Chávez começa a operar mudanças sociais significativas, gera uma reação dos grupos econômicos dominantes com a participação de um setor do exército, inspirados e apoiados pela administração Bush, desencadeando o golpe de Estado de 11 de abril de 2002, acontece um verdadeiro divisor de águas na vida do país. O povo organizado protagoniza jornadas de extraordinária mobilização, na contra mão da desinformação das grandes cadeias de Radio e TV, com o respaldo decisivo do setor majoritário das Forças Armadas, consegue resgatar Chávez das mãos dos militares traidores e o reinstalam no Palácio de Miraflores, para que continue seu mandato presidencial.
Pelo menos em dez eleições (presidenciais, de governadores, referendos), o movimento de Chávez, a partir de sua vitória, em 1998, desafiando o poder das oligarquias e seus aliados internacionais, é reconfirmado pelo voto popular. Somente em uma ocasião perde um referendo (para aprovar reformas constitucionais) por uma diferença inferior a 0.6% da votação, e, mesmo assim, acatou sem vacilar o veredito popular.
O sustentado avanço eleitoral do movimento chavista tem sido um estímulo para que em outros países latino-americanos, setores populares organizados se fortaleçam e consigam ir conquistando reais espaços de poder, ganhando sucessivos processos eleitorais, a partir da conscientização e a mobilização popular. Assumindo uma nova forma de relacionar-se com o povo, com lideranças políticas de caráter popular, vão tecendo construindo formas de democracia que conseguem expressar os anseios profundos e interesses das maiorias empobrecidas; ir conquistando de maneira clara e em ritmo razoável reivindicações vitais, direitos sociais, resgatando o orgulho de ser povos venezuelano-latino-americanos, herdeiros de Bolívar, de Martí e de Sandino.
O exemplo de que foi possível resgatar as formas democráticas eleitorais tradicionais, foi revivido na Bolívia, na Nicarágua e no Equador, em sucessivas lutas eleitorais que confirmaram a liderança de grupos populares, mostrando que é possível e viável criar novas estruturas democráticas por vias pacíficas, sempre que se fortaleça a organização popular para defender o alcançado e continuar avançando.
Em outros países, apesar de que não se alcançou o controle efetivo da estrutura do Estado para a defesa dos interesses populares, os movimentos sociais avançaram significativamente; mostra disso, entre outros, são os casos da Argentina, do Peru, do Paraguai, de El Salvador e de Honduras.
O governo de Chávez consegue desenvolver uma dinâmica de pagamento da dívida social acumulado em séculos de colonialismo e de injustiças estruturais, e transformar a Venezuela de ser uma espécie de "emirado petroleiro” de magnatas hiperconsumistas, no segundo país menos desigual do continente, erradicando o analfabetismo, promovendo acesso à saúde para todos e colocando em marcha a transformação da matriz produtiva do país. Consegue mudar o rosto do país e começar a transformar as estruturas injustas; isso foi possível graças à decisão política do chavismo de enfrentar o controle da maquinaria midiática ao serviço do grande capital.
Sua grandeza se fundamenta em sua coerência com o Projeto de Bolívar, que queria "a maior soma de felicidade possível” não só para a Venezuela. O que sonhava para seu povo buscava também com a mesma intensidade para todos os povos da América Latina e do Caribe. Nessa linha, Chávez, juntamente com Fidel Castro, propõe, em dezembro de 2004, a "Alternativa Bolivariana Para os Povos de Nossa América”, depois renomeada para Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), que convoca governos e povos contrapostos ao imperialismo, a construir uma aliança baseada na complementaridade, na solidariedade, no profundo respeito à dignidade de seus povos. Sem dúvida, o estadista Chávez foi o mais comprometido e dinâmico impulsionador da integração e da unidade latino-americanas expressadas na construção da Unasul e da Celac e, além de nosso continente fortaleceu relações com a China, com a Rússia e com outros países, para alcançar um mundo realmente multipolar e com vigência dos princípios do direito internacional.
É impossível resenhar todas as iniciativas transformadoras do fenômeno político Chávez. Quero apenas destacar alguns elementos que caracterizam sua contribuição à humanidade e ao povo latino-americano, em particular:
- Sua inquebrantável fidelidade ao povo empobrecido, em cujo seio surgiu, colocando todos seus dotes pessoais a seu serviço. Fidelidade que passa por uma profunda generosidade para pôr sua pessoa a serviço de seu povo e partilhar com profunda convicção de justiça, os grandes bens naturais da Venezuela, com os empobrecidos da América Latina e Caribe.
- Sua autêntica dedicação ao projeto bolivariano de uma América Latina e Caribenha unida, autodeterminada e construtora de relações sociais justas e de maiores espaços de liberdade para todos e todas.
- Sua lucidez sobre a necessidade de defender a Revolução Bolivariana, fortalecendo simultaneamente a organização política e a capacidade de defesa militar, recorrendo para isso às atuais tecnologias defensivas e insistindo na unidade e na disciplina do povo para a defesa de seu projeto.
- Sua visão estratégica de longo alcance permitiu-lhe, tanto em âmbito nacional quanto internacional, impulsionar mudanças políticas com audácia e firmeza. Nunca se refugiou no conformismo de buscar somente "o possível”. Chamou as coisas e os conflitos por seu nome; enfrentou as crises com firmeza; porém, soube baixar o ritmo e consolidar forças, quando o auge do perigo impunha uma pausa, como aconteceu em relação á instalação de novas bases militares norte-americanas na Colômbia. Diante dessa situação, propiciou um arranjo político com o governo de Santos, conseguindo o congelamento de novas bases militares nesse território.
Por seu trabalho histórico, empregando esforço e flexibilidade política na constituição de uma instância ideologicamente plural, como a Celac, que avança lentamente, mas com solidez em acordos básicos como a afirmação da soberania dos países latino-americanos, o compromisso de assumir seriamente a erradicação da pobreza extrema e a afirmação de que os conflitos surgidos em Nossa América devem ser resolvidos pelos latino-americanos, sem ingerência intervencionista imperial; demonstrou grande maturidade política, contradizendo na prática a imagem de intolerante apresentada reiteradamente pelos grandes meios de imprensa a serviço da hegemonia da aliança Otan.
Massivas manifestações populares em muitos países latino-americanos têm demonstrado durante várias semanas com muita força que o espírito e o pensamento de Chávez vivem no coração dos povos, em sua força organizada e transformadora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário