Qualquer lista de “melhores cafés” de Buenos Aires será, inevitavelmente, arbitrária, subjetiva e absolutamente incompleta. Os 10 mil cafés* espalhados pelos 13 mil quarteirões da cidade explicam isso.
A paixão bonaerense pelo néctar negro é tão grande quanto a brasileira, mas há diferenças e a principal talvez seja o tipo de “templo” onde esse “culto” é realizado. Os cafés de Buenos Aires – e também de Montevideu – são um aspecto muito peculiar da cultura herdada do Velho Mundo. Seja na arquitetura, seja no hábito dos encontros marcados ou dos refúgios individuais, seja nos itens do cardápio, é inegável a influência européia neste circuito das duas cidades portenhas.
De 2011 para cá, perdi a conta de quantas vezes estive pelas bandas de lá. Nas quatro estações do ano, das 8h da manhã às 3h da madrugada, em mais de 15 bairros, creio que visitei pelo menos 50 cafés. Seguem alguns dos meus preferidos, sem qualquer pretensão de comporem uma lista de “melhores”.
*Segundo Ariel Palácios em “Os argentinos” (Contexto, 2013, 368p).
PS: Para conhecer mais sobre os cafés de Buenos Aires, a melhor fonte é o blog Café Contado (http://cafecontado.com), de Carlos Cantini. E a lista completa dos 54 cafés/bares notáveis está disponível aqui: http://www.54bares.com.ar/todos-los-bares/
PS2: Clique nas fotos para ampliá-las.
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1. La Poesia (Chile 502, San Telmo – esquina com Bolívar): delícia de ambiente, com uma luz única, que justifica o nome. Cardápio para o desjejum, almoço e jantar, além de um chope artesanal (cerveza rubia, roja ou negra) encorpado e inesquecível. À noite, de vez em quando, jam session de piano ao vivo. Definitivamente, o meu preferido. Fica a cinco quadras da estação Independencia (linhas C e E do metrô). Abre diariamente às 8h e não tem hora para fechar.
Já escrevi algumas coisas por lá:
Café La Poesia (fotos: Rogério Tomaz Jr.)
2. El Federal (Carlos Calvo esquina com Peru, em San Telmo): fundado em 1864 (!!!), pertence ao mesmo grupo do La Poesia e ambos estão entre os “Cafés Notables” que recebem apoio da prefeitura para manter a tradição e a qualidade. Bem parecido com o irmão mais jovem, porém mais agitado. O cardápio é basicamente o mesmo, com alguns acréscimos, como as minipizzas, bem apetitosas. O imenso e antigo balcão é um chamariz à parte. Foi o lugar onde mais vezes estive em Buenos Aires. Está situado a seis quadras da estação Independencia do metrô. Também abre todos os dias das 8h até o último cliente (já fui esse sujeito algumas vezes). Site:http://barelfederal.com.ar/
Bar El Federal (Foto: Rogério Tomaz Jr.)
3. Bar Britânico (Av. Brasil esquina com Defensa, San Telmo): um dos mais antigos (1928) da cidade, chegou a ser fechado e reabriu as portas por pressão popular. Muita história, como mostram as fotos (durante a Guerra das Malvinas, na placa da fachada se lia apenas “Bar Tânico” para evitar qualquer confusão). Cardápio limitado, mas o ambiente é gostoso, leve e nostálgico. Com o Parque Lezama na frente, é um belo lugar para ver o dia passar. Lá também foi rodada uma cena do filme “Diários de Motocicleta”. Fica a dez quadras da estação San Juan (linha C) do metrô e abre de segunda a sábado das 6h até a meia-noite.
Bar Británico (Fotos: Rogério Tomaz Jr.)
4. Coffee Town (o quisque bem no centro do Mercado de San Telmo, na esquina da Bolívar com a Carlos Calvo): a “Meca” para os degustadores do grão, com cafés de catorze países (Ilha de Java, Papua Nova Guiné, Etiópia, Sumatra, Burundi, Índia, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e outros países da América Central e África) que pode ser experimentados nos mais diversos métodos de preparo (espresso, cafeteira italiana, êmbolo francês, aeropress e o tradicional café coado). Se você gosta de verdade do produto e não tem pudor de pagar um pouco mais caro por isso, esse é o lugar imperdível! O Mercado de San Telmo fica a sete quadras da estação Independencia.
Coffee Town, uma jóia no mercado (Fotos: Rogério Tomaz Jr.)
5. Los Galgos (Av. Callao esquina com Lavalle, bairro San Nicolás, entre centro e Recoleta): fundado em 1930 – “mais antigo que o Obelisco” – e ainda hoje com o estilo original, é inevitável a sensação de voltar 40, 50 anos no tempo. É como se universo lá dentro funcionasse em câmera lenta. Um quadro antigo no fundo do sóbrio salão imortaliza o garçon careca que ainda hoje serve pelas manhãs. O cardápio é básico, mas tanto a comida quanto o café são muito bons. Situado a uma quadra da estação Callao (linha B, não confundir com a estação Callao da linha D, que fica a 3 quadras do local). Aberto de segunda a sexta, das 6h às 20h.
Los Galgos (Fotos: Rogério Tomaz Jr.)
6. Libros del Pasaje (Thames 1762, esquina com Costa Rica, Palermo): fora de San Telmo, é o meu favorito. Livraria com ambiente acolhedor e cardápio muito bem elaborado para um lanche de qualidade, porém com poucas opções de almoço ou jantar. Uma das melhores opções da cidade para comprar (e ler) livros de todo tipo, escrever, descansar de uma caminhada ou planejar o próximo passeio. Fica a oito quadras da estação Plaza Italia (linha D) do metrô e funciona de segunda a sábado das 10h às 22h e aos domingos e feriados das 14h às 21h. Site:http://www.librosdelpasaje.com.ar/
Libros del Pasaje (Fotos: Rogério Tomaz Jr.)
7. Eterna Cadencia (Honduras 5574, esquina com Fitz Roy, Palermo): outra livraria-café que adoro, especialmente o terraço superior, perfeito para os dias frescos e luminosos. Destaque também para as saletas silenciosas com sofás ultraconfortáveis para você relaxar numa leitura (ou numa prosa) sem pressa. A excelente carta inclui um mojito de nível cubano, boas opções de vinho, comida variada e cafés de qualidade superior. Localizado a oito quadras da estação Dorrego (linha B) do metrô, abre de segunda a sexta das 11h30 às 21h e sábados de 11h30 às 20h. Site:http://www.eternacadencia.com/
Eterna Cadencia (Fotos: Sarmale / Olga, Aya Padrón e Rogério Tomaz Jr.)
8. Porota (Gorriti 5881, Palermo, entre Emilio Ravignani e Carranza): além de um espresso saborosíssimo, esse é O LUGAR para você provar algumas das coisas doces mais inesquecíveis da sua vida. Sem mais. Aberto de segunda a sexta das 8h às 20h e sábados das 11h às 18h, está situado a quatro quadras da estação Dorrego (linha B) do metrô. Site: http://porota.com/
Porota, paraíso doce (Fotos: porota.com)
9. Ateneo (Av. Santa Fé 1860, entre Callao e Riobamba, bairro Norte). A visita à livraria considerada a segunda mais linda do mundo é obrigatória e uma passada pelo ótimo café, que fica exatamente no palco do antigo teatro, completa o passeio. Fica a quatro quadras da estação Callao (linha D) do metrô e abre de segunda a quinta das 9h às 22h, sexta e sábados das 9h às 0h e domingos das 12h às 22h.
Ateneo, onde você toma café no palco (Fotos: Rogério Tomaz Jr.)
10. Confiteria London City (Av. de Mayo, 599, perto da Plaza de Mayo). Nas suas mesas o grande Julio Cortázar escreveu seu romance inaugural (“Os prêmios”, 1960). A comida é decoração cativa, assim como a iluminação, com muita luz natural atravessando as amplas janelas nos dias ensolarados. Menos badalado do que o quase vizinho Tortoni, porém sem o burburinho dos turistas e com o Cortázar te observando. Fica ao lado da entrada da estação Perú, linha A do metrô.
London City (Fotos: Wally Gobetz, Rosalie Smith e Isabel E.)
11. Café Tortoni (Av. de Mayo, 825). Lugar repleto de turistas onde você certamente ouvirá mais o português do que a língua nativa, mas vale a pena a visita pela beleza e pela história de mais de 150 anos. E se você nunca esteve em Buenos Aires, pode até curtir o show de tango que dura cerca de uma hora todas as noites (o ingresso precisa ser comprado com antecedência). O cardápio é bom e, para quem gosta da literatura local, é deveras interessante estar num local que teve Borges e Bioy Casares como clientes assíduos. A duas quadras da estação Peru (linha A) do metrô, abre de segunda a sábado das 8h às 3h30 e aos domingos das 8h até 1h da madrugada. Site: http://www.cafetortoni.com.ar/
Tortoni (Fotos: Rogério Tomaz Jr.)
12. Origen Café (Humberto Primo 599, esquina com Peru). Mais um bistrô e bar do que café, o Origen entra na lista por três motivos: a excelente qualidade dos cafés (tanto o espresso quanto o cappuccino e os especiais), o lugar (uma das mais interessantes esquinas de San Telmo, “La Esquina de las Flores”, com as mesas na calçada) e o ambiente interno, muito, mas muito gostoso. De bônus, você pode ter a chance de ser atendido por uma sósia da Cléo Pires. Fica a sete quadras da estação Independencia do metrô e a duas quadras da Plaza Dorrego, centro da famosa Feira de San Telmo.
Origen Café (Fotos:
13. Martinez (é uma rede internacional e a loja que mais gosto é na Callao com Lavalle, na frente do Los Galgos). Sanduíches que valem por uma boa refeição em tamanho e qualidade, além de cafés de vários países e estilos. Estilo meio modernoso, mas aconchegante. Site: http://www.cafemartinez.com/
Café Martinez (Foto: Rogério Tomaz Jr.)
Para conhecer mais sobre os cafés de Buenos Aires, a melhor fonte é o blog Café Contado (http://cafecontado.com), de Carlos Cantini. E a lista completa dos 54 cafés/bares notáveis está disponível aqui: http://www.54bares.com.ar/todos-los-bares/
Por fim, seria ótimo receber comentários com sugestões, críticas, contos e relatos sobre estes e outros cafés que você tenha conhecido em Buenos Aires, Montevideu (em breve um post sobre os cafés de lá) ou qualquer outro canto do mundo.
Fonte: Conexão Brasília Maranhão- See more at: http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=51964#sthash.XSO1R1nA.dpuf
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