quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

CAMINHO DE TATU


No meio rural o produtor sabe que uma boa colheita tem de somar uma série de fatores e situações. Ter terra boa, preparada e cuidada, para receber semente de qualidade que vá render outras sementes e depois novos plantios e novas colheitas.
Um fato que ilustra esta situação se passou em 1963, em Rio Novo do Sul, sob liderança do padre jesuíta italiano João Confa, que viu a situação precária no meio rural do ponto de vista de produção e de organização, começa a agir em parceria elementos de sua paróquia.
É preciso lembrar que o Brasil vivia em 1963 uma grande movimentação política que resultou no golpe militar de 1964. É nesta época a erradicação dos cafezais no Espírito Santo, que acelerou o êxodo rumo às cidades e para Rondonia e Pará. Hoje podemos olhar o passado e entender o que aconteceu. A desorganização do meio rural capixaba.
O padre Confa percebeu que sem organização e participação da população rural, pouco ou nada eles conquistariam na saúde, estradas e uma vida digna que os incentivasse a permanecer no campo. O produtor rural e filosofo João Martins, lá de Cachoeirinha, Rio Novo do Sul, participou com o Padre Confa, me fez um relato interessante do ambiente da época.
Numa reunião de planejamento surgiu uma  ida a comunidade de Palmeiras na casa do agricultor Betinho. Quando o Padre Confa disse que em determinado ponto eles tomariam a estrada para Palmeiras, foi surpreendido. O agricultor Betinho levantou-se e foi direto:
- O senhor está errado, para chegar até a minha casa não se pega nenhum estrada, lá não temos estrada. Nós temos é um caminho de tatu.
Segundo João Martins, foi um momento que ele guarda na memória: pela primeira vez um produtor falava e se manifestava. Era o sinal de que o trabalho realizado para se ter consciência crítica dava o primeiro fruto, um agricultor falou.
Neste clima nasce a Escola Família Agrícola/EFA, do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo – MEPES, pela ação de outro jesuíta italiano, Padre Humberto Pietrogrande. A primeira surge em 1968 em Olivânia/Anchieta, depois em 1969 em Rio Novo do Sul e Alfredo Chaves. Um somatório de ações de pessoas com visão social. Agricultores que perceberam que o modelo que estava em curso, jogar as pessoas para o meio urbano não daria bons resultados. Hoje sentimos a realidade ao consultar as estatísticas econômicas e sociais.
 Enquanto um grupo se preparava na Itália, aqui no Estado outro grupo agia pelo interior da região sul do Estado, nos municípios de Iconha, Anchieta e Rio Novo do Sul. Agiam de forma a preparar o terreno para receber a EFA, a nova semente da educação. Eles iam buscar parceiros e que seriam os beneficiários da ação que tinha na sua filosofia a solidariedade e a liberdade.
A EFA nasce no Sul do Estado e segue para o Norte, no rastro da Igreja Católica liderada pelo padre italiano Aldo Luchetta. Hoje são EFAs em São Mateus, Nova Venecia, Boa Esperança, Marilandia, Jaguaré, Rio Bananal, São Gabriel da Palha e Pinheiros. Padre Aldo por problemas políticos em São Mateus foi transferido para a Bahia, levando a idéia e a semente da EFA. Mas este assunto fica para mais adiante.
Uma marca importante é a chegada da EFA na região da colônia Alemã protestante luterana de Domingos Martins e Santa Maria do Jetibá. É o Ecumenismo tão falado, mas que com a EFA teve a sua versão prática e real. São outros caminhos de tatu.  Mas este assunto também fica para outra ocasião. O caminho de tatu do seu Betinho foi e é um marco histórico.

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