Justiça francesa decide investigar morte de Yasser Arafat
A morte de Yasser Arafat, ocorrida em 2004, no hospital militar de Percy de Clamart, sempre esteve cercada de mistério. A Justiça francesa decidiu iniciar uma investigação para determinar os fatores que resultaram na morte, depois que a viúva do líder palestino apresentou queixa por “assassinato”. Instituto suíço descobriu quantidades anormais de polônio, substância radioativa mortal, em restos de Arafat. O artigo é de Eduardo Febbro.
Eduardo Febbro - Paris
Paris - Uma substância mortal comum ronda os cadáveres de dois personagens distintos: o espião russo Alexandre Litvinenko, envenenado em Londres em 2006, e o falecido líder da Autoridade Palestina, Yasser Arafat. Sabe-se com certeza que Litvinenko – que passou de espião a opositor – foi envenenado com polônio, uma substância radioativa altamente tóxica. A morte de Yasser Arafat, ocorrida em 11 de novembro de 2004, no hospital militar de Percy de Clamart, nos arredores de Paris, sempre esteve cercada de mistério. A Justiça francesa deu um passo agora, talvez, na direção da verdade. O tribunal de Nanterre decidiu iniciar uma investigação para determinar os fatores que resultaram na morte de Arafat, depois que, no final de julho, a viúva do líder histórico dos palestinos, Suha Arafat, apresentou uma queixa por “assassinato”.
As provas que cercaram a morte de Arafat entre muitas dúvidas foram se acumulando ao longo dos anos, mas somente há dois meses surgiram os primeiros detalhes tangíveis. O Instituto de Radiofísica de Lousane, na Suíça, analisou os restos biológicos que a viúva entregou e descobriu que na roupa, na escova de dentes e no keffieh (lenço usado na cabeça) de Arafat havia quantidades “anormais de polônio”.
Yasser Arafat chegou a se tratar na França em condições dramáticas. Bloqueado durante três anos pelo exército israelense em seu quartel general de Ramallah – a Muqata’a – o chefe palestino sofreu uma repentina e poderosa enfermidade que jamais foi identificada. Sua viagem a França não melhorou seu estado, pelo contrário. “Me disseram que não se sabia a causa da morte de Arafat”, disse a esposa do líder palestino ao diário Le Figaro. Ela passou anos buscando os elementos de privas mas estes nunca apareciam. Segundo explicou no final de julho ao mesmo jornal, foram “destruídas as mostras de urina e de sangue há quatro anos”. Ainda que, politicamente, nada assegure que a morte de Arafat fosse conveniente para Israel, os dirigentes palestinos sempre estiveram convencidos de que seu chefe havia sido assassinado.
Naquele período, Arafat estava em um momento político delicado: sitiado por Israel e pressionado pelos extremistas das brigadas dos mártires de Al Aksa – foram responsáveis pela onda de atentado dos anos 2000 – Arafat viu seu crédito político despencar. Sua morte, contudo, nunca ficou cientificamente explicada. Os dirigentes palestinos saudaram a decisão da Justiça francesa. O atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, pediu ao chefe do Estado francês, François Hollande, “ajuda para investigar as circunstâncias do martírio do presidente Arafat”.
As pesquisas científicas se completaram agora com o exame do corpo de Arafat. Sua viúva autorizou o Instituto de Radiofísica de Lousane a examinar os restos do líder palestino. O corpo de Arafat repousa na Muqata’a. Quando o enterraram na direção de Meca, segundo a tradição dos sunitas, os imãs puseram no ataúde bolsas de terra provenientes da Esplanada das Mesquitas, de Jerusalém, que era onde Arafat queria ser enterrado. Mas o então primeiro ministro israelense, Ariel Sharon, se negou a conceder a ele essa última vontade. Os especialistas são céticos quanto à hipótese do envenenamento com polônio. No entanto, tudo o que cerca a morte de Arafat é duvidoso: desde o malabarismo verbal dos médicos do hospital, que não sabiam o que dizer, passando pela súbita piora de seu estado de saúde, até o fato de que jamais foi realizada uma autópsia.
Ao longo de duas semanas de hospitalização, Arafat perdeu três quilos e a porcentagem de suas plaquetas sanguíneas passou de 177 mil para 72 mil por milímetros cúbicos. Foi diagnosticada uma “coagulação vascular disseminada severa”. Os médicos fizeram muitos exames, incluindo os radioativos, mas nada foi encontrado de “anormal”. No entanto, por seu caráter raro, não se buscou saber se havia polônio no corpo. O mistério ficou no ar e, com ele, as dúvidas, os rumores e as especulações sobre as causas exatas de sua morte.
Tradução: Katarina Peixoto
As provas que cercaram a morte de Arafat entre muitas dúvidas foram se acumulando ao longo dos anos, mas somente há dois meses surgiram os primeiros detalhes tangíveis. O Instituto de Radiofísica de Lousane, na Suíça, analisou os restos biológicos que a viúva entregou e descobriu que na roupa, na escova de dentes e no keffieh (lenço usado na cabeça) de Arafat havia quantidades “anormais de polônio”.
Yasser Arafat chegou a se tratar na França em condições dramáticas. Bloqueado durante três anos pelo exército israelense em seu quartel general de Ramallah – a Muqata’a – o chefe palestino sofreu uma repentina e poderosa enfermidade que jamais foi identificada. Sua viagem a França não melhorou seu estado, pelo contrário. “Me disseram que não se sabia a causa da morte de Arafat”, disse a esposa do líder palestino ao diário Le Figaro. Ela passou anos buscando os elementos de privas mas estes nunca apareciam. Segundo explicou no final de julho ao mesmo jornal, foram “destruídas as mostras de urina e de sangue há quatro anos”. Ainda que, politicamente, nada assegure que a morte de Arafat fosse conveniente para Israel, os dirigentes palestinos sempre estiveram convencidos de que seu chefe havia sido assassinado.
Naquele período, Arafat estava em um momento político delicado: sitiado por Israel e pressionado pelos extremistas das brigadas dos mártires de Al Aksa – foram responsáveis pela onda de atentado dos anos 2000 – Arafat viu seu crédito político despencar. Sua morte, contudo, nunca ficou cientificamente explicada. Os dirigentes palestinos saudaram a decisão da Justiça francesa. O atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, pediu ao chefe do Estado francês, François Hollande, “ajuda para investigar as circunstâncias do martírio do presidente Arafat”.
As pesquisas científicas se completaram agora com o exame do corpo de Arafat. Sua viúva autorizou o Instituto de Radiofísica de Lousane a examinar os restos do líder palestino. O corpo de Arafat repousa na Muqata’a. Quando o enterraram na direção de Meca, segundo a tradição dos sunitas, os imãs puseram no ataúde bolsas de terra provenientes da Esplanada das Mesquitas, de Jerusalém, que era onde Arafat queria ser enterrado. Mas o então primeiro ministro israelense, Ariel Sharon, se negou a conceder a ele essa última vontade. Os especialistas são céticos quanto à hipótese do envenenamento com polônio. No entanto, tudo o que cerca a morte de Arafat é duvidoso: desde o malabarismo verbal dos médicos do hospital, que não sabiam o que dizer, passando pela súbita piora de seu estado de saúde, até o fato de que jamais foi realizada uma autópsia.
Ao longo de duas semanas de hospitalização, Arafat perdeu três quilos e a porcentagem de suas plaquetas sanguíneas passou de 177 mil para 72 mil por milímetros cúbicos. Foi diagnosticada uma “coagulação vascular disseminada severa”. Os médicos fizeram muitos exames, incluindo os radioativos, mas nada foi encontrado de “anormal”. No entanto, por seu caráter raro, não se buscou saber se havia polônio no corpo. O mistério ficou no ar e, com ele, as dúvidas, os rumores e as especulações sobre as causas exatas de sua morte.
Tradução: Katarina Peixoto
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