domingo, 4 de novembro de 2012

A ascensão do extremismo; uma ameaça que se propaga pela Europa


Há uma semana, cerca de 3.000 seguidores do Jobbik, o partido da extrema-direita húngara, saíram à rua com tochas para gritar slogans contra os ciganos, acusando-os de roubos e de estarem por trás da insegurança pública.

Silvia Blanco
Simpatizantes de partido ultranacionalista húngaro realizam protesto em Miskolc, na Hungria, contra políticas do governo e contra a presença de população cigana no país
Simpatizantes de partido ultranacionalista húngaro realizam protesto em Miskolc, na Hungria, contra políticas do governo e contra a presença de população cigana no país
Essa erupção de ira racista ocorreu em Miskolc, uma cidade industrial - a quarta maior da Hungria, no leste -, e de tempo em tempo ocorrem incidentes em outras cidades, provocados pelos partidários do Jobbik (Movimento por uma Hungria Melhor), a terceira força do país, com 44 deputados (de um total de 386) no Parlamento e uma capacidade substancial de chamar a atenção e condicionar a vida política. "Toda a Europa está preocupada com a ascensão da extrema-direita. Não é um fenômeno local. O Jobbik é um dos partidos que têm mais sucesso, com diversas conexões internacionais", explica Krisztian Szabados, especialista em grupos de extrema-direita e diretor do instituto Capital Político em Budapeste. "A ameaça de contágio existe em toda a Europa."  
Mulher segura cabo em área externa de acampamento cigano em La Courneuve, na França
O principal bode-expiatório do Jobbik não são os imigrantes, como acontece com os partidos radicais na Grécia e em outros países como Finlândia ou Holanda, e sim os ciganos. No caso húngaro, "como na maior parte dos países do Leste Europeu", a ascensão da extrema-direita "tem a ver com o racismo" e "não está diretamente relacionada à crise econômica", como parece que ocorre no caso grego, explica Szabados, já que o Jobbik estava lá desde antes. Mas ajuda: o Jobbik se alimenta em parte do descontentamento pela estropiada economia húngara.

Fundado em 2003, o partido maneja uma retórica racista contra os ciganos, aos quais acusa de dedicar-se ao furto e de viver à custa dos benefícios sociais. Também sentem que devem "hungarizá-los": "Queremos fazer que os ciganos sejam como nós, como os húngaros", explicava alguns meses atrás em Budapeste o deputado Márton Gyöngyösi, porta-voz do Jobbik.

A violência contra os ciganos teve inclusive uma estrutura organizada, fundada pelo líder do Jobbik, Gábor Vona. Trata-se da Guarda Húngara, uma espécie de brigada cidadã uniformizada que patrulhava as áreas onde vivem os ciganos, para aterrorizá-los. Embora as autoridades as tenham proscrito em 2009, continuam existindo grupos obscuros que praticam táticas semelhantes.
Ultranacionalista, antissemita e revisionista, o Jobbik é raivosamente antieuropeu - nisso coincide com o resto da extrema-direita europeia. Vê Bruxelas como uma entidade que solapa a soberania nacional, povoada, como dizia Gyöngyösi, o porta-voz do partido, "de políticos falidos que não têm nem ideia sobre este país". De fato, Vona pediu na terça-feira (22) em Budapeste, quando se comemorava o aniversário do levante popular contra a União Soviética em 1956, que a Hungria abandone a União Europeia.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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