segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Construção de aterro para resíduos nucleares gera polêmica na França


Foi lançado um debate público sobre um futuro aterro nuclear em Meuse, no norte da França. Representantes locais e associações se mobilizam.

Pierre Le Hir
Usina nuclear de Nogent sur Seine, na França, um dos países mais dependentes da energia atômica
Usina nuclear de Nogent sur Seine, na França, um dos países mais dependentes da energia atômica
Em sete minutos de descida vertiginosa, a estreita cabine mergulha 490 metros abaixo da terra, no subsolo do vilarejo de Bure, fronteira do departamento de Meuse com o de Haute-Marne. Foi lá, no meio de uma camada de argilito de 120 metros de espessura, que a Agência Nacional para Gestão dos Resíduos Radioativos (Andra) perfurou um laboratório de estudos sobre o aterro dos resíduos mais perigosos da indústria nuclear francesa.
Nessa formação de argila, poucos quilômetros adiante, ela pretende construir um centro industrial de armazenamento geológico (Cigeo). Um gigantesco cemitério nuclear de 15 quilômetros quadrados de galerias e de cavidades, nos quais os elementos radioativos deverão ser confinados para sempre, ou quase: sua duração de vida é contada em centenas de milhares de anos, e em milhões de anos, para alguns deles.
Ainda há várias etapas a serem vencidas. Primeiro, este ano haverá um debate público, que durará quatro meses e envolverá sobretudo os habitantes do departamento de Meuse e de Haute-Marne. Suas datas e seu zoneamento serão anunciados na quarta-feira (6). Depois, em 2015, um pedido de autorização será submetido à enquete pública. A obra poderá então ser iniciada em 2019 e colocada em funcionamento em 2025.
Cada uma dessas consultas promete ser tumultuosa. A ministra do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Sustentável e da Energia, Delphine Batho, que na segunda-feira foi visitar o laboratório de Bure e presidir o comitê de alto nível – uma estrutura destinada a "mobilizar as operadoras do setor (EDF, Areva e CEA) envolvidas no desenvolvimento econômico local" - , teve uma amostra disso.
A ministra foi recebida por cerca de quarenta manifestantes, que protestavam contra uma "lixeira nuclear" brandindo cartazes e clamando: "Tire a Andra de meu planeta!" ou "Arado, sim! Aterro, não!". Ela lhes prometeu "transparência e democracia", ao mesmo tempo em que reafirmou que a armazenagem geológica é "a solução de referência". O Cigeo, para o qual a Andra delimitou uma zona subterrânea de 30 quilômetros quadrados no departamento de Meuse, será dimensionado para receber 10 mil metros cúbicos de resíduos de alta atividade e 70 mil metros cúbicos de resíduos de média atividade de vida longa produzidos durante a exploração do parque nuclear francês atual, e oriundos principalmente do reprocessamento do combustível usado.
A lei de 2006 previa que essa armazenagem fosse "reversível" durante cem anos, ou seja, que os lotes pudessem ser retirados para deixar às gerações futuras a opção de modos diferentes de gestão, uma vez que a instalação só deve ser lacrada definitivamente em 2125.
Quarenta e quatro associações pediram a François Hollande que o debate público sobre o Cigeo seja adiado para depois do debate nacional sobre a transição energética. O plano de ação que resultará disso para o parque nuclear poderá de fato mudar a situação.
A Andra calculou que, se os reatores atuais fossem suspensos após quarenta anos de funcionamento, e não cinquenta, como prevê a EDF, o volume de resíduos de alta atividade subiria para 93 mil metros cúbicos. Isso porque nesse caso seria preciso interromper o reprocessamento do combustível usado, que não poderia mais ser reciclado como combustível MOX. Nesse caso, seria necessário ampliar o Cigeo, ou seja, adaptar um novo aterro. No cronograma do debate público, Batho quer "uma articulação" com o da transição energética.
Além disso, os opositores acreditam que "os riscos geológicos – movimentos de terra, sismos, falhas, entradas de água – estão sendo minimizados". Inicialmente, um outro tipo de argila também deveria ser estudado, no departamento de Gard, bem como o granito, na comuna de Vienne, mas essas alternativas foram abandonadas e as pesquisas só serviram para validar a escolha da argila de Meuse somente. Os "anti-Bure" ainda apontam para o risco de uma combustão, em razão do betume presente em certos lotes, e o de uma explosão de hidrogênio. A Andra garante que ambos "estão sendo levados em conta".
A ministra também ouviu as queixas dos representantes da região. "Demos nosso aval ao laboratório, não ao aterro", lembra o presidente do conselho geral de Meuse e senador Christian Namy (UDI). Para seu departamento, assim como para Haute-Marne, o laboratório representa uma "bolada" anual de 30 milhões de euros.
Os representantes esperam ainda mais do Cigeo: "Não somente os resíduos, mas também a inteligência do setor nuclear", ou seja, um verdadeiro "desenvolvimento de seus territórios", para além dos 2.000 empregos previstos durante a construção e dos outros mil esperados durante a exploração. Batho anunciou a nomeação de um sub-governador, que terá entre outras missões cuidar dos efeitos econômicos.
Resta uma incógnita: o custo final do mausoléu nuclear, que de 16,5 bilhões de euros em 2005 já passou para 36 bilhões de euros.
Tradutor: Lana Lim

Nenhum comentário:

Postar um comentário