terça-feira, 6 de maio de 2014

Encontro de Frei Betto com o Papa: “foi rápido, mas consistente, eu disse tudo o que precisava”



Natasha Pitts
Adital

Um rápido encontro entre Frei Betto e o Papa Francisco, no último dia 09 de abril, em Roma, na Itália, após a audiência geral realizada todas às quartas-feiras, causou grande controvérsia e a publicação de informações desencontradas. O fato é que o breve encontro, de acordo com Frei Betto em entrevista à Adital, foi o suficiente para que ele pudesse fazer pedidos importantes ao Sumo Pontífice.
Em janeiro deste ano, o frei dominicano enviou uma carta ao Papa dizendo que estaria em Roma de 07 a 14 de abril. Com a ajuda do jornalista italiano Antonio Vermigli e de um vaticanista, a carta chegou às mãos de um assessor direto do Papa, que marcou para que Frei Betto comparecesse à audiência da quarta-feira, pois o Francisco o conhecia e queria falar com ele.
"Quando o Papa passou junto ao lugar em que eu me encontrava eu disse: Santo Padre, eu quero agradecer a carta que o senhor enviou às Comunidades Eclesiais de Base no encontro em Juazeiro (Juazeiro do Norte, no Estado do Ceará), em janeiro, mas eu gostaria que o senhor sempre lembrasse que as Comunidades não são um movimento da Igreja, são a própria Igreja no meio dos pobres. Gostaria que o senhor também sempre dialogasse, como pai amoroso, com a Teologia da Libertação, que é uma filha fiel à Igreja e que sempre se lembre dos povos indígenas. O encontro foi rápido, mas foi consistente, eu disse tudo o que precisava”, relatou Frei Betto.
O religioso também pediu a reabilitação do Mestre Eckhart e de Giordano Bruno, dois dominicanos da Idade Média condenados pela igreja. "Ele, sempre prestando muita atenção ao que eu dizia falou: reze por isso. Terminei dizendo em latim: Fora dos pobres não há salvação. E ele falou: estou de acordo”.
Frei Betto explicou o pedido de reabilitação dos dois dominicanos. "Mestre Eckhart foi um grande místico alemão centrado na subjetividade humana e com expressões que chocaram os ouvidos de Roma na época; tipo: ‘Eu e Deus somos um’. Ora, São Paulo, muito antes de ser considerado santo, falou isso, ‘já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim’. A igreja estava entrando no período inquisitorial e qualquer coisa que soasse estranho era motivo de censura ou de condenação. Giordano Bruno foi um homem profético, intuitivo, também um grande místico, foi queimado vivo, pois ele ridicularizou muito os inquisidores, a ponto de dizer aos seus algozes: vocês têm mais medo de mim do que eu de vocês. E isso irrita até hoje as pessoas conservadoras da Igreja, embora cada cidade na Itália, por menor que seja, tenha uma rua Giordano Bruno”.
Sobre esse pedido especial, realizado porque a ordem dominicana completa 800 anos em 2016, Frei Betto interpretou que as palavras do Papa: "Reze por isso”, soaram como quem diz: eu estou de acordo, mas não vai ser fácil.
Questionado sobre quais assuntos abordaria com o Papa caso tivesse mais tempo, Frei Betto afirmou que "falaria da mudança do Estatuto da Mulher na Igreja, pois a mulher até hoje é considerada um ser inferior, por isso não pode ser sacerdote; falaria de Cuba, pediria para ele interferir pela libertação dos cinco cubanos, e falaria da importância dele valorizar os movimentos sociais”.
A rápida troca de palavras entre os religiosos incomodou a imprensa conservadora e provocou a publicação de matérias controversas e com informações erradas. O jornal La República noticiou "Papa recebe teólogo rebelde” e chegou a afirmar que Betto havia sido recebido na Casa Santa Marta, a residência do Papa. A informação foi desmentida pelo L’Osservatore Romano, o jornal oficial do Vaticano
"Esse encontro incomodou bastante a imprensa conservadora, que, por sinal, já estava bastante incomodada porque o Papa recebeu Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da Teologia da Libertação”, explicou Frei Betto.

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