"Estes #panamaleaks, incrivelmente, não interessaram aos jornalistas brasileiros, embora os documentos tenham se tornado públicos. Por quê? São empresários, médicos, escritórios de advogados e bancos. Provavelmente, muitos dos responsáveis frequentam as manifestações contra a corrupção no Brasil", diz o jornalista; ex-Globo, Luiz Carlos Azenha destaca ainda que a lista de clientes entregue por Ademir Auada, da Mossack & Fonseca, quando teve a prisão decretada na Operação Triplo X, da Lava Jato, "milagrosamente não vazou!"
4 DE ABRIL DE 2016 ÀS 15:18
por Luiz Carlos Azenha, doViomundo
Messi, Macri, Mubarak, Eduardo Cunha, Joaquim Barbosa. Os #panamaleaks estão bombando. A empresa Mossack & Fonseca avisou seus clientes, ontem, que tinha sido vítima de uma invasão em seu banco de dados.
Na verdade, há mais de um ano o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, ICIJ, numa parceria que envolve 100 empresas jornalísticas de todo o mundo, está debruçado sobre os registros de mais de 214 mil empresas offshore criadas pela Mossack. Algumas podem ter servido a propósitos legais. Mas, na maioria das vezes, trata-se de esconder dinheiro sujo, sonegar imposto ou esconder patrimônio.
Joaquim Barbosa, o Batman do mensalão, segundo descreveu hoje o Miami Herald, escondeu o preço do apartamento que comprou em Miami, na Flórida: U$ 335 mil dólares em dinheiro. Os brasileiros poderiam ter descoberto este valor se Barbosa tivesse pago os impostos locais, já que eles são relativos ao valor total da transação. Mas, os U$ 2 mil nunca foram pagos!
Foi a Mossack quem criou a empresa de Joaquim Barbosa, Assas JB1, registrada nas ilhas Virgens Britânicas.
Ouvido pelo Miami Herald, Barbosa culpou a intermediária que cuidou da transação por não pagar os impostos locais e disse que qualquer pessoa com acesso a um serviço privado, exclusivo de corretores de imóveis, poderia ter descoberto quanto ele pagou pelo apartamento em 2012. Isso, de um campeão da moralidade pública que, no julgamento do mensalão, cobrou transparência alheia! Cabe, neste caso, utilizar a teoria do “domínio do fato”?
Barbosa pode não ter cometido um crime, mas o certo é que foi levado no bico. Pagou mais de R$ 1 milhão, em dinheiro de hoje, por um apartamento de 73 metros quadrados! Só novo rico para cair neste conto de Miami…
O QUE O #panamaleaks NÃO VAI TE CONTAR AGORA
27 de janeiro de 2016. Vigésima segunda fase da Operação Lava Jato. Título: Triplo X. Alvo? O ex-presidente Lula. Suspeitava-se que ele era dono de um triplex no edifício Solaris, no Guarujá. Uma empresa, de nome Murray, tinha em seu nome ao menos uma unidade. A Murray foi criada pela Mossack & Fonseca, a mesma que ajudou o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa.
Quem sabe se a Murray não era de Lula ou de um parente dele?
Busca e apreensão na sede da Mossack na avenida Paulista, em São Paulo. Prisão de funcionários da empresa. Inclusive de um que havia sido gravado ao telefone com a filha falando em destruição de provas. A Globonews vibra! O Lula vai cair! Relembremos parte do diálogo (no link tem a gravação):
Nossa, um homem que admite ter picado a mala inteira de papel? Que história saborosa! O que será que havia nesta mala? Qualquer jornalista daria tudo para saber o final desta história.
5 de fevereiro de 2016. Ademir Auada é solto. O G1, da Globo, não teve a curiosidade de perguntar: que tipo de papel ele cortou? o que tinha naquela mala?
Nem a PF, nem o MPF acharam necessário mantê-lo na cadeia. Auada, que estava no Panamá quando teve a prisão decretada, entregou a lista de seus clientes — que milagrosamente não vazou!
Esta é uma das coisas que o #panamaleaks não vai te contar agora.
Auada era um intermediário entre a Mossack e clientes brasileiros.
Ele cuidava de ao menos 10 empresas que estão nos arquivos que a Polícia Federal apreendeu na sede da empresa panamenha em São Paulo.
Estes #panamaleaks, incrivelmente, não interessaram aos jornalistas brasileiros, embora os documentos tenham se tornado públicos.
Por que? São empresários, médicos, escritórios de advogados e bancos. Provavelmente, muitos dos responsáveis frequentam as manifestações contra a corrupção no Brasil. O Viomundo vai investigar a papelada através de um crowdfunding.
Papel importante neste imbróglio ocupa Ricardo Honório Neto, funcionário da Mossack no Brasil, para o qual a mídia também não deu a menor bola. Sobre a mesa dele a Polícia Federal encontrou manuscritos que equivalem ao controle de uma conta bancária. Entram as taxas de manutenção cobradas pela Mossack, saem pagamentos de despesas da firma.
Ricardo lidava com os clientes no dia-a-dia. São deles as anotações referentes a Paula Azevedo Marinho e Paula Marinho, ao lado de valores e datas de pagamento e das offshore A Plus Holdings (Panamá), Juste (ilhas Seychelles) e Vaincre LLC (Las Vegas, Nevada).
Nos documentos, elas aparecem relacionadas à Glem Participações, do genro de um dos donos do grupo Globo, João Roberto Marinho. Mas… suspense… só os arquivos da Mossack poderão revelar com absoluta certeza quem são os donos reais das três offshore.
Honório, de azul, deixa a cadeia; o banco Safra, de Luxemburgo, pediu a criação de quase mil empresas offshore para seus clientes!
Neste caso, a falta de curiosidade de parte da mídia brasileira chama a atenção.
O Jornal Nacional foi a Nevada, à sede da Mossack em Las Vegas, mas nem perguntou sobre a Vaincre LLC, que está registrada lá e é uma das donas da mansão de Paraty.
Esperemos, pois, até o mês de maio. Ou que o Fernando Rodrigues, desta vez, nos surpreenda positivamente.
PS do Viomundo: Vale a pena esperar. Denunciado recentemente por pagar propina de R$ 15 milhões para deixar de recolher R$ 1,5 bilhão em impostos, na Operação Zelotes, Joseph Safra é um dos controladores do banco que é vice-campeão em empresas offshore encomendadas à Mossack&Fonseca: quase mil! Essa lista de clientes do Safra queremos muito ver…
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