A entrada para o Mercosul tornou-se estratégica para a Venzuela. A possibilidade que agora se abre é a de transcender a integração comercial, passando a uma nova fase: a integração produtiva. Os governos brasileiro e venezuelano, especialmente por meio da missão do IPEA em Caracas, vêm promovendo iniciativas de fortalecimento e complementação industrial em diversas áreas, sobretudo na fronteira e na Faixa Petrolífera do Orinoco. O artigo é de Luciano Wexell Severo e Paulo Vitor Sanches Lira.
Luciano Wexell Severo (*) e Paulo Vitor Sanches Lira (**)
Em geral, as opiniões da chamada grande mídia contra a entrada da Venezuela no Mercosul tem como base argumentos que não se sustentam quando postos à prova. Muitos “analistas” optam por desenvolver interpretações da situação política, social ou econômica do país vizinho baseados em relatórios de instituições pouco confiáveis ou até mesmo em ONGs sediadas nos países centrais. Entendemos que o caso merece análises muito mais sérias e abrangentes.
A economia da Venezuela tem o petróleo como motor desde 1930, fato que acarretou problemas à industrialização, conforme identificado por Celso Furtado em estudo para a CEPAL, nos anos 1950. Não houve, desde então, um esforço profícuo para a diversificação industrial, apesar do entendimento de que se deveria “semear o petróleo”. Até os anos 2000, os benefícios da renda petroleira não foram utilizados para promover o desenvolvimento econômico ou o fortalecimento da estrutura produtiva nacional.
A chegada do governo Chávez representou a intenção de efetuar essas mudanças, através do planejamento e da maior intervenção estatal na PDVSA. De 1999 a 2001, apesar da manutenção de políticas de corte ortodoxo, foram dados passos importantes, como a aprovação, em referendo, da nova Constituição. A seguir, a postura governamental foi fortemente contestada por uma parcela da sociedade venezuelana, historicamente beneficiada pela situação anterior. A crise política e a instabilidade institucional dos anos 2002 e 2003 derrubaram o PIB em cerca de 10%.
A despeito destes entraves, o governo continuou com elevado percentual de apoio. O crescimento econômico dos anos seguintes, respaldado pela alta do petróleo, atesta os esforços de mudança. De 2004 a 2008, a economia venezuelana cresceu cerca de 8% ao ano, excetuando-se 2009 e 2010 pelo efeito da crise internacional. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a distribuição de renda (coeficiente Gini) melhoraram substancialmente. Este último alcançou 0,39 em 2010 contra 0,5 dos anos 1990. Desde 2005, o país é considerado pela UNESCO como território livre de analfabetismo.
Apesar dos avanços na área social, a Venezuela ainda apresenta complexas limitações na estrutura produtiva. Neste ponto, a entrada para o Mercosul tornou-se estratégica. A possibilidade que agora se abre é a de transcender a integração comercial, pautada pelo mercado, passando a uma nova fase: a integração produtiva. Os governos brasileiro e venezuelano, especialmente por meio da missão do IPEA em Caracas, já vêm promovendo iniciativas de fortalecimento e complementação industrial em diversas áreas, sobretudo na fronteira e na Faixa Petrolífera do Orinoco. A entrada no bloco potencializará essas iniciativas.
Finalmente, vale apontar que as transformações da última década não são resultado de um caminho natural das economias em busca do desenvolvimento. Pelo contrário, são frutos da ação consciente e da mudança de mentalidade de parte da América do Sul. Devemos intensificar esse movimento de distanciamento do desfiladeiro liberal e assumir as rédeas de nosso caminho ao desenvolvimento.
(*) Professor visitante da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e Doutorando do Programa de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
(**) Mestrando do Programa de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
A economia da Venezuela tem o petróleo como motor desde 1930, fato que acarretou problemas à industrialização, conforme identificado por Celso Furtado em estudo para a CEPAL, nos anos 1950. Não houve, desde então, um esforço profícuo para a diversificação industrial, apesar do entendimento de que se deveria “semear o petróleo”. Até os anos 2000, os benefícios da renda petroleira não foram utilizados para promover o desenvolvimento econômico ou o fortalecimento da estrutura produtiva nacional.
A chegada do governo Chávez representou a intenção de efetuar essas mudanças, através do planejamento e da maior intervenção estatal na PDVSA. De 1999 a 2001, apesar da manutenção de políticas de corte ortodoxo, foram dados passos importantes, como a aprovação, em referendo, da nova Constituição. A seguir, a postura governamental foi fortemente contestada por uma parcela da sociedade venezuelana, historicamente beneficiada pela situação anterior. A crise política e a instabilidade institucional dos anos 2002 e 2003 derrubaram o PIB em cerca de 10%.
A despeito destes entraves, o governo continuou com elevado percentual de apoio. O crescimento econômico dos anos seguintes, respaldado pela alta do petróleo, atesta os esforços de mudança. De 2004 a 2008, a economia venezuelana cresceu cerca de 8% ao ano, excetuando-se 2009 e 2010 pelo efeito da crise internacional. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a distribuição de renda (coeficiente Gini) melhoraram substancialmente. Este último alcançou 0,39 em 2010 contra 0,5 dos anos 1990. Desde 2005, o país é considerado pela UNESCO como território livre de analfabetismo.
Apesar dos avanços na área social, a Venezuela ainda apresenta complexas limitações na estrutura produtiva. Neste ponto, a entrada para o Mercosul tornou-se estratégica. A possibilidade que agora se abre é a de transcender a integração comercial, pautada pelo mercado, passando a uma nova fase: a integração produtiva. Os governos brasileiro e venezuelano, especialmente por meio da missão do IPEA em Caracas, já vêm promovendo iniciativas de fortalecimento e complementação industrial em diversas áreas, sobretudo na fronteira e na Faixa Petrolífera do Orinoco. A entrada no bloco potencializará essas iniciativas.
Finalmente, vale apontar que as transformações da última década não são resultado de um caminho natural das economias em busca do desenvolvimento. Pelo contrário, são frutos da ação consciente e da mudança de mentalidade de parte da América do Sul. Devemos intensificar esse movimento de distanciamento do desfiladeiro liberal e assumir as rédeas de nosso caminho ao desenvolvimento.
(*) Professor visitante da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e Doutorando do Programa de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
(**) Mestrando do Programa de Economia Política Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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