terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Lucro ou As Pessoas? Neoliberalismo e Ordem Global



Reconhecido pelos críticos como um socialista libertário, Chomsky destacou-se na década de 1990 por ser o principal crítico do mercado livre. Para ele, o caráter liberal do capitalismo é estruturalmente falho e moralmente maléfico.

Noam Chomsky
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Nesta obra, Chomsky faz uma análise profunda do sistema doutrinário das democracias capitalistas e da ameaça neoliberal; coloca-se como crítico do mercado livre e ao capitalismo, interpretado por ele como falho estruturalmente.
Para o autor, o neoliberalismo existe há tempo, a realidade hoje é que ele se configurou através de uma nova versão onde vigora a opressão sobre a maior parte da sociedade. Para ele o Neoliberalismo é a causa da progressão das desigualdades sócio-econômicas, catastróficos e irreversíveis desastre ecológicos, instabilidade econômica global e aumento da concentração de riqueza.
Chomsky revela que a política unilateral do governo dos Estados Unidos da América - EUA sempre teve seus objetivos bem claros, e para quem quiser saber quais são é só consultar e acompanhar a história contemporânea.
O autor deixa claro um manifesto anti-neoliberal que denuncia as conseqüências originadas pela imposição dessa política de repercussão global. Portanto, o alvo das maiores críticas é o governo dos EUA.
Chomsky declara oposição aos países ricos, descrevendo a geração de pobreza das nações adeptas aos ditames do Consenso de Washington. A retórica de que o "liberalismo é a única alternativa para o mundo", para ele não é mais que uma manipulação reproduzida pela mídia no mundo inteiro. O autor se propõe a desmontar as controvérsias contidas no discurso pró-liberalista. Para ele, o fato de nenhuma das economias existentes ter seguido os critérios do livre mercado sugere uma ruptura radical entre economia liberal e o progresso.
Enfim, a humanidade vive uma crise de valores, e Chomsky nos oferece a esperança de que o ativismo social pode reclamar os direitos do povo como cidadãos em vez de como meros consumidores, redefinindo a democracia como um movimento global, e não um mercado global.
CRISE INSTITUCIONAL E MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS
Crise Institucional: analisando a obra de Chomsky, verifica-se que o neoliberalismo e suas políticas articulados aos meios de comunicação jogam para o descrédito na democracia. Os cidadãos, diante disso, sentem-se impotentes e não conseguem interferir nas decisões; não se identificam com as posturas públicas, pois o discurso é difuso. Como conseqüência, tem-se o descrédito na democracia formal. Cabe, então, implementar uma luta contra esse declínio da crença na democracia. Essa consensualidade discursiva promovida pelos meios de comunicação é preocupante na medida em que estimula uma postura de passividade da população, que se afasta das estruturas dos poderes públicos, já que não se sente identificada e, por conseguinte, se exime de intervir nas decisões fundamentais nas democracias de baixa intensidade em que vivemos, a distância entre representantes e representados tende a aumentar até ao ponto em que o controle dos cidadãos sobre o poder político fica reduzido ao controle remoto do televisor. Esta erosão do vínculo de representação não se circunscreve aos partidos e antes pode atingir outros campos sociais de representação, como, por exemplo, a representação sindical. Em tal situação, o regresso da política não tem condições para ocorrer senão à beira do caos. Nestas circunstâncias, a democracia direta emerge geminada com a violência, quer a da revolta, quer a da sua repressão. Ressignifica o campo político com a rebeldia, o testemunho e a negação ativa, mas não tem condições para ser propositiva. Desaparecem as mediações entre a intensidade do que se rejeita e a intensidade daquilo a que se aspira. Nem tampouco tem condições para se articular virtuosamente com a democracia representativa, já que ocorre sobre as ruínas desta. Paradoxalmente, o abismo entre a democracia representativa e a democracia direta faz desta um fator decisivo da saída progressista da crise, desde que atinja um patamar mínimo de institucionalidade.
Movimentos Sociais Urbanos: motivadas pelas imposições do neoliberalismo, muitas das grandes transformações ocorridas no mundo tiveram na sua origem em movimentos sociais urbanos. A luta de classes, por exemplo, tem sido um caminho eficaz para conquistas históricas no campo dos direitos humanos; movimentos articulados por entidades não governamentais são responsáveis por notáveis avanços na almejada igualdade nas relações entre as pessoas.
Apesar de importantes e reconhecidas vitórias, falta ainda muito para que a humanidade atinja o estágio do respeito pleno e da vida digna, independente de categorias econômicas ou de outras classificações a que estão submetidas parcelas significativas da população. É por isso que não se esgotam os motivos para mobilizações.
Pelo contrário, as desigualdades e, em vários casos, a opressão e a perseguição, impõem a necessidade de que elas sejam cada vez mais intensificadas.
Nos EUA em particular, as políticas neoliberais são caracterizadas como políticas de livre mercado que incentivam o empreendimento privado e a escolha do consumidor, premiam a responsabilidade pessoal e a iniciativa empresarial e atuam como regulador de governos incompetentes e burocráticos que não conseguem bom desempenho na administração do país, o que tem se verificado que não é o caso.
Toda uma geração de esforços de relações públicas financiados pelas grandes empresas conferiu a essas palavras e idéias uma aura quase sagrada. E como resultado, suas demandas raramente precisam de defesa e são invocados para justificar qualquer evento; da redução de impostos para os ricos e sucateamento dos regulações ambientais ao desmantelamento da educação pública e dos programas de seguridade social. Como resultado, toda e qualquer atividade que se oponha ao domínio da sociedade pelas grandes empresas é considerada suspeita, subversiva, porquê estaria se opondo ao funcionamento do livre mercado, considerado como o único alocador racional, justo e democrático de bens e serviços. No fim das contas, os defensores do neoliberalismo falam como se estivessem prestando aos pobres, ao meio ambiente e tudo o mais um fantástico serviço quando aprovam políticas a favor da minoria privilegiada.
O neoliberalismo funciona não apenas como mecanismo econômico pura e simplesmente, mas também como sistema político e cultural, na opressão das forças "extra mercados". O liberalismo funciona melhor em um ambiente de democracia eleitoral formal, mas no qual a população é afastada da informação, do acesso e dos fóruns públicos indispensáveis a uma participação significativa na tomada das decisões.
Em vez de cidadãos, o neoliberalismo produz consumidores. Em vez de comunidades, produz shopping centers. O que sobra, é uma sociedade atomizada, de pessoas sem compromisso, desmoralizadas e socialmente impotentes.
No Brasil neoliberal e miserável, o governo só consegue ainda controlar o povo. O neoliberalismo, como um vírus letal, só ataca quando o corpo da nação, o povo, está doente. Quando o povo está física e mentalmente frágil, eles permitem que os grandes interesses econômicos controlem a vida social para aumentar seus lucros privados.
O arauto da crítica ao neoliberalismo, Noam Chomsky, nos mostra que o neoliberalismo se prolifera em democracias que tenham passado por alguma ditadura militar; democracias nas quais os meios de comunicação são sócios do poder, e o poder, empregado dos grandes bancos e das multinacionais.
Segundo Chomsky, o sistema global torna-se uma forma de mercantilismo corporativo, com planejamento e interações comerciais gerenciadas centralmente dentro de uma estrutura de internacionalização liberal, projetadas para as necessidades do poder de lucro, subsidiados e apoiados pela autoridade do Estado.
Quanto ao Terceiro Mundo (as nações famintas), ele diz que este deve observar a doutrina neoliberal, pois, caso contrário, os poderosos poderão descartá-lo a qualquer momento. O estudioso argumenta ainda que o fim da Guerra Fria ofereceu novas chances para o lucro e armas aperfeiçoadas para a guerra, de classes patrocinada pelos senhores do poder.
Para Chomsky, as ‘doenças' socioeconômicas do planeta são responsabilidade de um pequeno número de pessoas, sobretudo norte-americanas, que controlam o governo e as grandes corporações, manipulando um público dócil e influenciável por intermédio da mídia. Pode-se achar que mesmo com a riqueza de dados de seus vários livros sobre o assunto esse quadro explica menos do que se esperaria. Ainda assim, Chomsky continua aí para nos lembrar de coisas que, não raro em nome de uma análise mais complexa, são muito fáceis de esquecer.
Chomsky refere-se ao poder dos centros mundiais de se fazerem crer, de convencerem os mundos pobres das idéias que convêm ao mundo rico, mesmo que sejam idéias absolutamente contraditórias com aquelas que tinham imposto anteriormente.
A habilidade do sistema - isto é, de facções importantes do poder dentro do sistema e seus porta-vozes intelectuais e entre os meios de comunicação - para formar e reconstruir as perspectivas da história e a interpretação das atualidades, segundo seus próprios interesses, é verdadeiramente impressionante.
Chomsky assinala, ainda, "os inúmeros laços e relações de dependência com as elites do mundo", as quais se esmeram em "perceber as questões sob o ponto de vista da liderança dos Estados Unidos".
A análise mantém sua atualidade, agora que a nova moda é a "abertura dos mercados e a integração financeira", mesmo que desorganizem sociedades inteiras e deixem ao relento milhões de cidadãos, cujos direitos humanos sequer são lembrados. E como não precisam dos militares para fazer isso, é parte da moda estigmatizá-los.
As imposições, referida por Chomsky, deu-se, no caso do neoliberalismo, pela intensa campanha ideológica a favor de um livre mercado que seria capaz de induzir o crescimento no Terceiro Mundo, principalmente pela circulação de capitais para investimentos locais. E como houve a época dos militares cooperativos, surgiu, na década de 90, a safra dos governos civis cooperativos.
Presidentes dispostos a tudo, a pulverizar a infra-estrutura nacional e a facilitar a entrega de bens aos grupos externos, orientados por ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais formados nas escolas norte-americanas e treinados em organismos internacionais controlados pelos Estados Unidos. A fórmula vem sendo exaustivamente aplicada mundo afora, transformando o Terceiro Mundo num laboratório de provas à disposição de uma espécie de casta internacionalizada, oriunda dos mesmos bancos escolares e do mesmo berço teórico. O processo é o mesmo: os grandes interesses mundiais produzem e sustentam ditadores, até que percam a utilidade, e então patrocinam ondas de suposta renovação, para que os objetivos centrais sejam mantidos com nova roupagem, até que gerem tanta insatisfação que se recorra a novo expediente. Uma espécie de linha de montagem, da qual sai sempre o mesmo carro, em modelos diversos.
Pelo explicitado acima, se concluir que a política neoliberal, enquanto política antioperária e antipopular, ter algo a oferecer para todas as frações burguesas - a degradação dos salários, das condições de trabalho e a redução dos direitos sociais.
A política neoliberal tem feito crescer o desemprego e a concentração de renda e provocado, de diferentes maneiras, uma degradação nas condições de vida dos setores populares. Isso explica porque parte da população trabalhadora de baixa renda criou novas formas de luta contra a política neoliberal. Algo contraditório ocorre com o crescimento do desemprego. Esse fenômeno que debilita o movimento sindical tem sido, em certa medida, a base para o crescimento de outros movimentos sociais.
Os movimentos populares são uma grande ameaça para o neoliberalismo. Esse não está aparelhado ideologicamente para enfrentá-los. Diante do movimento sindical, do setor público ou privado, os governos neoliberais procuram estigmatizar as reivindicações apresentando-as como mais uma regalia desejada por um setor já privilegiado da população. É o conhecido refrão do "corporativismo", termo com o qual os governos neoliberais procuram isolar a luta sindical dos trabalhadores. Diante desses novos movimentos, tais acusações são inviáveis e os governos neoliberais são obrigados e retroceder para o velho discurso autoritário e policialesco das classes dominantes que consiste em criminalizar o movimento popular - formação de quadrilha é uma das acusações mais utilizadas.
Daí, a conclusão de que os movimentos sociais desempenham, na melhor das hipóteses, um papel secundário na democratização.
Noam Chomsky, norte americano lingüista, filósofo e teórico das comunicações é uma das figuras mais importantes na Lingüística do século XX. Nascido em Filadélfia, em 1928, leciona, desde 1955, no Instituto Tecnológico de Massachusetts, onde se tornou catedrático aos 32 anos. Além de seu trabalho como lingüista, Chomsky escreve livros sobre temas contemporâneos. Suas palestras têm despertado a atenção de platéias em todo o país e pelo mundo afora.

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