terça-feira, 27 de novembro de 2012

Alienação nossa de cada dia – por Lissi Bender*


Nada é realidade dada. Em nossa sociedade, tudo é historicamente produzido. Disso pouco nos damos conta em nossa vida. Complexos são os caminhos que produziram a realidade que ora vivenciamos. Difíceis de serem compreendidos, mas nos levam ao desenraizamento de valores fundamentais para a vida e, à medida que nos desenraizamos deles, secam nossas próprias raízes. Parece-me que nos levam a nos desvincularmos de valores imprescindíveis para a convivência em sociedade, de modo que pouco cultivamos nosso compromisso para com o bem-estar social e ambiental em nosso meio, pouco exercitamos nossa consciência cidadã.

Parece-me que, pelos caminhos que trilhamos, transformamo-nos em joguetes a serviço de interesses alheios, em uma grande massa humana a quem pouco compete e pouco se compromete  para além de pagar impostos e consumir.  De diferentes modos somos impelidos ao consumo. Produto consumido, novo desejo criado,e os lixos, advindos do consumo,  não assumimos como responsabilidade nossa. A limpeza, os cuidados para com o meio ambiente, o bem estar social, nossos filhos, sua educação, nossos familiares idosos …, tudo transferimos, tudo delegamos,  como se nada disso fosse dever nosso.
Por outro lado, muitos de nossos governantes estão ocupados demais com as vantagens que levarão em cada licitação, em cada privatização promovida,  para se ocuparem com o devir de nosso país. E o povo? Ah, o povo se contenta com pão e circo promovido fartamente. E todos nós seguimos embalados por eventos vazios, que pouco agregam valor à vida, à comunidade; por eventos que se esgotam em si mesmos; que objetivam tão somente reunir o maior número possível de pessoas e garantir lucro. Aliás, esta realidade já havia merecido a preocupação de estudiosos da Escola de Frankfurt. Horkheimer e Adorno há muito já alertavam para a “Kulturindustrie” como denominavam a máquina capitalista que reproduz e distribui uma cultura formatada para ser lucrativa e distrair as massas. Sem preocupação para com o aprimoramento cultural, para com o enriquecimento espiritual e intelectual do ser humano.
 Além disso, deixamo-nos seduzir por uma mídia excessivamente focada na promoção de entretenimento e de sonhos de consumo entre nós. Oferece-nos produtos, não como possibilidades, mas como imprescindíveis para nossa felicidade. Entretem-nos com histórias “das mil e uma corrupções brasileiras”, deleita-nos com novelas que  nos ensinam como levar vantagem, como ludibriar o próximo, novelas recheadas de intrigas e baixarias de toda sorte. No entanto, seus produtores se eximem das consequências que podem produzir, principalmente  nas  mentes em formação. 
Complexos são os caminhos, mas certamente  uma programação televisiva de pouca qualidade e eventos vazios de conteúdo substancial para a vida contribuem para despovoarmos nossa própria vida de riqueza interior. Antes nos entorpecem, nos envolvem com sensações fáceis e fúteis. Alienamo-nos de questões fundamentais nossas e dos destinos de nosso espaço vital.  Alheados de valores essenciais para significar nossa vida, descompromissamo-nos  da construção do bem-estar social coletivo, uma responsabilidade intransferível nossa.

*Lissi Bender é Professora da UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul, RS,  comentarista AHAI e colunista BrasilAlemanha

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