quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Tragédia de Santa Maria: a lição de Buenos Aires BY ADMIN – 28 DE JANEIRO DE 2013 POSTED IN: CAPA OUTRAS MÍDIAS Pirotecnia exibicionista causou quase 200 mortes, em 2004. Mobilização social garantiu fechamento de boates inseguras e impediu culpar… os seguranças! Por Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo A tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, que deixou 231 mortos e pelo menos 106 feridos, tem um antecedente tristemente similar na Argentina. Em 30 de dezembro de 2004, a República Cromañón, em Buenos Aires, pegou fogo durante um show da banda Callejeros. Como no caso da Kiss, a causa foi um despropositado espetáculo de pirotecnia: um sinalizador atingiu o teto e o material inflamável se encarregou de realizar o estrago. Foram 194 mortos e ao menos 1432 feridos. É cedo para apontar os culpados pelo que houve na Kiss. As tevês, no entanto, já estavam crucificando os seguranças, que teriam impedido os clientes de sair antes de pagar a comanda. Também culparam as comandas, aliás. Vai ser uma longa batalha, mas o caso da Argentina é didático em relação à rapidez da justiça, principalmente para os nossos padrões, e à incansável mobilização dos familiares das vítimas. Tênis dos jovens foram pendurados nos fios de alta tensão do bairro Once, conferindo uma beleza prosaica e mórbida ao lugar. Protestos na Plaza de Mayo, passeatas, memoriais, atos, missas e sites como quenoserepita.com.ar pressionaram as instituições sem cessar. As coisas não demoraram muito a acontecer: em 2006, o então prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, foi destituído. Dezenas de casas noturnas foram interditadas. A rua onde ficava a Cromañón, calle Bartolomé Mitre, ganhou um santuário e foi fechada (por causa de problemas no trânsito, ela foi reaberta há poucas semanas, mas o santuário continua em pé). No começo deste ano, enfim, todos os condenados pelo incêndio foram presos, acusados do delito de incêndio culposo seguido de morte. Entre eles, o antigo líder da banda, Patricio Santos Fontanet, assim como o saxofonista, o baixista, os guitarristas e o cenógrafo. O diretor geral de fiscalização e controle da cidade, Gustavo Torres, também rodou. O empresário do grupo foi preso, bem como o gerente da boate e seu braço direito, além de diversas autoridades responsáveis pela fiscalização dos nightclubs portenhos. As penas variam entre 10 anos e 9 meses (para o gerente Omár Chaban) e 3 anos (para os músicos). Levou oito anos para que fosse feita justiça na Argentina. No caso de Santa Maria, a luta dos pais e mães que perderam seus filhos está só começando. Mas, se eles querem que algo aconteça, vale dar uma olhada no que os vizinhos conquistaram com sangue, suor, lágrimas e panelaços. Related posts: Buenos Aires: como as elites rangem os dentes O sumiço do bondinho de Santa Teresa Tragédia, desigualdade e Estado débil Rio: caos em Santa Teresa, por falta do bonde Histórias da tragédia de Honduras – Parte I


  28 DE JANEIRO DE 2013

130128-Cromañon
Pirotecnia exibicionista causou quase 200 mortes, em 2004. Mobilização social garantiu fechamento de boates inseguras e impediu culpar… os seguranças!
Por Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
A tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, que deixou 231 mortos e pelo menos 106 feridos, tem um antecedente tristemente similar na Argentina. Em 30 de dezembro de 2004, a República Cromañón, em Buenos Aires, pegou fogo durante um show da banda Callejeros. Como no caso da Kiss, a causa foi um despropositado espetáculo de pirotecnia: um sinalizador atingiu o teto e o material inflamável se encarregou de realizar o estrago. Foram 194 mortos e ao menos 1432 feridos.
É cedo para apontar os culpados pelo que houve na Kiss. As tevês, no entanto, já estavam crucificando os seguranças, que teriam impedido os clientes de sair antes de pagar a comanda. Também culparam as comandas, aliás.
Vai ser uma longa batalha, mas o caso da Argentina é didático em relação à rapidez da justiça, principalmente para os nossos padrões, e à incansável mobilização dos familiares das vítimas. Tênis dos jovens foram pendurados nos fios de alta tensão do bairro Once, conferindo uma beleza prosaica e mórbida ao lugar. Protestos na Plaza de Mayo, passeatas, memoriais, atos, missas e sites como quenoserepita.com.ar pressionaram as instituições sem cessar. As coisas não demoraram muito a acontecer: em 2006, o então prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, foi destituído. Dezenas de casas noturnas foram interditadas. A rua onde ficava a Cromañón, calle Bartolomé Mitre, ganhou um santuário e foi fechada (por causa de problemas no trânsito, ela foi reaberta há poucas semanas, mas o santuário continua em pé).
No começo deste ano, enfim, todos os condenados pelo incêndio foram presos, acusados do delito de incêndio culposo seguido de morte.  Entre eles, o antigo líder da banda, Patricio Santos Fontanet, assim como o saxofonista, o baixista, os guitarristas e o cenógrafo. O diretor geral de fiscalização e controle da cidade, Gustavo Torres, também rodou. O empresário do grupo foi preso, bem como o gerente da boate e seu braço direito, além de diversas autoridades responsáveis pela fiscalização dos nightclubs portenhos. As penas variam entre 10 anos e 9 meses (para o gerente Omár Chaban) e 3 anos (para os músicos).
Levou oito anos para que fosse feita justiça na Argentina. No caso de Santa Maria, a luta dos pais e mães que perderam seus filhos está só começando. Mas, se eles querem que algo aconteça, vale dar uma olhada no que os vizinhos conquistaram com sangue, suor, lágrimas e panelaços.
A rua Once
130128-Cromañon
Pirotecnia exibicionista causou quase 200 mortes, em 2004. Mobilização social garantiu fechamento de boates inseguras e impediu culpar… os seguranças!
Por Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
A tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, que deixou 231 mortos e pelo menos 106 feridos, tem um antecedente tristemente similar na Argentina. Em 30 de dezembro de 2004, a República Cromañón, em Buenos Aires, pegou fogo durante um show da banda Callejeros. Como no caso da Kiss, a causa foi um despropositado espetáculo de pirotecnia: um sinalizador atingiu o teto e o material inflamável se encarregou de realizar o estrago. Foram 194 mortos e ao menos 1432 feridos.
É cedo para apontar os culpados pelo que houve na Kiss. As tevês, no entanto, já estavam crucificando os seguranças, que teriam impedido os clientes de sair antes de pagar a comanda. Também culparam as comandas, aliás.
Vai ser uma longa batalha, mas o caso da Argentina é didático em relação à rapidez da justiça, principalmente para os nossos padrões, e à incansável mobilização dos familiares das vítimas. Tênis dos jovens foram pendurados nos fios de alta tensão do bairro Once, conferindo uma beleza prosaica e mórbida ao lugar. Protestos na Plaza de Mayo, passeatas, memoriais, atos, missas e sites como quenoserepita.com.ar pressionaram as instituições sem cessar. As coisas não demoraram muito a acontecer: em 2006, o então prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, foi destituído. Dezenas de casas noturnas foram interditadas. A rua onde ficava a Cromañón, calle Bartolomé Mitre, ganhou um santuário e foi fechada (por causa de problemas no trânsito, ela foi reaberta há poucas semanas, mas o santuário continua em pé).
No começo deste ano, enfim, todos os condenados pelo incêndio foram presos, acusados do delito de incêndio culposo seguido de morte.  Entre eles, o antigo líder da banda, Patricio Santos Fontanet, assim como o saxofonista, o baixista, os guitarristas e o cenógrafo. O diretor geral de fiscalização e controle da cidade, Gustavo Torres, também rodou. O empresário do grupo foi preso, bem como o gerente da boate e seu braço direito, além de diversas autoridades responsáveis pela fiscalização dos nightclubs portenhos. As penas variam entre 10 anos e 9 meses (para o gerente Omár Chaban) e 3 anos (para os músicos).
Levou oito anos para que fosse feita justiça na Argentina. No caso de Santa Maria, a luta dos pais e mães que perderam seus filhos está só começando. Mas, se eles querem que algo aconteça, vale dar uma olhada no que os vizinhos conquistaram com sangue, suor, lágrimas e panelaços.
A rua Once

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