domingo, 2 de junho de 2013

É mais fácil dizer “chega” do que “nunca” para o consumismo

Li uma boa reportagem em O Globo sobre jovens da classe média que decidem viver com menos, desapegando-se de bens materiais, não por carestia, mas guiados por uma decisão consciente.

Leonardo Sakamoto
Antes de mais nada, digo que concordo com qualquer decisão que vá na contramão do consumismo maluco em que a gente se enfiou como civilização e que nos levará para o buraco. Através de objetos, enlatamos a felicidade – pronta para consumo, mas que dura pouco. Porque, como os produtos que a representam, possui sua obsolescência programada para dar, daqui a pouco, mais dinheiro a alguém. Então, parabéns a esses jovens.
Mas tenho presenciado muitas pessoas criticando a camada da população que o governo resolveu politicamente chamar de “nova classe média” mas que nada mais é que os pobres de sempre, agora com o poder de consumo. “Será que eles não vêm que isso está comprometendo o futuro das próximas gerações?”
Sim, está. Mas o ponto é que não é culpa (detesto essa palavra, por demaiscristã, desculpem) deles.
Os que têm dinheiro consumiram por gerações. Bem, vocês conhecem a história, esse debate tem pontos de semelhança com aquele que contrapõe, de um lado, países industrializados e, de outro, aqueles em processo de industrialização sobre o direito de poluir. O capitalismo nos Estados Unidos, Europa e Japão ajudou a colocar o termostato da grelha na posição “gratinar os idiotas lentamente” e a China, Índia, Brasil, entre outros, vão terminar o serviço, ajustando para “assar”. Daí as discussões pesadas sobre mecanismos de compensação. Que, apropriados pelo mercado, como o comércio de carbono, dão dinheiro para algumas pessoas, sem – em minha opinião – frear radicalmente o processo em direção à danação.
O paralelo exato com o comportamento de países, contudo, não é possível. Para atravessar esse processo de industrialização, os Estados mais atrasados passam por cima de suas populações desfavorecidas – a relação pornográfica do Brasil com cimento e vergalhão é um exemplo.
A discussão deste post não é essa, porém, mas como mudanças de comportamento dependem muito da experiência material de cada um – o que não é novidade para quem leu o velho de barba.
É mais fácil dizer “não” para o consumismo se você brotou em um ambiente com sua presença ou nele viveu. É mais simples optar por uma vida sem nada, se você teve tudo à disposição ou é herdeiro de algo. Se experimentou, constatou, informou-se e, conscientemente, se afastou.
Estou julgando quem tem? Não. Só estou dizendo que nós, que recebemos muito mais que a maioria, estamos em uma situação privilegiada para adotar certos comportamentos. É fácil ser crítico tendo estado lá ou tendo uma rede de segurança. Difícil é não cair na incredulidade de Tomé.
Preciso colocar o dedo na tomada para levar choque? Também não. Esse processo pode ser resolvido através do debate, da discussão, da informação. Mostrar que, infelizmente, o mundo não aguenta mesmo e outro padrão de desenvolvimento e de comportamento se faz necessário – bem como buscar a realização pessoal através de “ser” e não de “ter”. Isso inclui oferecer para essa camada social – que recebeu ordens para consumir loucamente pela felicidade, mas também pela pátria – uma inclusão por um bom transporte público, ao invés da cidadania pela compra de motos e carros de segunda mão.
A definição do que seja “necessário” pode ser bastante subjetiva, ainda mais que tornamos o excesso parte do dia-a-dia. É como não saber mais o que é real e o que é fantasia ou, pior, não ter ideia de como escolher entre o caminho irreal da felicidade e a via dura da abstinência.
É uma discussão lenta. E talvez nem tenhamos mais tempo para realiza-la e aplicá-la a tempo. Mas, de forma ditatorial, de cima para baixo, é que não vai funcionar mesmo.

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