sábado, 29 de junho de 2013

Primavera Brasileira ou golpe de direita? (3)


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Perguntas e respostas sobre um movimento que está mudando a cena do país – e cujo futuro, aberto, será decidido também por você
Por Antonio Martins Imagem: Ninja
3. Como foi possível converter manifestações autônomas por direitos em territórios de preconceitos e violência?
A guinada tática que a mídia e as forças conservadoras fizeram, no final de semana passado, está extremamente nítida na “autocrítica” de Arnaldo Jabor na TV Globo, e nas capas de Veja desta semana e da anterior. O caráter desta ação – que consiste em turbinar as manifestações e ao mesmo tempo esvaziar ou mesmo inverter seu sentido – está debatido na questão 1 deste texto. A forma mais eficaz de executá-la é difundir a bandeira “contra o corrupção”, que deriva para “contra a PEC-37”. Poucos a conhecem, mas ela aciona automaticamente a ideia de que punir – os corruptos, os menores infratores ou os que adotam atitude sexual “desviante” – é a solução para os problemas nacionais. Uma frase que circulava ontem (22/6) no Twitter, associada à tag “#calabocadilma”, ilustra de forma caricatural este tipo de associação . Perguntava: “Os médicos cubanos já chegarão sabendo fazer a ‘cura gay’, ou terão de aprender aqui?”…
Para enfrentar esta tentativa de captura é importante compreender de onde ela tira sua força. Os manifestantes, em sua esmagadora maioria, têm menos de 25 anos. Além disso, estão apenas iniciando sua participação formação política. Conhecem ainda pouco do contexto e história dos governos de esquerda e da história institucional do Brasil antes deles. Veem, com toda razão, que o país é muito injusto e há enorme promiscuidade entre política e poder econômico. Mas não enxergam que a bandeira “contra a corrupção”, genérica e difusa, poupa, ao invés de colocar em xeque, aqueles que se beneficiam de nossas desigualdades. Também não se dão conta que o “fora Dilma”, claramente insinuado pela mídia, significaria, nas condições da política institucional de hoje, abrir espaço um governo diretamente ligado às elites.
A manobra dos conservadores é, contudo, extremamente arriscada. Ao engrossarem as manifestações, eles permitem, aos que queremos mudanças reais, dialogar com um público muito mais amplo. Também por este motivo, a saída não está em “deixar as ruas”, mas em abrir, nelas e nas redes sociais, uma disputa profunda de projetos.

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