sábado, 29 de junho de 2013

Primavera Brasileira ou golpe de direita? (1)


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Perguntas e respostas sobre um movimento que está mudando a cena do país – e cujo futuro, aberto, será decidido também por você
Por Antonio Martins Imagem: Ninja
“O Brasil não é para principiantes”, disse certa vez o compositor Tom Jobim. A sabedoria destas palavras está ecoando de novo a cada dia, nas duas últimas semanas. Entre 6 e 19 de junho, uma onda avassaladora de protestos de rua resgatou a ideia de que as lutas sociais valem a pena e marcou a emergência de uma cultura política de autonomia, redes sociais e horizontalidade. Um dia depois, as manifestações que deveriam celebrar este resgate foram em parte capturadas. Resvalaram para episódios de autoritarismo e intolerância, depois que a crítica às injustiças e à ausência de direitos foi direcionada contra os governos de esquerda e seus limites (vale ler este texto do repórter Tadeu Breda). Muitos dos que haviam se manifestado desde o início chocaram-se e recuaram. Foi inteligente, mas é hora de um novo passo. As ruas não se calarão, se quem luta por justiça estiver afastado delas. É preciso – e é possível – disputá-las. Este texto tentará explicar por quê e como, na forma urgente e imperfeita das perguntas e respostas.
1. É possível falar em Primavera Brasileira?
Ainda não, mas há sinais muito animadores de uma grande onda de mobilizações por direitos sociais, capaz de expandir em muito as conquistas – importantes, porém limitadas – dos dez anos de governos de esquerda. Em torno de um tema catalizador (os transportes urbanos e sua tarifa), claramente associado às desigualdades e a um modelo de metrópoles cada vez mais rejeitado, milhões de pessoas foram às ruas, em centenas de cidades. Outras reivindicações do mesma natureza, como o direito à moradia, emergiram.
Uma das grandes novidades das manifestações é que tiveram perfil completamente distinto do que marcava as lutas sociais brasileiras. Não foram convocadas nem pelos partidos de esquerda, nem pelos movimentos sociais tradicionais. A partir do chamado de um pequeno grupo, o Movimento Passe Livre (MPL), as multidões autoconvocaram-se, usando as redes sociais. Esta cultura política de autonomia não é inteiramente nova. Foi ela que suscitou, no início do século, grandes eventos, como os Fóruns Sociais Mundiais. Porém, é a primeira vez que se torna realmente popular, praticada por multidões. Este fato pode ter enorme importância. Sacode um cenário político que tende à estagnação, já que esquerda no governo tem grandes compromissos com o poder econômico e avança muito devagar; mas a alternativa institucional viável a ela é muito pior: os partidos conservadores e neoliberais.
A partir de 15 de junho, este movimento sofreu uma interferência que pode paralisá-lo ou inverter seu sentido. A mídia e os partidos à direita do PT, que até então o demonizavam e reprimiam, fizeram um grande giro tático. Passaram a turbiná-lo, ao mesmo tempo em que tentam capturá-lo. Procuram esvaziar a reivindicação de direitos e igualdade (ou seja, seu caráter “perigoso” de crítica social) e suscitar, em seu lugar, a luta genérica “contra a corrupção”. Ao fazê-lo tentam, ao mesmo tempo, voltar o movimento contra os governos de esquerda. Tirá-los do poder, seja de que modo for, é algo que, nos últimos dez anos, nunca saiu da agenda da direita.
Esta tentativa de captura é poderosa, porque a mídia de massas, embora desgastada e em declínio, ainda tem enorme influência no Brasil. Por isso, o futuro do movimento está em aberto. Vai depender de nossa capacidade de compreender o cenário e agir com sagacidade.

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