A desonestidade da imprensa brasileira na cobertura das manifestações contra o aumento da passagem no Rio e em São Paulo.
Julia Maria Ferreira
Julia Maria Ferreira
“A marcha da insensatez” foi assim o nome dado pelo Globo na quarta-feira às manifestações que reivindicam a redução da tarifa de ônibus, melhoria no transporte público, fim da dupla função e passe livre para estudantes. Hoje, a Folha de São Paulo disse que o prefeito Fernando Haddad não vai se “submeter” as exigências do movimento. Bom, uma coisa é você dizer que o prefeito não vai “atender”, outra é o uso de uma palavra que tem um significado muito diferente, de submissão, de dominação. É a escolha da palavra que me assusta.
Pensando que isso poderia ser somente a opinião do jornal e acabou, eu dormiria até em paz. Mas não, esse é também o fio condutor de cada reportagem. E é o uso errado de palavras para se construir um sentido que deturpa a História e confunde o leitor que me tira o sono.
Cadê a Fetranspor nas matérias? Cadê as perguntas certas para os governantes, Grande Imprensa? A quem vocês servem? Quem são essas pessoas que gritam palavras de ordem e pulam pelas ruas dos centros mais importantes do Brasil? Mas não, o pensamento é um só: “vamos reduzir o debate à violência e ao vandalismo”. Lógico, é o que vende, é o que assusta e é o que eles esperam que vá manter a ordem.
É um triste retrato de imprensa cega e submissa aos valores do capital. É um empobrecimento do debate e um desserviço à democracia. A violência não deve ser atiçada ou condenada pelos meios de comunicação, mas entendida. Seja a violência do Estado ou os atos de violência civil, que talvez sejam resposta à repressão policial, ou talvez seja o grito de uma população cansada de tanta opressão, de tanto cale-se. Como se não bastasse a desonestidade do governo, precisamos ainda contornar a falta de compromisso da imprensa com as lutas sociais.
Mas, como disse Arnaldo Jabor, nós não valemos nem 20 centavos.
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