segunda-feira, 12 de maio de 2014

Valcke faz alerta ao dizer que "Brasil não é como Alemanha"

"Não adotem os mesmo comportamentos e o mesmo planejamento como se estivessem na Copa de 2006", afirma o secretário-geral da Fifa.

09/05/2014 | 17h47
Valcke faz alerta ao dizer que "Brasil não é como Alemanha" Cristiano Estrela/Agencia RBS
Foto: Cristiano Estrela / Agencia RBS
A Fifa faz um alerta aos milhares de torcedores estrangeiros que nas próximas semanas começarão a desembarcar no Brasil para acompanhar a Copa: "Não adotem os mesmo comportamentos e o mesmo planejamento como se estivessem na Alemanha, na Copa de 2006". Quem reconhece isso é o próprio secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, principal responsável pela organização do Mundial. "Não apareça (no Brasil) achando que é a Alemanha", reforçou ele.
Em uma conversa com agências internacionais nesta semana em Zurique, Valcke admitiu que, desta vez no Brasil, os torcedores não poderão dormir em seus carros ou em barracas como fizeram em 2006 na Alemanha e nem usar trens para ir de uma sede a outra. Ele foi claro ao alertar que quem mais vai sofrer durante a Copa deste ano são os torcedores, por conta das distâncias, falta de estrutura, preços altos, insegurança e falta de transportes.
— Eu sei que é difícil falar sem criar uma série de problemas. Mas minha mensagem para os torcedores é de que tenham certeza de que têm tudo organizado quando viajarem ao Brasil —, avisou.
— Não há como dormir na praia, porque é inverno. Garanta sua acomodação. Não há como chegar com uma mochila e começar a andar. Não existem trens, não se pode dirigir de uma sede à outra", explicou Valcke.
— Não apareçam no Brasil pensando que é a Alemanha, que é fácil se mover pelo país. Na Alemanha, você poderia dormir no carro. No Brasil, não —, reforçou.
— O maior desafio será para eles (torcedores). Não será para a imprensa, não será para os times nem dirigentes. Será para os torcedores. —
O secretário-geral da Fifa admitiu que, ainda em 2009, a entidade sabia dos limites do Brasil em relação à infraestrutura de aeroportos. Mas a aposta era de que haveria tempo suficiente para que todas as reformas fossem feitas.
— Sabíamos disso. Mas isso era em 2009 e podemos esperar que você tem cinco anos para um país garantir que as estruturas estejam instaladas para entregar o que havia sido acordado —, lembrou.
Acréscimo de sedes
Ele ressaltou que a decisão de estruturar a Copa da forma que ela vai ocorrer não foi ideia da Fifa. Segundo Valcke, foi o governo brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, que fizeram questão de insistir com a entidade de que o Mundial teria de ocorrer em 12 cidades, ao invés das oito planejadas, e que as seleções não poderiam ficar em apenas uma região do País.
— É verdade que você multiplica os riscos ao ter mais estádios. Mas tivemos uma situação em que tínhamos um governo e um presidente, que naquele momento era o Lula, que te explicam que a Copa deve ser para todo o Brasil e não apenas para poucas cidades —, lembrou Valcke.
O dirigente admitiu ainda que o "lógico" seria dividir as 32 seleções em quatro grupos regionais, justamente para evitar que tivessem de sair de Manaus e jogar em Porto Alegre ou de São Paulo para Recife. "Isso evitaria que eles tivessem de se mover para outras zonas do Brasil", declarou. Mas a Fifa acabou sendo obrigada a abandonar a ideia de dividir o País em quatro, justamente por causa da insistência da CBF e do governo de que a seleção brasileira iria percorrer o Brasil em seus jogos.
Segundo Valcke, esse também foi um pedido do Brasil.
— Eles não queriam que o Brasil jogasse apenas em uma parte do País —, disse.
O problema é que, para o calendário da Copa funcionar, todos, então, teriam de viajar. Valcke apontou que a mudança de governo no Brasil no meio da preparação também afetou o andamento do processo.
— Encaramos uma eleição geral no Brasil e não foi fácil sair de Luiz Inácio Lula da Silva para uma nova presidente. Sempre leva algum tempo para um novo governo entrar nos assuntos e tivemos também um número elevado de mudanças de ministros —, revelou.
Futuro
Valcke não escondeu que a experiência no Brasil o leva a pensar que a Fifa, para as futuras edições da Copa, deve adotar uma nova postura e exigir maiores compromissos do país-sede.
— Deve ser pelo menos parte do processo de candidatura que haja compromisso do país em uma série de pontos —, declarou.
Uma opção, segundo ele, é de que haja uma decisão vinda do Poder Legislativo sobre esses compromissos, e não apenas do presidente, no momento da escolha do país.
— Não pode ser apenas a decisão do presidente ou de um ministro. Mas deve ser apoiado pelo Senado, Congresso ou Assembleia Nacional —, defendeu. Isso, na visão de Valcke, evitaria "potenciais conflitos".
Estadão Conteúdo

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