40 ANOS SE PASSARAM
Em agosto deste ano, 2012, vai completar 40 anos que pela primeira vez
fui a Santa Teresa, numa missão muito ingrata e constrangedora: comunicar ao
cientista Augusto Ruschi que ele não poderia falar na semana da Engenharia
daquele ano, 1972, uma promoção já tradicional na vida acadêmica dos estudantes. O convite
ao cientista era para ter dele, um homem estudioso dos problemas ambientais, a
sua opinião sobre o projeto do complexo siderúrgico que estava sendo projetado
para a área do Porto de Tubarão. Certamente ele iria abordar a direção dos
ventos, que ele iria abortar como ponto central a ação do vento nordeste, aquele
que passa pelo município de Serra e vem em direção a cidade de Vitória e depois
passa por Cariacica, Vila Velha e Viana.
Na época a proibição foi feita pela Reitoria da Universidade Federal do
Espírito Santo. A delegação incumbida de levar a triste mensagem era composta
pelos estudantes de Engenharia, Carlos Alberto Perim (presidente do Diretório
Acadêmico) e José Fernando Destefani dos Santos, Domingos Perim que era dono do
carro e este quem escreve estas linhas que estava começando a se aproximar do
cientista, em função do seu trabalho jornalístico no jornal O Diário.
Lá em Santa Teresa entramos por um portão secundário e fomos encontrar
com Ruschi, que nos esperava na varanda. Depois de receber o relato, Ruschi foi
direto e objetivo: estão querendo calar a minha voz na minha terra ao me
proibirem de falar aos universitários. A voz abafada pela Ufes, mas após aquele
dia em diante, Ruschi bradou e gritou sempre mais alto, mesmo que não tivesse
acolhida por parte das autoridades.
Uma lembrança que carrego é o momento que Ruschi chorou ao saber da
barreira, mais uma das muitas que ergueram contra ele. A Ufes que deveria ser o
centro de acolhimento das divergências e das diferenças entre pessoas, grupos,
idéias, ideologias e entidades, passou a ser o centro da censura. A direção da
Ufes negou com violência e truculência a participação de Augusto Ruschi no
debate sobre as conseqüências que a
instalação de um complexo siderúrgico traria para a comunidade da Grande
Vitória em termos de meio ambiente. Naquele momento o papel da Universidade foi
subtraído e jogado no lixo como centro formador de opinião e um centro
democrático do saber. Assim agem os prepotentes e os seus agentes, assim agiu a
Universidade Federal do Espírito Santo. A direção da Universidade apequenou-se.
Assim se age numa terra onde a arrogância e a prepotência estão acima e em cima do conjunto da população.
Assim foi feito e Augusto Ruschi não falou na Semana da Engenharia, que
inclusive não aconteceu. Mas a voz de Augusto Ruschi ecoou em outros lugares,
bem como o vento nordeste continua insistindo em tocar no sentido Serra
para Vitória por meses e meses. Não há ninguém que mude esta
rota..., nem a arrogância dos prepotentes e a censura.
ronaldmansur@gmail.com
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