A GAZETA 5-9-1991
A imprensa nacional dá um grande destaque ao Ciep, que
é uma nova maneira de ver a educação, trabalho implantado no primeiro mandato
do Governador Leonel Brizola do Rio de Janeiro. Agora novamente volta o sistema
Ciep, onde o aluno tem um atendimento integral na escola, com a possibilidade
do governo Collor de Mello encampar a idéia e construir um total de 5.000 Cieps
em todo Brasil. Para o problema urbano da educação, a decisão de apoiar a
iniciativa merece o apoio de todos.
Hoje no Brasil, mais urbano do que rural, os problemas
das cidades geralmente merecem mais destaque, mais verbas e mais atenção do que
os problemas rurais. Na educação está situação também é verdadeira.
As informações que temos é que o Governo Federal, ao
apoiar o sistema Ciep, mudaria o seu nome para Casa Comunitária, uma maneira
sutil de dissimular a adoção de uma idéia.
No Espírito Santo há no meio rural um sistema escolar
que funciona há 23 anos, é a Escola Família Agrícola (EFA) do Movimento de
Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES) fundado pelo jesuíta italiano
Humberto Pietrogrande com a finalidade de formar as pessoas para que elas
continuem vivendo e trabalhando no campo. A idéia foi uma ação no sentido de
estancar a migração para os centros urbanos e daí para a marginalidade. Campo,
cidade e marginalidade: três passos muito conhecidos da realidade brasileira.
O sistema de ensino do Mepes tem como ponto de partida
a alternância, isto é, um tempo o aluno passa na escola e outro tempo na sua
casa, em família. No 1º grau a alternância é de sete dias e no 2º grau passa
para 15 dias. Ela evita a perda de contato do jovem com a sua casa, com a sua
realidade.
Quando o jovem vai para casa ele leva tarefas para
desenvolver junto com a sua família e com sua comunidade, que é chamado de
plano de estudo. Fazer um levantamento histórico da ocupação da propriedade, da
origem da família, do trabalho da cooperativa e do sindicato, são temas do
plano de estudo. Uma síntese da realidade. É neste momento, o da realidade, que
a compreensão se torna mais franca e mais aberta. É nas mesclagens de opiniões
e de realidades que a EFA tem o seu grande momento.
Hoje já são centenas de ex-alunos que continuam no
meio rural, lutando diariamente para serem verdadeiros agricultores e não
potenciais migrantes. A manutenção deste esquema de ensino se dá com a
colaboração de prefeituras, Governo do Estado e também com recursos das
famílias, que custeiam a alimentação durante o tempo que o aluno fica na EFA.
As construções, bem como a pequena propriedade onde está a EFA, são obras
vindas quase que exclusivamente das famílias rurais.
Por um determinado tempo o Mepes recebeu ajuda
financeira de um grupo de amigos do Padre Humberto, que moram na cidade de
Pádova, na Região do Veneto, Norte da Itália, de onde veio a maioria dos
imigrantes italianos para o Estado. Lá existe a Associação dos Amigos do Estado
do Espírito Santo (AES). Hoje o Mepes é mantido basicamente com recursos
locais, mas a AES continua ajudando o Mepes e atendendo a outras regiões do
Brasil mais carente.
Pois é, enquanto se começa a discutir a construção de
5.000 Cieps, uma associação da idéia de Leonel Brizola com os recursos do
Governo Collor como uma solução para a educação urbana, no Estado já há uma
solução para o problema da educação rural.
Se a idéia da educação diferente deu certo no Espírito
Santo e hoje não é mais uma experiência, mas sim um modelo sólido, deve-se
saber que as dificuldades para o seu financiamento continuam grandes. Os
deslocamentos dos dirigentes do Mepes em busca de recursos nas prefeituras e no
Governo do Estado constituem peregrinação constante, entra ano, sai ano. Quem
visita uma escola do Mepes nunca verá um reforma sendo feita por estar o imóvel
deteriorado, como vemos nas redes públicas municipal e estadual. Verá na
verdade ampliações com a finalidade de se atender a um número sempre crescente
de interessados na educação diferente que não separa o jovem da sua realidade e
da sua família.
Hoje, o Espírito Santo tem uma escola rural que não é
passaporte para o êxodo rural. As dificuldades do Mepes não são pequenas, mas
não constituem problema para levar os mepianos ao desânimo, muito pelo
contrário, são estímulos e sinais de que o trabalho é árduo difícil. O Mepes
com 23 anos continua formando agricultores conscientes de suas
responsabilidades. A EFA é uma escola integral e assim deve ser vista e apoiada
por todos.
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