sábado, 17 de março de 2012


EDUCAÇÃO RURAL CONTEM O ÊXODO
JORNAL A GAZETA 12-02-1987

O Governador eleito Max Mauro, foi na última terça-feira, dia 10, conhecer a estrutura e o funcionamento do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES), que tem a sua sede em Anchieta e  a sua atuação prática espalhada por vários municípios capixabas (Iconha, Alfredo Chaves, Rio Novo do Sul, São Gabriel da Palha, Rio Bananal, Boa Esperança, Montanha, Pinheiros, Jaguaré, São Mateus, Anchieta e Nova Venécia).
Atuando basicamente na educação rural, o Mepes tem as suas bases assentadas em três pontos básicos: ver, julgar e agir. Já com 20 anos de funcionamento no Estado, o Mepes impressiona a todos que o conhecem. Para os que têm um compromisso com a questão social e acreditam numa sociedade justa e equilibrada, a impressão do Mepes é das melhores. Já o grupo das pessoas que vêem nas mudanças sociais a possibilidade real de término dos seus privilégios, o Mepes é compreendido como um agrupamento de pessoas sonhadoras e utópicas. Este último grupo quer ver o Mepes pelas costas.
Convém explicar que sob a responsabilidade do Mepes estão várias escolas de primeiro grau, um hospital, creches e também duas escolas de segundo grau. A finalidade da educação transmitida pelas escolas é no sentido de fixar as pessoas no meio rural. Atuando de forma inversa ao ensino rural oficial, onde o jovem é retirado do campo e enclausurado numa sala de aula e depois  no passo seguinte a cidade, o Mepes é “escola para a vida’’, conforme recente estudo feito por dois ex-alunos da Faculdade de Filosofia e Letras de Cachoeiro de Itapemirim.
Enquanto, no ensino oficial rural, o jovem é seqüestrado de sua casa e nunca mais é devolvido ao seu meio, no  Mepes o sistema de alternância (uma semana na escola e outra em casa) dá a oportunidade  à família de também absorver os conhecimentos transmitidos na escola. No período que o jovem passa em sua casa, ele desenvolve atividades agrícolas e sociais, por intermédio de um plano de estudos. Trabalhos sobre cooperativismo, sindicalismo, comercialização, origem das famílias e medicina caseira entre outras coisas. É nesta condução dos trabalhos que embarca toda família e toda comunidade. Daí dizer que o Mepes é a educação da base.
Durante três horas Max Mauro ouviu depoimentos de líderes rurais dos municípios onde o Mepes está presente. Viu  estatísticas, viu o padre Humberto Pietrogrande (fundador da entidade) dizer que o Mepes era um sinal de vida e que o seu objetivo é o de liberar o homem rural- ‘’homem ainda não poluído, porque ele ainda está na natureza criada por Deus. Hoje, Governador, é a oportunidade para conhecer o Mepes, ver como é aplicado o dinheiro que o Governo nos repassa.”
Os depoimentos iam correndo mansamente, quando o jovem Antonio Carlos Petri (aluno do Mepes e presidente da Associação dos Bananicultores) relatou o surgimento da Associação e, logo em seguida da Cooperativa dos Bananicultores. Petri afirmou que a situação dos produtores de banana, quando não tinham organização, era muito difícil devido às grandes dimensões do grupo de intermediação. Relatou numa definição clara a dificuldade de sobrevivência do produtor dizendo: não é fácil nascer no meio dos tubarões, mas o mais difícil é crescer no meio deles”.
Tive a oportunidade de relatar três acontecimentos relativos à vida do Mepes que vivenciei. O primeiro foi o processo gerado pela denúncia de um deputado estadual da ex-Arena contra o Mepes. O então governador Eurico Rezende, com a sua visão imperial e autoritária, afirmou: o Mepes não é subversivo, mas é de oposição. O Padre Humberto ouviu tudo e lhe disse: o Mepes não está à venda, vou relatar tudo isto à Assembléia Estadual das Escolas Família Agrícolas.
O segundo episódio ocorreu logo que Gerson Camata tomou posse. Neste fato estive presente em todo o seu tempo. Padre Humberto encontrou o Governador numa solenidade na Assembléia Legislativa e mostrou interesse em uma audiência. Camata imediatamente a marcou para as 16 horas. No entanto, por mais de três horas o Padre Humberto ficou esperando para ser atendido e, quando finalmente foi recebido (por interferência do advogado Vitor Costa) falou em italiano para o governador, que traduziu imediatamente:
- Conversa franca amizade longa.
Daí para frente a conversa foi em português.
Já o terceiro episódio ocorreu quando da ida de Padre Humberto para o Piauí, onde está dando início a um trabalho igual do Espírito Santo. Neste episódio mais uma vez a presença de Camata. Quando o ônibus 7007 da Viação Itapemirim com destino a Salvador dava partida comentei com o Governador que Padre Humberto deu início ao erguimento de uma imensa obra educacional no Espírito Santo e hoje vai embora anonimamente com uma pequena maleta. Deixou tudo para os capixabas e vai ser nosso credor eternamente.
Ainda na Rodoviária, Camata comentou que no Governo anterior haviam vendido a Fábrica deTecidos de Cachoeiro de Itapemirim (um patrimônio público) recebendo em pagamento um cheque em libras esterlinas sem fundos e ainda pegando troco, sendo que no final da tarde foram bater palmar para a trupe de sabidos no Aeroporto de Goiabeiras.
Já o Governador Max Mauro ficou conhecendo uma das obras fantásticas no setor de educação rural. Uma obra feita e trabalhada com a presença do homem rural capixaba e um grupo de abnegados. Uma obra que já teve sua estrutura e sua idéia básica passadas para outros Estados.
Concordando com as nossas palavras, de que o estado estava inadiplente com o Mepes, Max Mauro afirmou:
- Viemos homenageá-los e acho que a maior homenagem é estimular e ajudar o Mepes. Assumo hoje esse compromisso. Vamos nos espelhar nesta iniciativa. Gostaria de nos encontrar novamente, após 15 de março, para que o nosso Governo conheça o Mepes”.
Mais adiante falou:
-Vinte anos representa muito pouco para a grande obra que é o Mepes, obra com base firme. Quero que vocês me advirtam e cobrem sempre, porque será sempre no caminho do Padre Humberto que vamos fazer o nosso Governo.
O dia 10 de fevereiro vai ficar marcado como sendo a data que o futuro Governador capixaba conheceu de perto o coração do Mepes(pessoas que dedicam de corpo e alma à educação rural).
É como estava escrito no quadro:
Encontrar-se para conhecer-se.
Conhecer-se para caminha juntos.
Caminhar juntos para crescer.
Crescer para amar mais.
Uma etapa vencida a 10 de fevereiro.
Finalizando é importante transcrever uma outra inscrição no quadro:
- Agora vale a vida
Agora vale a verdade
E de mãos dadas trabalharemos juntos
Pela vida verdadeira
Para que todos tenham vidas.

Uma etapa a vencer nos próximos quatro anos. Nós queremos ver esta etapa cumprida,porque vamos no futuro, carimbá-la como quitada ou como  um cheque sem fundo.
Texto 2 do livro – MEPES 25 ANOS. CONVERSA FRANCA AMIZADE LONGA. O NOSSO TESTEMUNHO E A NOSSA ESPERANÇA. RONALD MANSUR, ELIANE STAUFFER DE ANDRADE MANSUR, AUGUSTO DE ANDRADE MANSUR, VINÍCIUS DE ANDRADE MANSUR E HELENA DE ANDRADE MANSUR.

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