EDUCAÇÃO
RURAL CONTEM O ÊXODO
JORNAL
A GAZETA 12-02-1987
O
Governador eleito Max Mauro, foi na última terça-feira, dia 10, conhecer a
estrutura e o funcionamento do Movimento de Educação Promocional do Espírito
Santo (MEPES), que tem a sua sede em Anchieta e
a sua atuação prática espalhada por vários municípios capixabas (Iconha,
Alfredo Chaves, Rio Novo do Sul, São Gabriel da Palha, Rio Bananal, Boa
Esperança, Montanha, Pinheiros, Jaguaré, São Mateus, Anchieta e Nova Venécia).
Atuando
basicamente na educação rural, o Mepes tem as suas bases assentadas em três
pontos básicos: ver, julgar e agir. Já com 20 anos de funcionamento no Estado,
o Mepes impressiona a todos que o conhecem. Para os que têm um compromisso com
a questão social e acreditam numa sociedade justa e equilibrada, a impressão do
Mepes é das melhores. Já o grupo das pessoas que vêem nas mudanças sociais a
possibilidade real de término dos seus privilégios, o Mepes é compreendido como
um agrupamento de pessoas sonhadoras e utópicas. Este último grupo quer ver o
Mepes pelas costas.
Convém
explicar que sob a responsabilidade do Mepes estão várias escolas de primeiro
grau, um hospital, creches e também duas escolas de segundo grau. A finalidade
da educação transmitida pelas escolas é no sentido de fixar as pessoas no meio
rural. Atuando de forma inversa ao ensino rural oficial, onde o jovem é
retirado do campo e enclausurado numa sala de aula e depois no passo seguinte a cidade, o Mepes é “escola
para a vida’’, conforme recente estudo feito por dois ex-alunos da Faculdade de
Filosofia e Letras de Cachoeiro de Itapemirim.
Enquanto,
no ensino oficial rural, o jovem é seqüestrado de sua casa e nunca mais é
devolvido ao seu meio, no Mepes o
sistema de alternância (uma semana na escola e outra em casa) dá a
oportunidade à família de também
absorver os conhecimentos transmitidos na escola. No período que o jovem passa
em sua casa, ele desenvolve atividades agrícolas e sociais, por intermédio de
um plano de estudos. Trabalhos sobre cooperativismo, sindicalismo,
comercialização, origem das famílias e medicina caseira entre outras coisas. É
nesta condução dos trabalhos que embarca toda família e toda comunidade. Daí
dizer que o Mepes é a educação da base.
Durante
três horas Max Mauro ouviu depoimentos de líderes rurais dos municípios onde o
Mepes está presente. Viu estatísticas,
viu o padre Humberto Pietrogrande (fundador da entidade) dizer que o Mepes era
um sinal de vida e que o seu objetivo é o de liberar o homem rural- ‘’homem
ainda não poluído, porque ele ainda está na natureza criada por Deus. Hoje,
Governador, é a oportunidade para conhecer o Mepes, ver como é aplicado o
dinheiro que o Governo nos repassa.”
Os
depoimentos iam correndo mansamente, quando o jovem Antonio Carlos Petri (aluno
do Mepes e presidente da Associação dos Bananicultores) relatou o surgimento da
Associação e, logo em seguida da Cooperativa dos Bananicultores. Petri afirmou
que a situação dos produtores de banana, quando não tinham organização, era
muito difícil devido às grandes dimensões do grupo de intermediação. Relatou
numa definição clara a dificuldade de sobrevivência do produtor dizendo: não é
fácil nascer no meio dos tubarões, mas o mais difícil é crescer no meio deles”.
Tive
a oportunidade de relatar três acontecimentos relativos à vida do Mepes que
vivenciei. O primeiro foi o processo gerado pela denúncia de um deputado
estadual da ex-Arena contra o Mepes. O então governador Eurico Rezende, com a
sua visão imperial e autoritária, afirmou: o Mepes não é subversivo, mas é de
oposição. O Padre Humberto ouviu tudo e lhe disse: o Mepes não está à venda,
vou relatar tudo isto à Assembléia Estadual das Escolas Família Agrícolas.
O
segundo episódio ocorreu logo que Gerson Camata tomou posse. Neste fato estive
presente em todo o seu tempo. Padre Humberto encontrou o Governador numa
solenidade na Assembléia Legislativa e mostrou interesse em uma audiência.
Camata imediatamente a marcou para as 16 horas. No entanto, por mais de três
horas o Padre Humberto ficou esperando para ser atendido e, quando finalmente
foi recebido (por interferência do advogado Vitor Costa) falou em italiano para
o governador, que traduziu imediatamente:
-
Conversa franca amizade longa.
Daí
para frente a conversa foi em português.
Já
o terceiro episódio ocorreu quando da ida de Padre Humberto para o Piauí, onde
está dando início a um trabalho igual do Espírito Santo. Neste episódio mais
uma vez a presença de Camata. Quando o ônibus 7007 da Viação Itapemirim com
destino a Salvador dava partida comentei com o Governador que Padre Humberto
deu início ao erguimento de uma imensa obra educacional no Espírito Santo e
hoje vai embora anonimamente com uma pequena maleta. Deixou tudo para os
capixabas e vai ser nosso credor eternamente.
Ainda
na Rodoviária, Camata comentou que no Governo anterior haviam vendido a Fábrica
deTecidos de Cachoeiro de Itapemirim (um patrimônio público) recebendo em
pagamento um cheque em libras esterlinas sem fundos e ainda pegando troco,
sendo que no final da tarde foram bater palmar para a trupe de sabidos no
Aeroporto de Goiabeiras.
Já
o Governador Max Mauro ficou conhecendo uma das obras fantásticas no setor de
educação rural. Uma obra feita e trabalhada com a presença do homem rural
capixaba e um grupo de abnegados. Uma obra que já teve sua estrutura e sua
idéia básica passadas para outros Estados.
Concordando
com as nossas palavras, de que o estado estava inadiplente com o Mepes, Max
Mauro afirmou:
-
Viemos homenageá-los e acho que a maior homenagem é estimular e ajudar o Mepes.
Assumo hoje esse compromisso. Vamos nos espelhar nesta iniciativa. Gostaria de
nos encontrar novamente, após 15 de março, para que o nosso Governo conheça o
Mepes”.
Mais
adiante falou:
-Vinte
anos representa muito pouco para a grande obra que é o Mepes, obra com base
firme. Quero que vocês me advirtam e cobrem sempre, porque será sempre no
caminho do Padre Humberto que vamos fazer o nosso Governo.
O
dia 10 de fevereiro vai ficar marcado como sendo a data que o futuro Governador
capixaba conheceu de perto o coração do Mepes(pessoas que dedicam de corpo e
alma à educação rural).
É
como estava escrito no quadro:
Encontrar-se
para conhecer-se.
Conhecer-se
para caminha juntos.
Caminhar
juntos para crescer.
Crescer
para amar mais.
Uma
etapa vencida a 10 de fevereiro.
Finalizando
é importante transcrever uma outra inscrição no quadro:
-
Agora vale a vida
Agora
vale a verdade
E
de mãos dadas trabalharemos juntos
Pela
vida verdadeira
Para
que todos tenham vidas.
Uma
etapa a vencer nos próximos quatro anos. Nós queremos ver esta etapa
cumprida,porque vamos no futuro, carimbá-la como quitada ou como um cheque sem fundo.
Texto 2 do livro – MEPES 25 ANOS.
CONVERSA FRANCA AMIZADE LONGA. O NOSSO TESTEMUNHO E A NOSSA ESPERANÇA. RONALD
MANSUR, ELIANE STAUFFER DE ANDRADE MANSUR, AUGUSTO DE ANDRADE MANSUR, VINÍCIUS
DE ANDRADE MANSUR E HELENA DE ANDRADE MANSUR.
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