E o agricultor?
Abandonado totalmente, sem recursos, sem orientação,
isolado, desprezado, ludibriado, enganado por todos aqueles que exploravam o
seu trabalho, porque necessitados do quanto ele produzia, usando da ignorância
e da sua honestidade para se enriquecer cada vez mais.
As palavras acima descrevem o quadro rural do Espírito
Santo no final do ano de 1963 até o início de 1969, visto pelo hoje padre
Humberto Pietrogrande, um italiano que foi ordenado no Rio Grande do Sul. Vindo
da região do Veneto, de onde também veio a quase totalidade dos italianos para
o Espírito Santo. Pietrogrande saiu da constatação de uma realidade para uma
atitude prática: fez tremular a bandeira de uma escola rural diferente, estava
fundado no dia 26 de abril de 1968 o Movimento de Educação Promocional do
Espírito Santo(MEPES).
Hoje o Mepes complega 20 anos, uma caminhada dura,
cheia de dificuldades, mas vitoriosa. Mesmo mantendo um Hospital, 11 Creches,
um Centro de Formação de Monitores, 11 Escolas de primeiro grau e duas de
segundo grau, o Mepes é ainda pouco conhecido da população em geral.
Basicamente o aluno do Mepes alterna períodos na
escola e períodos na sua casa, constituindo num elo escola-família. Desta forma
temos a alternância, que é o pilar da educação, da formação do estudante e o
próprio sangue do sistema Mepes. A educação neste caso é viva e está em
constante movimento e evolução. A escola não isola e nem anula o estudante, ela
o faz crescer e a sua família. Numa visão mais ampla a comunidade também é
envolvida.
A alternância é na prática uma inter-relação perfeita,
onde a família e a escola se contrapõem e se interligam na busca do
autoconhecimento. Na medida que a escola e a família estabelecem uma via de
comunicação, com mão e contra mão, elas crescem juntas, estamos nesta fase
entrando na escola da vida real.
Hoje o Mepes está presente em Anchieta, Alfredo
Chaves, Iconha, Rio Novo do Sul, Rio Bananal, Jaguaré, São Gabriel da Palha, Boa
Esperança, Montanha, Nova Venécia e Pinheiros. Quando a presença do Mepes se
efetiva em uma determinada região, podemos ter certeza de que ali está a
vontade da comunidade, porque todo processo é debatido e decidido pela e com a
comunidade. O Mepes materializado é a vontade coletiva de uma comunidade.
A idéia da Escola Família começou no Brasil aqui no
Espírito Santo (mas tem origem na Franca) e atualmente está presente em vários
Estados da Federação. Quando o padre Humberto veio para o Espírito Santo de
debatia nas comunidades e com as autoridades a sua idéia de implantar a escola
família, na Região do Veneto em Pádova, um grupo de seus amigos criava a
Associação dos Amigos do Estado do Espírito Santo (AES). Nascia então um elo da
corrente, que mais tarde seria acompanhado da criação do Mepes e de uma série
de entidades em outros Estados. A corrente que se criou nunca foi para aprisionar,
mas para libertar e dar dignidade ao homem do campo.
O Mepes dá um exemplo fantástico de intercâmbio, na
medida que a AES na Itália deu cobertura a viagens de estudos a muitos brasileiros,
bem como a presença em território capixaba de voluntários italianos e até mesmo
recursos financeiros. Foi este nosso Brasil e este pequeno Espírito Santo que
acolheu os italianos que para aqui vieram no final do século passado. Hoje tivemos
a recompensa e o reconhecimento dos que lá ficaram, porque a AES sempre esteve
presente na vida do Mepes. O relacionamento sempre foi o da fraternidade.
Nestes 20 anos o Espírito Santo deve muito ao Mepes e
aos seus servidores. Foram centenas de pessoas que passaram pelas escolas do
Mepes, são centenas de jovens rurais que lá estão hoje e certamente no futuro
muitas outras centenas serão beneficiadas. Não devemos nos esquecer que um
aluno representa, na realidade, uma família e até mesmo uma comunidade.
A caminhada vitoriosa do Mepes teve a ajuda de órgãos federais,
estadual e das municipalidades. Mas foi a determinação e a força comunitária o
pilar central. O Mepes há pouco publicou um documento ‘’Relendo nossa Caminhada’’,
onde logo no início dá o tom do seu trabalho. A educação há de mostrar ao homem
que a sua vocação é:
Responsabilizar-se e não interessar-se.
Trabalhar e não anular a vida.
Libertar e não explorar os outros.
Crescer e não apodrecer na inércia.
Inquietar-se e não acomodar-se.
Caminhar juntos e não competir.
Participar e não só comparecer.
Hoje muitos e muitos querem conhecer o Mepes. A curiosidade
se dá pelo sistema da alternância e pelos resultados obtidos nestes poucos anos
de vida. A nossa expectativa é de que o querer conhecer seja acompanhado do
querer viver com o Mepes e viver o Mepes
Nota, este
texto é o de número 6 do livro MEPES 25 ANOS. CONVERSA FRANCA, AMIZADE LONGA. O
NOSSO TESTEMUNHO E A NOSSA ESPERANÇA. Ronald Mansur, Eliane Stauffer de Andrade
Mansur, Augusto de Andrade Mansur, Vinícius de Andrade Mansur e Helena de
Andrade Mansur
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