terça-feira, 20 de março de 2012

ESCOLA RURAL GANHA ESPAÇOEM TODO ESTADO


ESCOLA RURAL GANHA ESPAÇOEM TODO ESTADO
A Gazeta21-05-1989
No interior do Espírito Santo tem em funcionamento um sistema escolar rural diferente e eficiente. Atualmente são 11 unidades de primeiro grau e duas de segundo grau, com um total de 1.021 alunos. Já com 20 anos de fundado, o modelo de escola adaptado a realidade rural capixaba luta ainda com grandes dificuldades, principalmente com relação ao Poder Púbico, que dá uma contribuição financeira diminuta pelo trabalho que é realizado. Na realidade estas escolas estão suprindo, com eficiência, a ausência do Estado que, conforme a Constituição, é o responsável pela educação.
A escola diferente que falamos é a Escola Família Agrícola, uma idéia original da França e que no Brasil começou no Espírito Santo e hoje está presente em Anchieta, Rio Novo do Sul, Iconha, Alfredp Chaves, Rio Bananal, Jaguaré, São Gabriel da Palha, São Mateus, Montanha, Boa Esperança, Pinheiros e Nova Venécia. A escola diferente é uma escola que é da comunidade, porque esta a coloca literalmente nas costas. Uma escola de verdade, que forma as pessoas para a vida, para o trabalho e para servir.
A Escola Família é ligada ao Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes), com sede em Anchieta. Além de assessorar entidades a nível nacional, tem, desde a sua fundação, apoio da Associação dos Amigos do Estado do Espírito Santo (AES), com sede em Pádova, Itália. Hoje o modelo capixaba já está presente em Minas Gerais, Paraná, Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Amapá, Amazonas e Rondônia.
FILOSOFIA
- O HOMEM DEVE FICAR NO CENTRO DE QUALQUER PROCESSO DE TRANSFORMAÇAO; PARA INDICAR CLARAMENTE QUE NÃO DEVE SER SOMENTE A EDUCAÇÃO DE UMA SÓ PESSOA, E SIM NUM ASPECTO COMUNITÁRIO, ISTO É, O HOMEM DEVE SE EDUCAR PROMOVENDDO SEU AMBIENTE.
Acima a definição precisa do que é a ação mais mais concreta e positiva em termos de educação rural no Brasil. As palavras são do padre Humberto Pietrogrande, um jesuíta italiano radicado há mais de 20 anos no Brasil. O mais importante de tudo isto é a descrição feita é de um sistema de ensino que está presente em muitos municípios capixabas. Estamos falando do Mepes.
Apesar de já ter 21 anos de existência, possuir 11 escolas de primeiro grau, duas de segundo grau, 11 creches, um hospital e um Centro de Formação de Monitores para as escolas capixabas e escolas de outros Estados, o Mepes é ainda pouco conhecido no Espírito Santo e ‘’ignorado’’ por muitas autoridades públicas. Uma escola que ensina para a vida e vê o meio rural também do ponto de vista humano, muitas vezes não é bem entendida e paga caro por isto.
No relatório do Mepes referente ao ano de 1988, que está circulando por órgãos públicos ligados ao setor rural e educação, existemnas palavras do padre Humberto três pontos fundamentais, que, se levados a sério, podem ser o antídoto para a nossa crise urbana atual. Vamos então ver o que diz o relatório:
- NÓS ACREDITAMOS QUE, EM PRIMEIRO LUGAR, DEVEMOS DAR AO HOMEM DO CAMPO A CONSCIÊNCIA DOS VALORES QUE TEM. O MEIO RURAL TEM UMA CIVILIZAÇÃO QUE É A CIVILIZAÇÃO DO CAMPO. DAR CONSCIÊNCIA AO HOMEM DE QUE ELE TEM VALOR E TAMBÉM A AGRICULTURA TEM VALOR.
- É UMA DAS NOSSAS BANDEIRAS VALORIZAR A AGRICULTURA COMO PROFISSÃO MAIS ANTIGA E MAIS NOBRE. É A MAIS ANTIGA PORQUE SEM A COMIDA O HOMEM NÃO TERIA VIVIDO, E É A MAIS NOBRE PORQUE DEFINE A LIGAÇÃO DO HOMEM À NATUREZA NO PLANO DE DEUS.
- VIMOS QUE QUANTO MAIS O HOMEM SE AFASTA DE SUA NATUREZA , MAIS FORTALECE ESTA NOSSA SOCIEDADE SOFISTICADA, SOCIEDADE DE CONSUMO, URBANÍSTICA, QUE REPRESENTA A DESNUTRIÇÃO DO HOMEM, A PRECÁRIA SAÚDE COM O APARECIMENTO DE NOVAS DOENÇAS E REPRESENTA UM HOMEM SEM DIÁLOGO COM A NATUREZA E EM SI PRÓPRIO, UM HOMEM FECHADO NUM ISOLAMENTO TERRÍVEL.
O QUE É
Com mais de mil alunos, a premissa central das escolas do Mepes é um sistema de ensino onde o estudante não perde o contato com a família, é o que chamamos de alternância. Nas escolas de primeiro grau o aluno fica uma semana na escola e na semana seguinte ele vai para a sua casa. Já nas escolas de segundo grau, o aluno fica duas semanas na escola e em seguida fica igual período em sua casa.
É nesse ir e vir que se dá a integração escola-família-escola, onde a matrícula de um único aluno envolve, na realidade, a matrícula de toda uma família e até mesmo de uma comunidade. Uma escola de verdade.
O Mepes é lastreado em sete pontos, como destaca o relatório:
- pluralismo-ecumenismo;
- intercâmbio;
- o homem ao centro, respeito à sua dignidade;
- a organização a serviço do homem;
- a comunhão e a participação;
- eficácia humano-evangélica conjugada com a eficiência científico-técnica; e,
- valorização do esforço das pessoas e comunidades acima do emprego alienígeno de meios e recursos.
Segundo o relatório “nascido para caminhar’’, o Mepes nunca teve fontes próprias de recursos. É o movimento, a ponte de encontro de Entidades e pessoas que desejam a promoção do Homem e da Comunidade humana e sabem que, individualmente, pouco podem fazer. Confiam, entretanto, na união que faz a força e torna possível o impossível.
O Mepes tem sido a verdadeira educação, onde é levado em consideração todo conjunto e o jovem continua participando ativamente dos trabalhos na sua família. Quando o jovem está em casa, ele desenvolve atividades da escola. E o plano de estudo, que na verdade é massa que vai unir a escola à família e que também é fermento, porque vai fazer crescer a todos.
As centenas de jovens que passaram pela escola do Mepes certamente não estão engrossando o êxodo rural, pois estão trabalhando no campo. Hoje muita gente que não tinha a menor perspectiva de vida continua no meio rural vivendo em comunidade e com dignidade. Muitos jovens que vieram de outros Estados para estudar no Mepes, voltaram para os seus Estados, onde juntos com as comunidades prosseguem a luta para implantar uma escola diferente, uma nova Escola Família Agrícola. É desta forma que o sistema vai se espalhando por todo o Brasil. É assim que nunca se ouviu ou nunca se ouvirá dizer que uma Escola Família Agrícola foi depredada ou destruída. A Escola é da Comunidade. A Escola é cuidada como uma planta, para dar bons frutos.
Recentemente um grupo de alunos da Escola Família esteve fazendo uma visita ao miserável bairro de São Pedro, em Vitória, os alunos deram depoimentos sobre o que viram. Após cada visita, individual ou coletiva, ocorreu um debate da realidade. Dois depoimentos nós destacamos:
- Pensei que o lugar era melhor. Eu queria voltar. Não queria ficar lá por muito tempo. Me impressionou muito quando as pessoas corriam para encontrar o carro de lixo.
- Nas cidades foram feitas propagandas (campanhas) e o povo caiu nelas, encheram as cidades.
Os jovens rurais devem ter imaginado que eles poderiam estar hoje em São Pedro, porque ali a maior parte das pessoas são frutos do êxodo rural. A Escola Família é o melhor e o mais eficiente obstáculo ao êxodo para os grandes centros, porque é uma escola integral, vê, entende e compreende o indivíduo no conjunto. Tão bom seria se o Poder Público olhasse, entendesse e compreendesse o Mepes dentro desta ótica.
Nota – texto 7 do livro: MEPES 25 ANOS. CONVERSA FRANCA, AMIZADE LONGA. O NOSSO TESTEMUNHO E A NOSSA ESPERANÇA

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