ESCOLA RURAL GANHA ESPAÇOEM TODO ESTADO
A Gazeta21-05-1989
No interior do Espírito Santo tem em funcionamento um
sistema escolar rural diferente e eficiente. Atualmente são 11 unidades de
primeiro grau e duas de segundo grau, com um total de 1.021 alunos. Já com 20
anos de fundado, o modelo de escola adaptado a realidade rural capixaba luta
ainda com grandes dificuldades, principalmente com relação ao Poder Púbico, que
dá uma contribuição financeira diminuta pelo trabalho que é realizado. Na
realidade estas escolas estão suprindo, com eficiência, a ausência do Estado
que, conforme a Constituição, é o responsável pela educação.
A escola diferente que falamos é a Escola Família
Agrícola, uma idéia original da França e que no Brasil começou no Espírito
Santo e hoje está presente em Anchieta, Rio Novo do Sul, Iconha, Alfredp
Chaves, Rio Bananal, Jaguaré, São Gabriel da Palha, São Mateus, Montanha, Boa
Esperança, Pinheiros e Nova Venécia. A escola diferente é uma escola que é da
comunidade, porque esta a coloca literalmente nas costas. Uma escola de
verdade, que forma as pessoas para a vida, para o trabalho e para servir.
A Escola Família é ligada ao Movimento de Educação
Promocional do Espírito Santo (Mepes), com sede em Anchieta. Além de assessorar
entidades a nível nacional, tem, desde a sua fundação, apoio da Associação dos
Amigos do Estado do Espírito Santo (AES), com sede em Pádova, Itália. Hoje o
modelo capixaba já está presente em Minas Gerais, Paraná, Bahia, Rio Grande do
Norte, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Amapá, Amazonas e Rondônia.
FILOSOFIA
- O HOMEM DEVE FICAR
NO CENTRO DE QUALQUER PROCESSO DE TRANSFORMAÇAO; PARA INDICAR CLARAMENTE QUE
NÃO DEVE SER SOMENTE A EDUCAÇÃO DE UMA SÓ PESSOA, E SIM NUM ASPECTO
COMUNITÁRIO, ISTO É, O HOMEM DEVE SE EDUCAR PROMOVENDDO SEU AMBIENTE.
Acima a definição precisa do que é a ação mais mais
concreta e positiva em termos de educação rural no Brasil. As palavras são do
padre Humberto Pietrogrande, um jesuíta italiano radicado há mais de 20 anos no
Brasil. O mais importante de tudo isto é a descrição feita é de um sistema de
ensino que está presente em muitos municípios capixabas. Estamos falando do
Mepes.
Apesar de já ter 21 anos de existência, possuir 11
escolas de primeiro grau, duas de segundo grau, 11 creches, um hospital e um
Centro de Formação de Monitores para as escolas capixabas e escolas de outros
Estados, o Mepes é ainda pouco conhecido no Espírito Santo e ‘’ignorado’’ por
muitas autoridades públicas. Uma escola que ensina para a vida e vê o meio
rural também do ponto de vista humano, muitas vezes não é bem entendida e paga
caro por isto.
No relatório do Mepes referente ao ano de 1988, que
está circulando por órgãos públicos ligados ao setor rural e educação,
existemnas palavras do padre Humberto três pontos fundamentais, que, se levados
a sério, podem ser o antídoto para a nossa crise urbana atual. Vamos então ver
o que diz o relatório:
- NÓS ACREDITAMOS QUE,
EM PRIMEIRO LUGAR, DEVEMOS DAR AO HOMEM DO CAMPO A CONSCIÊNCIA DOS VALORES QUE
TEM. O MEIO RURAL TEM UMA CIVILIZAÇÃO QUE É A CIVILIZAÇÃO DO CAMPO. DAR
CONSCIÊNCIA AO HOMEM DE QUE ELE TEM VALOR E TAMBÉM A AGRICULTURA TEM VALOR.
- É UMA DAS NOSSAS
BANDEIRAS VALORIZAR A AGRICULTURA COMO PROFISSÃO MAIS ANTIGA E MAIS NOBRE. É A
MAIS ANTIGA PORQUE SEM A COMIDA O HOMEM NÃO TERIA VIVIDO, E É A MAIS NOBRE
PORQUE DEFINE A LIGAÇÃO DO HOMEM À NATUREZA NO PLANO DE DEUS.
- VIMOS QUE QUANTO
MAIS O HOMEM SE AFASTA DE SUA NATUREZA , MAIS FORTALECE ESTA NOSSA SOCIEDADE
SOFISTICADA, SOCIEDADE DE CONSUMO, URBANÍSTICA, QUE REPRESENTA A DESNUTRIÇÃO DO
HOMEM, A PRECÁRIA SAÚDE COM O APARECIMENTO DE NOVAS DOENÇAS E REPRESENTA UM
HOMEM SEM DIÁLOGO COM A NATUREZA E EM SI PRÓPRIO, UM HOMEM FECHADO NUM
ISOLAMENTO TERRÍVEL.
O QUE É
Com mais de mil alunos, a premissa central das escolas
do Mepes é um sistema de ensino onde o estudante não perde o contato com a
família, é o que chamamos de alternância. Nas escolas de primeiro grau o aluno
fica uma semana na escola e na semana seguinte ele vai para a sua casa. Já nas
escolas de segundo grau, o aluno fica duas semanas na escola e em seguida fica
igual período em sua casa.
É nesse ir e vir que se dá a integração
escola-família-escola, onde a matrícula de um único aluno envolve, na
realidade, a matrícula de toda uma família e até mesmo de uma comunidade. Uma
escola de verdade.
O Mepes é lastreado em sete pontos, como destaca o
relatório:
-
pluralismo-ecumenismo;
- intercâmbio;
- o homem ao centro,
respeito à sua dignidade;
- a organização a
serviço do homem;
- a comunhão e a
participação;
- eficácia
humano-evangélica conjugada com a eficiência científico-técnica; e,
- valorização do
esforço das pessoas e comunidades acima do emprego alienígeno de meios e
recursos.
Segundo o relatório “nascido para caminhar’’, o Mepes
nunca teve fontes próprias de recursos. É o movimento, a ponte de encontro de
Entidades e pessoas que desejam a promoção do Homem e da Comunidade humana e
sabem que, individualmente, pouco podem fazer. Confiam, entretanto, na união
que faz a força e torna possível o impossível.
O Mepes tem sido a verdadeira educação, onde é levado
em consideração todo conjunto e o jovem continua participando ativamente dos
trabalhos na sua família. Quando o jovem está em casa, ele desenvolve
atividades da escola. E o plano de estudo, que na verdade é massa que vai unir
a escola à família e que também é fermento, porque vai fazer crescer a todos.
As centenas de jovens que passaram pela escola do
Mepes certamente não estão engrossando o êxodo rural, pois estão trabalhando no
campo. Hoje muita gente que não tinha a menor perspectiva de vida continua no
meio rural vivendo em comunidade e com dignidade. Muitos jovens que vieram de
outros Estados para estudar no Mepes, voltaram para os seus Estados, onde
juntos com as comunidades prosseguem a luta para implantar uma escola
diferente, uma nova Escola Família Agrícola. É desta forma que o sistema vai se
espalhando por todo o Brasil. É assim que nunca se ouviu ou nunca se ouvirá
dizer que uma Escola Família Agrícola foi depredada ou destruída. A Escola é da
Comunidade. A Escola é cuidada como uma planta, para dar bons frutos.
Recentemente um grupo de alunos da Escola Família
esteve fazendo uma visita ao miserável bairro de São Pedro, em Vitória, os
alunos deram depoimentos sobre o que viram. Após cada visita, individual ou
coletiva, ocorreu um debate da realidade. Dois depoimentos nós destacamos:
- Pensei que o lugar
era melhor. Eu queria voltar. Não queria ficar lá por muito tempo. Me
impressionou muito quando as pessoas corriam para encontrar o carro de lixo.
- Nas cidades foram
feitas propagandas (campanhas) e o povo caiu nelas, encheram as cidades.
Os jovens rurais devem ter imaginado que eles poderiam
estar hoje em São Pedro, porque ali a maior parte das pessoas são frutos do
êxodo rural. A Escola Família é o melhor e o mais eficiente obstáculo ao êxodo
para os grandes centros, porque é uma escola integral, vê, entende e compreende
o indivíduo no conjunto. Tão bom seria se o Poder Público olhasse, entendesse e
compreendesse o Mepes dentro desta ótica.
Nota – texto 7 do livro: MEPES 25 ANOS. CONVERSA
FRANCA, AMIZADE LONGA. O NOSSO TESTEMUNHO E A NOSSA ESPERANÇA.
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