A GAZETA 1991
A crise brasileira tem um dos seus pilares assentados
sobre o grande descaso e abandono em que vive a educação. Nos centros urbanos
as escolas padecem de reformas constantes e os professores são sempre
pessimamente remunerados. O sistema de ensino geralmente é arcaico. Se
caminharmos para o meio rural, veremos uma situação ainda pior, porque
normalmente as pessoas são educadas para migrar para os centros urbanos. O que
se diz ser educação não tem nada a ver com o meio rural. A educação caótica é
mais uma sinistrose nacional.
No Espírito Santo existe um sistema de ensino no meio
rural onde a metodologia e o seu esquema de funcionamento fixam os jovens no
campo e paralelamente os prepara para a vida. Uma exceção à regra geral. Falo do
Mepes que é o responsável por 10 escolas de primeiro grau e três de segundo
grau e um Centro de Formação de Monitores (professores) para as escolas. Este tipo
de ensino é conhecido como Escola Família Agrícola (EFA) e tem a realidade como
sua matéria principal.
Na EFA o jovem não perde o contato com a sua família e
com a sua realidade. Quando está em casa trabalha e transmite as informações da
escola para a família. Quando ele está na escola ele leva a sua realidade para
ser debatida e questionada pelos seus colegas. Desta forma passa a ocorrer uma
interação completa escola-família-escola.
Cada EFA está localizada numa propriedade rural com
área de até 15 hectares, tem em média 120 alunos, seis monitores, duas
cozinheiras e um trabalhador. A área da EFA é uma réplica da casa do aluno. A propriedade
tem a finalidade de ser produtiva e ao mesmo tempo ser uma unidade educativa. O
nível de remuneração aos monitores equipara-se aos valores pagos pelo Estado. O
custeio da EFA é dividido entre o Estado (60%), Prefeitura (20%) e os pais dos alunos
(20%). Normalmente o Estado cobre o pagamento dos monitores, a Prefeitura
custeia as cozinheiras e o trabalhador e aos pais cabe o pagamento da
alimentação. Na medida que a propriedade é produtiva o custo do aluno diminui. Existe a situação do pai pagar a sua parte
com alimentos produzidos na sua
propriedade.
A EFA foi obra do padre Humberto Pietrogrande, que
hoje está abrindo nova frente de trabalho no Piauí. No Espírito Santo a EFA funciona
há 23 anos, e, portanto, não é mais uma experiência, mas uma realidade positiva
e concreta. Podemos atestar este esquema como vitorioso na presença de
delegações de 11 Estados( Amazonas,
Bahia, Minas Gerais, Piauí, Amapá, Rondônia, Rio Grande do Norte, Ceará,
Maranhão, Pará e Pernambuco) e de cinco países (Itália, Portugal, Argentina,
Uruguai e Panamá) num seminário internacional sobre educação rural realizado em
outubro aqui no Espírito Santo. Nos estados e países citados existem EFAs em
funcionamento.
Durante o seminário, o presidente da Conferencia
Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Luciano Mendes de Almeida, esteve presente e
enfatizou a necessidade de uma mudança no esquema do ensino rural no Brasil. Nós
destamos quatro pontos que consideramos fundamentais no pronunciamento de Dom
Luciano, como um incentivo à iniciativa e aos que nela atuam. A saber:
-VALORIZAR O TRABALHO
DO HOMEM DO CAMPO É UMA URGÊNCIA EM NOSSOS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA, POIS NOS
ÚLTIMOS DECÊNIOS, HOUVE, EM VÁRIOS PAÍSES, E NO BRASIL TAMBÉM, DESCASO QUANTO A
ATIVIDADE E ABANDONO POR PARTE DE GRANDE NÚMERO DE FAMÍLIAS QUE DEIXARAM O
CAMPO, EM BUSCA DAS CIDADES.
-A EFA INSISTE NO
VALOR DA FAMÍLIA. QUER GARANTIR A FAMÍLIA, ESTABILIDADE E PROMOÇÃO INTEGRAL.
CUIDAM PRIORITARIAMENTE DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE. PARA ISSO PROPÕE A ESCOLA
HABILITAR OS FILHOS DOS LAVRADORES PARA QUE SEJAM CAPAZES DE SUPERAR OS DESAFIOS
E CONVERVAR-SE NAS ÁREAS DE ORIGENS, COM AS PRÓPRIAS RAIZES CULTURAIS.
-É UMA ESCOLA DE
CONVIVÊNCIA, TRABALO E AMOS À TERRA. O ENSINO É ADEQUADO AOS HABITANTES DA ZONA
RURAL, PROCURA CAPACITAR O ADOLESCENTE A UM NOVO MODO DE TRABALHAR A TERRA, ASSEGURANDO
PROFESSORES COMPETENTES E VOLTADOS PARA A PRÁTICA DE PLANTIOS, NAS CRIAÇÕES DE
ANIMAIS E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA. O AFETO À TERRA É PRIMORDIAL. ESSA
INICIATIVA VEM DE ENCONTRO AO ANSEIO DOS LAVRADORES. O BRASIL PRECISA DESTE
TIPO DE INICIATIVA.
-TRABALHO, FAMÍLIA E
EDUCAÇÃO ESTÃO CONJUGADOS E INTEGRADOS. EDUCAR PARA O TRABALHO. O TRABALHO FIXA
A FAMÍLIA AO CAMPO E ESTREITA OS LAÇOS ENTRE OS SEUS MEMBROS. A FAMÍLIA ENTRA
NO PROCESSO EDUCATIVO E SE BENEFICIA COM OS SEUS ENSINAMENTOS. DAÍ A
CONVIVÊNCIA DOS SEUS PERÍODOS ALTERNATIVOS ENTRE O INTERNATO, QUE INTENSIFICA A
INSTRUÇÃO, E O PERÍODO EM FAMÍLIA, QUE APROFUNDA AS RAÍZES CULTURAIS, ASSEGURA
O ACONCHEGO EFETIVO E AS TRADIÇÕES DOMÉSTICAS. CONHECEMOS O MÉTODO. O
IMPORTANTE É CONHECER O MÉRITO DE TODO UM PROCESSO QUE BENEFICIA
HARMONICAMENTEM A PESSOA HUMANA, O INDIVÍDUO E A FAMÍLIA. O MÉTODO FACILITA O
SURGIMENTODE LIDERANÇAS, O INTERCÂMBIO DE EXPERIÊNCIAS E O HÁBITO DE
PARTICIPAÇÕES COMUNITÁRIAS.
Pelas palavras de Dom Luciano, pelo seu aval e pela experiência
que ele possui no trato com as questões do povo, sabemos que a educação rural
brasileira poderá ser um fator importante na fixação do homem ao campo, casa a
metodologia da EFA seja assimilada e adaptada a cada região deste país
continente.
Fica aqui a pista para o Ministro José Goldenberg, bem
como aos secretários de educação dos Estados:
-CONHEÇAM A EFA, UMA
ESCOLA VERDADEIRAMENTE DE TEMPO INTEGRAL, COM UM ENSINO QUE DA UMA VISÃO
COMPLETA DA VIDA AO JOVEM DO CAMPO.
Finalizando queremos novamente tomar as palavras de
Dom Luciano, quando ele afirma:
-HÁ MUITA PACIÊNCIA,
CORAGEM E DEDICAÇÃO DA EFA E OUTRAS SEMELHANTES PARA QUE (APESAR DAS
DIFICULDADES E DESAFIOS) POSSAMOS, DESDE JÁ ACREDITARMOS NA CONSTRUÇÃO DE UMA
SOCIEDADE JUSTA E SOLIDÁERIA, NA FORÇA DA ESPERANÇA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário