14 de janeiro de 1991
Hoje, 14 de janeiro de 1991. Estamos sendo
bombardeados pela televisão com informações de uma possível guerra no Oriente
Médio. Fala-se mesmo no início da terceira guerra mundial, mas uma guerra que
certamente será a última. Será o fim?
Hoje, 14 de janeiro de 1991, infelizmente tenho
novamente de voltar a lhe escrever. Não é preciso nem mesmo dizer qual é o
assunto. Isto mesmo, é sobre o Mepes. Eles continuam vivendo uma guerra diária
e difícil. O confronto deles é um pouco diferente de um confronto nuclear, que
destrói tudo e coloca um ponto final na vida.
Hoje, 14 de janeiro de 1991, no Mepes a luta
prossegue, como vem prosseguindo nestes últimos 23 anos. Esta gente não tem
descansado e nem podem respirar por alguns dias em paz. Esta gente tem sido
acossada por problemas que surgem quase que diariamente. Eu não sei onde eles
guardam oxigênio, porque sempre conseguem respirar por mais um tempo acima do
normal. O padre Humberto fala que é a Divina Providência. Viva a sorte e a
paciência.
MEU CARO MAX
Às vezes fico pensando que as minhas ações em favor do
Mepes constituem neste momento problemas para o próprio Mepes. Eu que imaginava
estar ajudando a uma causa nobre, na verdade devo estar complicando a vida
deles.
Devo confessar que nos últimos 12 anos tenho andado
praticamente toda semana pelo interior do Estado. Neste período tenho convivido
com todo tipo de gente. Encontrei de tudo: de gente com proposta séria a
tentativas descaradas de suborno. Nestes
anos vivi o nascimento de movimentos, de associações, de cooperativas e de
sindicatos. Eu tenho um testemunho a dar. Eu creio que a minha opinião, que
minhas palavras e que o meu comportamento são elementos que devem ter alguma
importância. Eu vi tudo e vivi muita coisa.
MEU CARO MAX
Nesta minha caminhada já peguei o Mepes na estrada,
com experiência e comum trabalho invejável, mas que não temo devido valor
correspondente.
Vi a angústia do padre Humberto se transformar em mais
força para dar energia aos Mepianos. Esta gente fazia um belo trabalho e por
este motivo pedi licença para entrar na caminhada deles. Esta gente não pode
ficar sozinha. Esta gente tem de ter outras companhias, aumentar o número de
pés e de mãos. O caminho é longo e o trabalho árduo. Esta gente não engana a
ninguém, não dá passos maior do que as pernas e está sempre presente nos
momentos de alegria e de dor.
MEU CARO MAX
Eu
vi essa gente do Mepes dividir a sua mesa, o seu espaço e dar dias e dias pelo
trabalho em prol das populações marginalizadas do campo. Eu vi esta gente dar a
sua vida, como Verino Sossai e Valdizio Barbosa. Morreram? Não, foram
assassinados porque estavam ao lado do povo. Hoje eles fazem falta nas suas
famílias. Eles foram lutadores e certamente levaram uma angústia de terem
lutado sempre, mas nem sempre viram os resultados do trabalho. A bandeira deles
é a nossa, é a bandeira do Mepes na prática.
Poderia
seguir adiante e encher folhas e folhas, falando e falando do Mepes, de sua
caminhada e do seu trabalho. Mas, ao que parece o valor que se dá ao Mepes é em
função de ser um movimento nascido na cabeça de um simples padre jesuíta e
germinado no meio do povo trabalhador do campo. Essa gente sabe o que quer. Essa
gente verdadeiramente não tem valor, assim é o que entendemos quando paramos
para pensar o muito que se fez e o pouco que se recebeu.
MEU
CARO MAX
O
Governo tem uma dívida financeira com o
Mepes e uma dívida moral que certamente nunca será paga, nem nós
queremos recebê-la, já que este é o nosso papel na sociedade. Nós estamos
cumprindo a nossa parte, com alegria, com fé, com determinação, com amor e tem
gente que foi muito além, deram o sangue
e a vida pelo Espírito Santo mais justo e mais decente para com os mais pobres
e desprotegidos.
Vou
ficando por aqui, na expectativa de que você entenda as razões deste teu amigo,
que vê o Mepes como a coisa mais sublime e importante do setor
educacional-político-social no meio rural capixaba.
Nós
passaremos e o Mepes certamente vai ser tocado por outras mãos e outras
cabeças, com outros pés que sempre terão o rumo do servir na rota de:
Encontrar-se
para conhecer-se.
Conhecer-se
para caminhar juntos.
Caminhar
juntos para crescer.
Crescer
para amar mais.
Finalizando
quero deixar um ditado que um dia o padre Humberto traduziu para o Governador
Gerson Camata:
CONVERSA
FRANCA, AMIZADE LONGA.
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