AGRICULTURA ALTERNATIVA TEM COMPROMISSO COM A SOCIEDADE
A GAZETA 23 DE AGOSTO DE 1985
No momento de divergir, divergir. Na hora de
questionar, questionar. Mas quando a situação é de aplaudir, somente resta
limpar as mãos e aplaudir para valer. É desta forma que podemos colocar a
realização do simpósio de agricultura alternativa, que será encerrado hoje em
Aracê, na Estação Experimental Mendes da Fonseca, com a assinatura do
Regulamento da Lei 3.706, que dá as coordenadas sobre a produção, comercialização
e uso dos agrotóxicos e biocidas.
A promoção de Secretaria de Agricultura – Emcapa, que
durante toda semana propiciou a um grande número de técnicos capixabas poderem
ouvir depoimentos e relatos sobre a possibilidade real de se fazer agricultura
com um mínimo possível de agressão ao meio ambiente, ao homem e,
principalmente, ao futuro, foi excelente.
Os profissionais, mas os verdadeiros profissionais da
agricultura, que possuem uma preocupação com o meio ambiente e com o estado
de miséria que vive grande parte de
nossa população percebem logo que a crescente utilização de produtos químicos vai levar o setor ao
suicídio. Não existe a menor condição do
meio ambiente subsistir ao impacto da chamada agricultura “moderna”, tocada a
crédito rural e pela exploração da mão-de-obra.
A cada dia o número de agressões ao meio ambiente é maior. O homem dentro da sua visão de
‘’senhor’’ do Planeta vai provocando o envenenamento do solo, do ar, dos cursos
de água e dos alimentos. Mais adiante vai matando as pessoas. A Gaona
consumista e concentradora de poder jogou toda Nação num beco sem saída. Os 20
anos de arbítrio embalaram a fórmula e deu no que deu: agricultura dependente,
populações marginalizadas e empurradas para as cidades.
O esquema que ainda perdura certamente teve elementos
a comandar. Nestes dias, onde as primeiras luzes atravessam o vão da porta, é
fácil perceber que a necessidade de se desmontar os esquemas é uma verdade.
Mesmo sendo verdade, não quer dizer que será fácil enfrentar as manobras e a
reação dos que envenenaram e-ou mandaram envenenar a nossa agricultura. Eles
estão inteiros, talvez ao nosso lado.
Se podemos dizer que a promoção merece nosso apluaso,
de maneira alguma podermos dizer a mesma coisa a determinados elementos que lá
estiveram. Ficou claro que a tentativa de se promover um esvaziamento do
seminário, com o intuito de desmoralizar um trabalho sério, frustou-se. O
interessante de tudo isto é que 100% da platéia tem formação universitária e
relacionada com a atividade agrícola.
Se apresentamos as atitudes inconvenientes, também é
fácil compreender a sua razão de existir.
Quando se debate agricultura alternativa todos são colocados no mesmo
nível, do produtor ao ‘’doutor’’. Quando se tem uma compreensão clara das
relações existentes na natureza, naturalmente o homem aparece como um elemento
co-participante, nunca como o ‘’rei’’ do pedaço.
O elitismo das pessoas não deixa que elas compreendam
o meio ambiente e a sociedade. A grande verdade é que na agricultura
alternativa os profissionais da agronomia, em sua grande maioria, percebem o
quanto erraram e o quanto induziram as pessoas ao erro. O pior de tudo é não fazer auto-crítica. O
lamentável é que tentam de todas maneiras não entender que a sua ação prática
era de mero agente financeiro e receitador de química pesada. O medo é ver o
seu casteloruir, mas não percebe que tudo já é um monte de escombros.
A Secretaria de Agricultura e a Emcapa estão de
parabéns. O que resta fazer agora é ignorar os maus profissionais e
atropelá-los. A agricultura não pode esperar nada de quem não possui
compromisso com o agricultor e com a sociedade. O ‘’castelo de cartas’ de muita
gente começa a ruir. Vamos ajudar a acabar com a fábrica de sonhos. Ou a
agricultura, acaba com os maus profissionais ou eles continuam fazendo e
refazendo bobagens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário