sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A desesperança do desemprego nubla a Espanha


O Sol brilha na Espanha como em cada mês de agosto, mas para milhões de seus cidadãos a nuvem do desemprego o ofusca.

Alberto Pradilla


Assim é com José Manuel Martínez, que participou de um protesto em Madri carregando um cartaz onde se lia: "Quero trabalho, não esmola". Aos 45 anos, reside na cidade de Sevilha, está há três anos desempregado e reconhece, desconsolado, que "perdeu a esperança". Como ele, quase 4,6 milhões dos 47 milhões de habitantes da Espanha estavam sem trabalho no final de julho, um dos meses em que a grande indústria turística costuma gerar mais emprego. Andaluzia, a comunidade autônoma da qual Sevilha é capital, tem um milhão de desempregados, com mais de cinco pontos acima da taxa nacional, de 24,6% no final do mês passado, quando a média da União Europeia é de 10,3%.

O governo de direita de Mariano Rajoy foi forçado, no dia 14, a alterar seus planos e anunciar a prorrogação do subsídio famíliar de 400 euros (US$ 495) para aqueles que perdem todos os benefícios por desemprego, um dia antes de expirar a medida e por pressões políticas e sociais de todas as tendências ideológicas. Contudo, a previsão é que o governo deverá endurecer as condições de concessão deste subsídio de sobrevivência, quando o Conselho de Ministros formalizar a sua prorrogação, no dia 24, o que vai arrastar mais famílias para a pobreza.

Martinez está perto de ser um dos beneficiários. "Já nem vou às agências de emprego", disse ele tristemente. O último trabalho com contribuição para a Seguridade Social foi há três anos, quando era motorista de ônibus em Sevilha, 500 quilômetros ao sul de Madri. Desde então, conseguiu apenas trabalhos esporádicos, de alguns dias, que ajudam somente a cobrir alguma urgência. "Estou cansado", disse ele. Sua esposa também está desempregada, e antes conseguia trabalhar limpando casas, mas agora ninguém chama. "Meia cidade tem meu currículo. Tentei de tudo. Mas o que nós mais velhos podemos fazer se já não nos contratam", queixou-se. Ele e sua mulher sobrevivem com uma ajuda pelo desemprego de 426 euros (US$ 525), que terminará em outubro.

Se Rajoy não tivesse voltado atrás, os Martínez estariam na indigência. "Me vejo jogado na rua", lamentou este homem baixo, de rosto endurecido e que concentra sua raiva no atual governo, no poder desde dezembro. "Estão fazendo tudo ao contrário. Teriam que gerar mais emprego, mas cada vez há mais desempregados. Nos enganaram, porque Rajoy prometeu corrigir o desemprego se fosse eleito", protestou. A Espanha tem um seguro contributivo por desemprego, ao qual têm direito, por no máximo dois anos, os que contribuíram como trabalhadores durante pelo menos 12 anos.

O pagamento, em geral, é de quatro meses para cada ano trabalhado e no primeiro semestre equivale a 70% da média dos últimos salários e depois 60%.Mas o principal alvo das críticas dos sindicatos espanhóis é a reforma trabalhista aprovada pelo Executivo em 10 de fevereiro, que gerou a primeira greve geral contra Rajoy, em 29 de março. A reforma facilita a demissão e permite, por exemplo, que uma empresa demita seus empregados livremente se sua arrecadação cair durante dois trimestres. Isto provocou um aumento exponencial no número de desempregados. Além disso, outra nova medida, aprovada em julho, reduz o pagamento por desemprego a partir dos seis meses para os novos desempregados.

O Instituto Nacional de Estatística indica que já há na Espanha 1,5 milhão de famílias onde todos seus membros estão sem trabalho e mais de 50% dos jovens estão parados. Em consequência, ocorrem situações como a de um em cada quatro crianças espanholas viverem agora abaixo da linha de pobreza, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Apesar destes dados, o governo não está disposto a voltar atrás. Assegura que suas reformas e as drásticas reduções são para que a economia cresça. No entanto, seu efeito foi que durante o segundo trimestre a economia diminuiu 1%, diante de igual período do ano passado.

A reforma trabalhista aparece, também, como condição dentro do Memorando de Entendimento, assinado em 20 de julho por Madri, para receber de Bruxelas US$ 123 bilhões, para resgatar os bancos. Um tema que irrita amplos setores da população, que criticam o fato de o governo se preocupar em ajudar o setor financeiro, com um empréstimo cujos juros serão pagos por todos, e não em obter recursos para garantir os serviços básicos e promover a economia.

"Recebo 426 euros de subsídio mas pago por minha hipoteca 1,5 mil euros (US$ 1,85 mil). Como posso ir em frente?", pergunta Mario Gómez, de 41 anos, morador em Riosa, na região de Astúrias. Durante anos dirigiu um negócio de turismo rural em uma zona montanhosa. Pediu um empréstimo para seguir adiante. Mas a crise acabou com seu sonho e a empresa quebrou. "Se não há dinheiro não se fatura", lamentou à IPS.

Agora, Gómez espera que a entidade financeira lhe permita adiar o pagamento e que os juros não acabem por afundá-lo mais e o levem a perder sua casa. "Isto vai acabar mal. Aqui haverá mortos se ninguém fizer nada", afirmou desesperado. Ele foi um dos milhares de desempregados de toda a Espanha que chegaram a Madri no dia 21 de julho, após uma marcha que partiu de todos os pontos do país, para exigir a revogação da reforma trabalhista e mais ajudas para os desempregados.

"Com tanta redução fiscal é impossível criar emprego", disse Charo Domínguez, do município de Langreo, também nas Astúrias, que em janeiro saiu de seu último emprego. Já esgotou sua cota da ajuda para desempregados e agora vive com o subsídio de 400 euros. Graças ao apoio familiar mantém sua casa aluguada. "Voltarei para a casa da minha mãe se isto não melhorar", disse à IPS. Seu dia a dia é um ir e vir oferecendo seu currículo, que ninguém pega. Sente-se abandonada. "Ninguém se importa com os desempregados. Nem mesmos os sindicatos se preocupam com a gente", afirmou.

As previsões não são otimistas. O governo agora diz que o desemprego só começará a baixar em 2014. Muito tempo para pessoas como Martínez, Gómez ou Domínguez, que são milhares neste país.


Assim é com José Manuel Martínez, que participou de um protesto em Madri carregando um cartaz onde se lia: "Quero trabalho, não esmola". Aos 45 anos, reside na cidade de Sevilha, está há três anos desempregado e reconhece, desconsolado, que "perdeu a esperança". Como ele, quase 4,6 milhões dos 47 milhões de habitantes da Espanha estavam sem trabalho no final de julho, um dos meses em que a grande indústria turística costuma gerar mais emprego. Andaluzia, a comunidade autônoma da qual Sevilha é capital, tem um milhão de desempregados, com mais de cinco pontos acima da taxa nacional, de 24,6% no final do mês passado, quando a média da União Europeia é de 10,3%.

O governo de direita de Mariano Rajoy foi forçado, no dia 14, a alterar seus planos e anunciar a prorrogação do subsídio famíliar de 400 euros (US$ 495) para aqueles que perdem todos os benefícios por desemprego, um dia antes de expirar a medida e por pressões políticas e sociais de todas as tendências ideológicas. Contudo, a previsão é que o governo deverá endurecer as condições de concessão deste subsídio de sobrevivência, quando o Conselho de Ministros formalizar a sua prorrogação, no dia 24, o que vai arrastar mais famílias para a pobreza.

Martinez está perto de ser um dos beneficiários. "Já nem vou às agências de emprego", disse ele tristemente. O último trabalho com contribuição para a Seguridade Social foi há três anos, quando era motorista de ônibus em Sevilha, 500 quilômetros ao sul de Madri. Desde então, conseguiu apenas trabalhos esporádicos, de alguns dias, que ajudam somente a cobrir alguma urgência. "Estou cansado", disse ele. Sua esposa também está desempregada, e antes conseguia trabalhar limpando casas, mas agora ninguém chama. "Meia cidade tem meu currículo. Tentei de tudo. Mas o que nós mais velhos podemos fazer se já não nos contratam", queixou-se. Ele e sua mulher sobrevivem com uma ajuda pelo desemprego de 426 euros (US$ 525), que terminará em outubro.

Se Rajoy não tivesse voltado atrás, os Martínez estariam na indigência. "Me vejo jogado na rua", lamentou este homem baixo, de rosto endurecido e que concentra sua raiva no atual governo, no poder desde dezembro. "Estão fazendo tudo ao contrário. Teriam que gerar mais emprego, mas cada vez há mais desempregados. Nos enganaram, porque Rajoy prometeu corrigir o desemprego se fosse eleito", protestou. A Espanha tem um seguro contributivo por desemprego, ao qual têm direito, por no máximo dois anos, os que contribuíram como trabalhadores durante pelo menos 12 anos.

O pagamento, em geral, é de quatro meses para cada ano trabalhado e no primeiro semestre equivale a 70% da média dos últimos salários e depois 60%.Mas o principal alvo das críticas dos sindicatos espanhóis é a reforma trabalhista aprovada pelo Executivo em 10 de fevereiro, que gerou a primeira greve geral contra Rajoy, em 29 de março. A reforma facilita a demissão e permite, por exemplo, que uma empresa demita seus empregados livremente se sua arrecadação cair durante dois trimestres. Isto provocou um aumento exponencial no número de desempregados. Além disso, outra nova medida, aprovada em julho, reduz o pagamento por desemprego a partir dos seis meses para os novos desempregados.

O Instituto Nacional de Estatística indica que já há na Espanha 1,5 milhão de famílias onde todos seus membros estão sem trabalho e mais de 50% dos jovens estão parados. Em consequência, ocorrem situações como a de um em cada quatro crianças espanholas viverem agora abaixo da linha de pobreza, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Apesar destes dados, o governo não está disposto a voltar atrás. Assegura que suas reformas e as drásticas reduções são para que a economia cresça. No entanto, seu efeito foi que durante o segundo trimestre a economia diminuiu 1%, diante de igual período do ano passado.

A reforma trabalhista aparece, também, como condição dentro do Memorando de Entendimento, assinado em 20 de julho por Madri, para receber de Bruxelas US$ 123 bilhões, para resgatar os bancos. Um tema que irrita amplos setores da população, que criticam o fato de o governo se preocupar em ajudar o setor financeiro, com um empréstimo cujos juros serão pagos por todos, e não em obter recursos para garantir os serviços básicos e promover a economia.

"Recebo 426 euros de subsídio mas pago por minha hipoteca 1,5 mil euros (US$ 1,85 mil). Como posso ir em frente?", pergunta Mario Gómez, de 41 anos, morador em Riosa, na região de Astúrias. Durante anos dirigiu um negócio de turismo rural em uma zona montanhosa. Pediu um empréstimo para seguir adiante. Mas a crise acabou com seu sonho e a empresa quebrou. "Se não há dinheiro não se fatura", lamentou à IPS.

Agora, Gómez espera que a entidade financeira lhe permita adiar o pagamento e que os juros não acabem por afundá-lo mais e o levem a perder sua casa. "Isto vai acabar mal. Aqui haverá mortos se ninguém fizer nada", afirmou desesperado. Ele foi um dos milhares de desempregados de toda a Espanha que chegaram a Madri no dia 21 de julho, após uma marcha que partiu de todos os pontos do país, para exigir a revogação da reforma trabalhista e mais ajudas para os desempregados.

"Com tanta redução fiscal é impossível criar emprego", disse Charo Domínguez, do município de Langreo, também nas Astúrias, que em janeiro saiu de seu último emprego. Já esgotou sua cota da ajuda para desempregados e agora vive com o subsídio de 400 euros. Graças ao apoio familiar mantém sua casa aluguada. "Voltarei para a casa da minha mãe se isto não melhorar", disse à IPS. Seu dia a dia é um ir e vir oferecendo seu currículo, que ninguém pega. Sente-se abandonada. "Ninguém se importa com os desempregados. Nem mesmos os sindicatos se preocupam com a gente", afirmou.

As previsões não são otimistas. O governo agora diz que o desemprego só começará a baixar em 2014. Muito tempo para pessoas como Martínez, Gómez ou Domínguez, que são milhares neste país.

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