quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Café com pedigree


postado há 1 dia atrás

*Por Cristian Soares Figueiredo 

O interesse cada vez maior dos produtores de cafés brasileiros na obtenção de registros de Indicação Geográfica e a exigência dos consumidores por produtos de qualidade têm resultado em uma nova configuração da cafeicultura brasileira.

Consumidores informados e com nível de exigência cada vez mais alto em relação à qualidade dos cafés compõem o novo cenário do consumo do grão no Brasil. Prova disso é o significativo aumento anual de 15% a 20% do consumo de cafés gourmet no país, segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Paralelo a esse interesse do público por cafés de qualidade, vimos crescer na última década o aumento da produção de cafés especiais e o aparecimento de cafeterias voltadas a trabalhar as possibilidades do grão.

Atentos às novas configurações do mercado, cafeicultores brasileiros buscam formas para agregar maior valor aos seus produtos. A princípio, os esforços para valorizar os grãos se resumiam a práticas individuais de preocupação socioambiental e nas buscas por certificações de excelência. No entanto, os produtores perceberam que, juntos, eles conseguem promover melhor a produção da sua região.

Atestar a procedência dos cafés, atrelando as qualidades e os atributos inerentes aos grãos à sua origem, tem sido um dos caminhos percorridos pelos cafeicultores na busca pela singularidade e maior qualidade da produção. O selo de Indicação Geográfica (IG) é uma das principais formas desse reconhecimento. As IGs comprovam a procedência de um determinado produto, que histórica e culturalmente se destaca por suas características únicas e notórias.

Desde a época do Império Romano, por volta do século 4 a.C., são registradas tentativas de se catalogarem produtos com base nas suas origens, tais como vinhos e mármores. Foi no século 20, porém, que as IGs ganharam força com a criação da Apelação de Origem Controlada (AOC), pela França. Desde então, a certificação é tida como uma "marca" da região, indicando que sua boa reputação foi construída a longo prazo. Atualmente, vários produtos são certificados de acordo com sua procedência, indicando que são diferenciados e únicos, como é o caso dos charutos de Cuba, do Champagne da França, do vinho do Porto (Portugal), da tequila do México, entre outros.

Os cafés do cerrado mineiro foram os primeiros a conquistar a certificação na categoria, em 2005, pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável por outorgar as IGs no Brasil. Os grãos obtiveram a Indicação de Procedência (IP), subdivisão da IG, que reconhece a região pela excelência na produção e coleta do café.

Durante seis anos, a conquista trouxe bons frutos aos cafeicultores do cerrado mineiro, que em meio a um mercado tão competitivo - do estado responsável por exportar mais de 50% da produção nacional -, souberam enaltecer e divulgar as peculiaridades do seu produto. Em 2011, a Serra da Mantiqueira (MG) também conquistou a Indicação Geográfica de café e, em 2012, foi a vez de o Norte Pioneiro Paranaense (PR) receber a certificação.

Segundo dados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre o fim de 2011 e o início de 2012 houve um ganho de cerca de 10% em termos de agregação de valor nos preços dos produtos de regiões que passaram a deter IGs, em relação ao que se praticava antes da titulação. Além disso, há melhorias significativas no modelo de produção das fazendas e das cooperativas.

Esses benefícios acabam se tornando um atrativo e levando outras regiões do estado e do país a batalhar pela certificação. Atualmente, Divinolândia (SP), Alta Mogiana (SP), Alto Paraíso (MG), Terras Altas (MG), Montanhas do Espírito Santo (ES) e Planalto da Conquista (BA) são regiões cafeeiras que estão no processo pela conquista da IG de café.

O interesse cada vez maior dos produtores de cafés brasileiros na obtenção de registros de Indicação Geográfica e a exigência dos consumidores por produtos de qualidade têm resultado em uma nova configuração da cafeicultura brasileira: uma produção menos centrada na quantidade e mais preocupada em agradar aos paladares mais exigentes. Se por um lado os produtores lucram em termos financeiros, pelo maior valor agregado atribuído ao artigo depois da certificação, por outro, os consumidores não compram "gato por lebre" e podem confiar naquilo que estão levando para casa.

* Cristian Soares Figueiredo é proprietário do Mr. Black Café Gourmet 

A matéria é do Estado de Minas, adaptada pela Equipe CaféPoint.

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