sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Consumo Interno e Potencial do Torrado e Moído no Mercado Externo



Por Nathan Herszkowicz
postado há 1 dia atrás

O agronegócio café no Brasil continua tendo uma importância econômica e social destacada. Mesmo não sendo mais o motor da pauta de exportações ou um dos principais fatores das políticas econômicas do país, como na década de 1950, o fato é que o café gera mais de 6 milhões de postos de trabalho sendo, por isso, um dos maiores empregadores de mão de obra do país. Além dessa importância social indiscutível, o café tem apresentado resultados econômicos apreciáveis nos últimos anos. Em 2011, as exportações de café em grão cru e café solúvel totalizaram US$ 8,7 bilhões, um recorde na história do produto. No mercado interno, as vendas de café industrializado atingiram cerca de R$ 7,0 bilhões, confirmando o produto como um dos mais importantes da cadeia do varejo, em virtude de seu alto giro, bom valor agregado para o varejista e grande consumo.

O Brasil é o maior produtor mundial do grão, colhendo em 2012 uma safra recorde estimada pela CONAB em 50,4 milhões de sacas, distribuídas entre cafés arábicas (média 65%) e conilon ou robusta (média 35%). O seu maior concorrente é o Vietnã, que produz 18 milhões de sacas/ano, o que dá uma medida da distância que separa o Brasil de seus concorrentes. Por esta razão, o país é também o maior exportador de café, detendo 32% do share mundial das exportações. Portanto, de cada xícara de café consumida diariamente no mundo, podemos dizer que 1/3 é composta por café brasileiro. E este índice segue crescendo.

A OIC - Organização Internacional do Café estima que o consumo mundial cresça cerca de 2% ao ano, tendo demandado 134 milhões de sacas nos últimos 12 meses encerrados em Agosto/12. Portanto, o consumo mundial cresce mais de 2,5 milhões de sacas por ano, o que significa que até 2020 teremos que dispor de mais de 20 milhões de sacas sobre o volume atualmente produzido. E aí, novamente, o Brasil aparece como o único grande supridor capaz de atender esta demanda enorme.

O café no Brasil, portanto, parece ter um futuro de médio e longo prazo razoavelmente promissor.

O consumo interno mostra boa vitalidade. Segundo maior consumidor mundial do produto, atrás apenas dos Estados Unidos, que consome em média 23 milhões de sacas/ano, o Brasil vem apresentando taxas de crescimento apreciadas por todo o mundo, na ordem de 4%, o que trouxe o consumo anual para 20 milhões de sacas nos 12 meses encerrados em Agosto/2012. Em 1986 nosso consumo era de apenas 6,5 milhões de sacas. Esse grande salto tem sido comentado e elogiado por especialistas e pelos demais países produtores concorrentes, que resolveram há alguns anos, estimulados pela OIC, desenvolver programas internos para aumento do consumo, tendo como exemplo os modelos brasileiros criados pela ABIC - Associação Brasileira da Industria de Café.

Esses modelos tiveram como base alguns parâmetros fundamentais: a melhoria continua da qualidade; a oferta de produtos diferenciados; o crescimento do consumo fora do lar; a educação do consumidor para o consumo via cursos, treinamentos, difusão de informações; a divulgação dos benefícios do consumo de café para a saúde humana, baseada em pesquisas médico científicas que se iniciaram no Brasil no final da década de 1980 e hoje estão espalhados pelo mundo todo, nas melhores universidades e institutos.

Particularmente importantes para o crescimento do consumo interno foram os programas de qualidade e certificação da ABIC: o Selo de Pureza, criado e lançado em 1989 e ativo ate o momento, e o PQC - Programa de Qualidade do Café, que avalia a qualidade do produto e monitora sua consistência no mercado ao longo do tempo, focado nas características sensoriais. Esse programa, inédito em todo o mundo pelas suas características, criou categorias de qualidade para o café torrado e moído, conhecidas por Tradicional, Superior e Gourmet, que desde o seu lançamento, em 2004, vem ajudando os industriais a diferenciarem os seus produtos e auxiliando os consumidores a distinguirem os tipos de café na hora da compra.

Essas são razões que apontam para os resultados colhidos pelo IBGE, na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF 2008-2009), que após entrevistar 34.500 brasileiros, concluiu que o café é o alimento mais consumido, depois da água. Cada brasileiro consome, em média, 78,5 litros de café por ano, sendo que o maior consumo per capita ocorre, surpreendentemente, no Nordeste. A pesquisa mostra também um fato que a ABIC já acompanha nos anos recentes: o de que os jovens estão consumindo mais café. Isto é positivo porque a faixa etária dos 15 - 29 anos era a que menos consumia café, aqui e em todo o mundo. O fato pode estar relacionado às inúmeras alternativas de preparo do café que existem hoje em inúmeras cafeterias espalhadas por todo o país, principalmente nos grandes centros. Nesse sentido, o café expresso representa o grande estímulo ao consumo, pela facilidade da preparação, pelo gosto mais acentuado que confere ao produto na xícara, pelo fato de exigir para sua produção, que se usem grãos somente de melhor qualidade e por permitir uma infinidade de combinações com leite ou outros ingredientes, que são um atrativo à parte, seja para os jovens, seja para o público em geral.

No Brasil, nos últimos cinco anos, observamos a chegada de grandes players mundiais, em busca de novos negócios neste mercado em crescimento e amadurecimento. As inovações representadas pela Starbucks, pela Nespresso, pelo Dolce-Gusto (Nestlé), pelo sistema Senseo, pela Lavazza , e pela Illy Caffè, que esta aqui há mais de 20 anos, são uma prova evidente de que o consumidor brasileiro deseja novidades e produtos diferenciados. Praticidade e conveniência, segundo estudo Brasil Food Trends 2020, da FIESP-ITAL, justificam o sucesso que estas empresas estão encontrando em seus negócios no Brasil, além da qualidade apreciável. O interessante e positivo é que elas têm sido seguidas de perto por iniciativas mais pontuais de inúmeros empreendedores brasileiros que montaram seus negócios de café, sejam cafeterias, ou vendas B2C, ou serviços franqueados, aproveitando a grande qualidade que o café no Brasil vem alcançando, o que se traduz em xícaras deliciosas, que concorrem ou superam aquelas das empresas internacionais.

A expectativa da ABIC é que o consumo interno continue crescendo 3,5% a 4% ao ano, o que significaria mais 800 mil sacas a cada período, fazendo supor que disputaremos a posição de primeiro consumidor mundial dentro de pouco tempo.

Por outro lado, se nossos produtos já tem qualidade, processos de produção, embalagens modernas que os habilitam a frequentar as prateleiras de qualquer país do mundo, também é verdade que as nossas exportações de café torrado e moído tem sido muito pequenas. Em 2002, exportamos somente US$ 4,0 milhões, registradas como café torrado e moído. Desde este período, o Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo, primeiro, e depois a ABIC, a partir de 2005, firmaram convênios com a Apex-Brasil para a promoção de nossas exportações de café torrado e moído. Em 2008, nossas vendas haviam crescido para US$ 38 milhões, um salto grande, mas com uma base comparativa pequena. Muito distante dos resultados obtidos com a exportação do café em grão cru e do solúvel. Em 2012, a expectativa é de uma exportação de US$ 28 milhões de café torrado e moído. A crise de 2008 afastou nossos principais clientes no mercado dos EUA, que consumiam 65% da exportação, e isto ainda não foi recuperado.

O potencial para exportação de café torrado e moído é enorme, embora não saibamos dimensioná-lo ainda. Somente 19% da população mundial consomem café e os países asiáticos emergentes, com a Coréia, a Tailândia, Indonésia, Índia e principalmente a China, começam somente agora a experimentar, e a gostar, da novidade representada pelo café.

A exportação para países como EUA e União Europeia apresenta características diferentes. Além de uma grande diversidade de produtos, seus preços são altamente competitivos com os dos brasileiros, fazendo com que nas categorias baixa qualidade - baixo preço, os produtos brasileiros não consigam concorrer. A estratégia de produzir marcas próprias para supermercados parece ainda mais crítica, porque esta categoria normalmente oferece uma rentabilidade nula ou muito baixa, em todos os lugares. Assim, a exportação brasileira precisa focar em produtos de alta qualidade, com embalagens cada vez mais atrativas, aproveitando tanto o consumo de café filtrado nos EUA e Europa, quanto as monodoses, cujo sucesso se espalha em todo o mundo. Além disso, com a alta qualidade dos nossos grãos e origens diversas, podemos, aos poucos, ganhar a preferência dos estabelecimentos de food-service, restaurantes, cafeterias e hotéis, crescendo aos poucos na preferência dos consumidores mundiais.

Para a exportação, é importante também e principalmente, focar nos mercados asiáticos, que embora consumam muito mais cafés '3 em 1', que são misturas de café solúvel com leite e açúcar, para preparo instantâneo, farão em breve o mesmo trajeto de todos os países que iniciaram o consumo recentemente, migrando para o torrado e moído numa fase posterior.

Há, por fim, que lembrar um fator fundamental. O sucesso da exportação de café torrado e moído está condicionado a um investimento milionário e de longo prazo - 5 a 10 anos - em marketing para divulgar e consolidar as marcas brasileiras no exterior, fazendo o consumidor trocar o produto que consome hoje pelo café brasileiro que lhe oferecerão amanhã. Este investimento não está à altura de ser bancado pelo setor privado brasileiro, pois a indústria de café não dispõe de recursos suficientes para bancar este esforço. Nesse caso, há que se criar um plano estratégico, com ampla participação de investidores e de organismos de fomento governamentais, que tragam recursos amplos para dar suporte aos esforços promocionais e publicitários, que se convertam em sucesso permanente de vendas para o produto brasileiro.




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