Foto: Pablo Tosco/Intermón Oxfam
A sensação constante de barriga vazia aliada à angústia de não saber quando irá comer poderia ser eliminada da vida de uma em cada sete pessoas no mundo, um bilhão no total, caso parte das terras adquiridas nos países em desenvolvimento na última década se dedicassem à produção de alimentos para a população local.
Esta foi a conclusão de um relatório da organização não governamental (ONG) britânica Oxfam (Comitê de Oxford de Combate à Fome) divulgado na quinta-feira, 4 de outubro. Segundo o documento, cerca de 106 milhões de hectares de terras comercializados neste período estão inutilizados ou destinados à exportação e produção de biocombustíveis.
Mais de 60% dos investimentos estrangeiros em terras agrícolas, entre 2000 e 2010, foram em países em desenvolvimento com sérios problemas de fome. Dois de cada três desses investidores, porém, pretendem exportar tudo que produzem na terra. Cerca de 60% são plantações que podem ser usadas para biocombustíveis.
A insegurança alimentar é um dos principais entraves do mundo hodierno. Os preços globais de carnes, laticínios e cereais subiram 1,7% em setembro, após dois meses de estabilidade, e elevaram a soja e o milho a patamares inédito. A principal causa do aumento foi a devastação da produção agrícola nos Estados Unidos, Rússia e Europa, devido ao calor extremo e as secas.
A situação aumenta o temor de uma crise alimentar e deixa a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) em alerta. Um relatório divulgado em maio pela própria Oxfam afirma que os preços de alimentos básicos devem mais do que dobrar em 20 anos. Até 2030, o custo médio de colheitas consideradas chave para a alimentação da população global vai aumentar entre 120% e 180%.
A equação para solucionar este problema vai além da produção de alimentos: é muito mais uma questão de distribuição mais igualitária. Quarto produtor mundial de alimentos, com o saldo positivo de 25,7% a mais do que necessário, o Brasil ainda sustenta 65,6 milhões de cidadãos em situação de insegurança alimentar, de acordo com dados da FAO e do IBGE, respectivamente.
Enfrentamento
O combate à fome é complexo e envolve várias frentes de ação. Um dos enfrentamentos possíveis é bloquear financiamentos para especuladores de terra, tal qual a Oxfam solicitou ao Banco Mundial, responsável por grande parte desses acordos. Mas há soluções que podem ser conduzidas pelos próprios cidadãos, como evitar o desperdício, por exemplo.
Outra opção para reduzir esses índices é a doação. Nos próximos dias 20 e 21 de outubro, a ONG Banco de Alimentos, vai realizar o sétimo Mutirão de Arrecadação de Alimentos, em São Paulo. A ideia é convocar a população a doar alimentos não-perecíveis, que serão posteriormente repassados para entidades assistenciais. A ONG reforça ainda o pedido de enlatados, lentilha, farinha láctea, leite em pó, itens geralmente mais escassos nas doações.
Cerca de mil voluntários devem passar o final de semana nas unidades da rede de supermercado Sonda para estimular a participação dos clientes das lojas na campanha. Para este ano, a expectativa é que o volume de alimentos ultrapasse a marca de 20 mil toneladas. Em 2011, foram arrecadados cerca de 14.893 mil toneladas. Interessados em ser voluntário da campanha podem fazer a inscrição no site.
Para quem está fora da capital paulista, uma ideia é procurar entidades sociais que necessitam de ajuda. Basta dar uma pesquisada em sua região, pois, provavelmente, há alguma perto de você. Enquanto isso, dar valor ao que se tem no prato já é de grande ajuda.