As medidas bárbaras pretendidas pelo governo português foram plasmadas pelo FMI no documento Portugal: Rethinking the State - Selected Expenditure Reform Options , divulgado em 09/Janeiro/2013. Esta peça delirante já está a provocar uma revolta nacional. Trata-se de um balão de ensaio daquilo que deseja este governo de traição nacional. Como se verifica no artigo abaixo, nem mesmo técnicos superiores do próprio FMI acreditam na bondade de tais receitas.
Binoy Kampmark
Binoy Kampmark

Eles foram criados e festejados a fim de tornar os curandeiros respeitáveis. A extensão de danos que economistas podem provocar, se bem que não exactamente semelhantes às daqueles "médicos", pode ser vasta. Erros são tolerados, ficções propagadas. Doutrinas perigosas tornam-se impenetráveis e o sustentáculo de governos.
Portanto foi interessante que o economista chefe do FMI, Olivier Blanchard, juntamente com o seu colega Daniel Leigh, fizessem num documento recente a confissão de que "Aqueles que fazem previsões subestimam significativamente o aumento no desemprego e o declínio na procura interna associada à consolidação orçamental". Em Outubro último eles já procuravam puxar o tapete debaixo da própria organização que o empregava, discordando da escola ortodoxa de austeridade. Os cálculos a partir dos quais foram infligidas medidas de austeridade sobre países como a Grécia foram considerados inexactos.
Tanto Blanchard como Leigh receberam críticas pela sua posição, tornando necessária, do seu ponto de vista, uma "nova visita" à sua abordagem e resultados. As suas opinião foram, no entanto, afirmadas também por Victoria Chick e Ann Pettifor, os quais argumentaram na PRIME, examinando a [sua] investigação em macroeconomia, que "Consolidação orçamental não 'corta' a dívida, mas contribui para ela". Ao escrever em 6 de Janeilro na Prime, Pettifor observou que um corpo dotado de 1100 economistas profissionais com um orçamento geral de US$800 milhões "fracassou na emissão do apelo correcto".
O documento do FMI Growth Forecast Errors and Fiscal Multipliers (Jan/2013) foi a resposta de Blanchard-Leigh, uma prenda do ano novo que os seus colegas economistas não queriam receber. Os autores têm a cautela de não morderem a mão que os alimenta, norma de protocolo a fim de garantir que os empregados não prestem atenção aos erros óbvios dos seus patrões. "Este documento de trabalho não deveria ser considerado como representativo dos pontos de vista do FMI... Documentos de trabalho descrevem investigações em progresso do(s) seu(s) autor(es) e são publicados para provocar comentários e promover debate".
É de pouco consolo portanto saber que tal "investigação" está divorciada da política e que a posição do FMI sobre o assunto pode não estar de acordo com os investigadores. Se bem que seja verdade que o actual FMI não seja a mesma organização que na década de 1990 disparava fogo à simples menção de afrouxar austeridade, escasso conforto pode ser encontrado no seu actual uniforme. A posição de Blanchard, contudo, foi considerada "moderada" e formidável (Businesseek, 09/Out/2012).
A observação da revista é que "multiplicadores orçamentais foram substancialmente mais altos do que implicitamente assumidos pelos que fizeram previsões". Isto deveu-se ao facto de que a consolidação orçamental que se verificou em economias avançadas "foi associada a crescimento mais baixo do que o esperado, sendo a relação particularmente forte, tanto estatisticamente como economicamente, pouco antes da crise".
Por que estes "multiplicadores" aumentaram? Os autores especulam sobre vários terrenos - políticas de taxa de juros e natureza do consumo, para citar apenas dois. Isto mais uma vez aponta para os modelos enviesados adoptados pelos que fazem previsões vudu. Para cada 1 ponto percentual de PIB ganho na previsão de consolidação orçamental para 2010-11, verificou-se uma perda de 1 ponto percentual de PIB real. "Uma interpretação natural desta descoberta é que multiplicadores implícitos nas previsões estavam, em média, estavam demasiado baixo em cerca de 1".
Assume-se agora que a Grécia está numa categoria em que, para utilizar o jargão padrão, os multiplicadores orçamentais são grandes e os seus efeitos consideravelmente maiores do que os cientistas financeiros tinham consciência. (Tais erros foram analogamente perpetrados sobre as economias de Portugal, Itália, Espanha e Irlanda:) Cortes nos gastos pode aumentar os rácios de dívida em relação ao produto interno bruto de modo severo.
Para dizer isto em termos simples, podar a árvore de modo demasiado severo provocará menos crescimento. Extremos aumentos de impostos e de cortes na despesa podem compensar os ganhos efectuados em qualquer consolidação orçamental. O resultado é uma criatura atrofiada. Tais resultados parecem inteiramente lógicos, embora a lógica tenda a ser extra-terrestre para grande parte da previsão económica.
Desde 2010, mais de 68 mil negócios gregos encerraram, um estonteante estado de coisas para ser contemplado por qualquer ministro das Finanças. O primeiro-ministro Antonis Samaras, à testa de uma precária coligação, está decidido a impor um novo corte nas despesas de US$17,45 mil milhões e a aumentar impostos. Dado que a economia grega já está no seu sexto ano de tratos, a árvore do crescimento económico está pronta para mais uma rodada de brutalidade inútil.
A ordem financeira certamente é desejável e não há dúvida de que o sistema financeiro da Europa está debilitado. Mas a loucura financeira, infectada pelo actual regime de austeridade, não está. Quando altos empregados do FMI a trabalharem sobre questões económicas chave apresentam pontos de vista que começam a aceitar diferentes ordens de razão, as reavaliações estão na ordem do dia. Está para ser visto se a receita de Blanchard alguma vez irá vingar.
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