terça-feira, 30 de abril de 2013

Problemas da economia da Venezuela são solucionáveis, diz economista


Problemas da economia da Venezuela são solucionáveis, diz economista

Em entrevista à Carta Maior, Mark Weisbrot, do “Center for Economic and Policy Research”, analisa a situação da economia venezuelana e rejeita as visões catastrofistas sobre seu futuro. “A Venezuela tem problemas econômicos, mas todos são perfeitamente solucionáveis. Em outras palavras, a economia venezuelana não tem um problema de sustentabilidade”, diz Weisbrot. Por Marcelo Justo, de Londres

Londres - Os vaticínios apocalípticos sobre a economia venezuelana abundam tanto no próprio país como no exterior. As duas desvalorizações do presidente em exercício Nicolás Maduro nos últimos dois meses serviram para abonar a tese dos que preveem o colapso da economia e asseguram que o modelo chavista é insustentável. Se a taxa de pobreza caiu 37,6% e a da pobreza absoluta 57,8% desde 1999, seus críticos asseguram que foi à custa da saúde da própria economia. No ano passado a Venezuela cresceu mais de 5%, mas segundo projeção do Banco Mundial este ano crescerá só 1,8%. Carta Maiorconversou com o co-diretor do heterodoxo “Center for Economic and Policy Research”, de Washington, Mark Weisbrot, que publicou um pouco antes das eleições do ano passado um informe sobre a economia venezuelana no qual descartava a possibilidade de uma hecatombe. 

Carta Maior - Desde aquele informe, ocorreram duas fortes desvalorizações. Elas fizeram o senhor mudar de opinião? 
Mark Weisbrot - A Venezuela tem problemas econômicos, mas todos são perfeitamente solucionáveis. Em outras palavras, a economia venezuelana não tem um problema de sustentabilidade. Em 2006, nos Estados Unidos, houve uma bolha imobiliária que inevitavelmente iria terminar em desastre. Era um desequilíbrio insustentável. Na Venezuela, as desvalorizações se devem ao fato de que eram necessárias em um regime de câmbio fixo porque sua inflação era maior que a de seus sócios comerciais. Nos anos 70, isso não teria importado porque uma inflação de 20% era comum. Agora, como as outras economias têm uma inflação mais baixa, a moeda venezuelana termina se valorizando. As desvalorizações serviram para corrigir este desequilíbrio. 

CM No entanto, o gasto fiscal cresceu cerca de 30% no ano passado e o déficit fiscal é de aproximadamente 12%. Isso é sustentável ou o governo terá que inevitavelmente diminuir o gasto? 
MW - Não creio que um gasto dessa magnitude possa ser sustentado durante dez anos, mas sim por um tempo considerável se se tem uma estrutura da dívida como a da Venezuela. Em um país exportador de petróleo é preciso fixar-se em duas coisas para analisar a estrutura da dívida: a dívida externa e a interna. A interna é em bolívares e a uma taxa de juros zero ou negativa se se leva em conta a inflação, de maneira que não afeta o governo. Quanto à dívida externa, quando ela é analisada do ponto de vista das exportações, que é o ponto de vista mais estrito, vê-se que ela é perfeitamente sustentável. Os juros constituem entre 3 e 4% de suas exportações. Medida em relação ao Produto Interno Bruto, a dívida pública venezuelana não chega a 50%. Em comparação, a União Europeia tem uma dívida de 82% e países em crise como a Grécia ou a Itália superam generosamente os 100%. 

CM De maneira que há espaço para que o estado estimule a economia. 
MW - Com estas cifras teriam que fazer mais e investir em infraestrutura, seguindo dentro do possível o modelo chinês no qual não se importa tudo o que se necessita, mas sim ativa-se a própria indústria. O que está claro é que a solução não é a austeridade. Se olhamos para o que aconteceu depois de 2002, a economia se duplicou nos cinco anos seguintes em termos reais, ou seja, levando em conta a inflação. O setor privado respondeu a isso e foi um grande criador de emprego. 

CM - Em sua análise do ano passado você criticava o governo por não ter investido de maneira contracíclica, ou seja, aumentando o gasto em um momento de desaceleração econômica. 
MW - No último trimestre de 2008 e em 2009 não o fizeram e por isso tiveram uma recessão por um ano e meio. Poderiam ter evitado isso. Não creio que voltem a cometer o mesmo erro. A Venezuela não tem o problema do euro. Tem sua própria moeda, de modo que sua vulnerabilidade está no setor externo, ou seja, na possibilidade de uma crise na balança de pagamentos. A maioria dos comentaristas contrários ao chavismo, quer dizer, a grande maioria dos que se lê no estrangeiro, aponta para isso porque é a única via pela qual poderia haver uma crise terminal. 
Esta crise não vai ocorrer por causa de uma inflação de 20 ou 30%. É um problema, seria melhor que estivesse mais baixa, mas não é uma hiperinflação. A Coreia do Sul teve mais de 20% de inflação durante os anos 70 quando eram a economia que mais crescia no mundo. De modo que a única esperança para os que querem ver o fim do atual governo é uma crise da balança de pagamentos. Dada a estrutura da economia venezuelana, não creio que isso seja possível. 

CM - Você disse que conviria que o investimento em infraestrutura fosse feito com empresas venezuelanas. Este foi um problema que Hugo Chávez não conseguiu resolver, o da diversificação econômica em relação ao petróleo. 
MW - Nos primeiros quatro anos, Chávez teve que se concentrar na mera sobrevivência em função dos ataques da oposição que levaram ao golpe militar de 2002. Passado esse período, concentrou-se nos programas de saúde e educação. Diversificar uma economia é uma coisa muito difícil. O governo do Equador é um dos melhores que já conheci, mas não conseguiu diversificar a economia. É difícil, leva tempo. O governo de Chávez tentou fazer isso, mas poderia ter feito mais. Poderia ter desenvolvido uma política industrial escolhendo um setor para desenvolver com incentivos assim como fizeram Coreia do Sul, China ou Japão. Esse processo tem que ser liderado pelo Estado nos países em desenvolvimento. Mas é difícil. Creio que a Venezuela não tinha a capacidade administrativa para um programa desta natureza e por isso Chávez não conseguiu fazer. 

CM - Com a morte de Chávez, como será o pós-chavismo em nível econômico? 
MW - É difícil prever porque dependerá das medidas que vierem a ser adotadas. O cenário catastrofista tem sido muito exagerado: não vai acontecer. Se lançarem um bom programa de investimento em infraestrutura, a economia vai crescer novamente e o crescimento tem sua própria dinâmica ao reduzir a pobreza, aumentar o emprego e estimular o setor privado. É o que ocorreu depois de 2002 e voltou a ocorrer nos dois últimos anos. 

CM - Há alguma possibilidade de ser restringida a chamada “petrodiplomacia”, a venda de petróleo a preços preferenciais? 
MW - Não creio porque isso é muito importante para eles. Uma coisa sobre a qual não se escreve na imprensa internacional é que a Venezuela é provavelmente o principal objetivo dos Estados Unidos depois do Irã. Os EUA investiram muito dinheiro para desestabilizar a Venezuela. Acaba de sair um novo informe de Wikileaks sobre os planos do ex-embaixador de Caracas, William Brownfield, para desestabilizar o governo de Hugo Chávez. O plano era muito claro: tirá-lo do poder. De modo que é possível que façam algum corte, mas nada substancial, porque é muito importante para eles e têm uma visão de uma integração profunda de América Latina e Caribe. 

Tradução: Katarina Peixoto

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