quarta-feira, 5 de junho de 2013

Dia do Meio Ambiente: Comemoração do contra


Dia do Meio Ambiente: Comemoração do contra

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi definido pela ONU como o 5 de junho. E o que vamos comemorar por aqui? No urbano país chamado Brasil, pouco mais de 100 deputados da bancada ruralista definem as posições do Congresso Nacional formado por mais de 500 congressistas. Por Najar Tubino

A ONU definiu o dia 5 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente, que será comemorado na Mongólia, país de nômades, onde a temperatura subiu dois graus nos últimos 70 anos. O tema da campanha é o desperdício de comida, já contabilizado pela FAO em 1/3 do que se produz. Ou 1,3 bilhão de toneladas. O mote da campanha é pensar antes de comer. Talvez fosse melhor pensar antes de desmatar, coisa que não vale muito em termos de países emergentes, onde o agronegócio cada vez mais toma espaço no cenário político.

No urbano país chamado Brasil, pouco mais de 100 deputados da bancada ruralista definem as posições do Congresso Nacional formado por mais de 500 congressistas. Decisões que valem pela nação. Por exemplo: não demarcar mais terras indígenas, a não ser aquelas aprovadas por eles, que pode ser com o aval da Embrapa e do Ministério da Agricultura. O que dá no mesmo, porque são duas entidades totalmente alinhadas com o agronegócio. Por sinal, está para sair na Revista Política Agrícola, editada pelo MAPA, um artigo conjunto de um grupo de pesquisadores da Embrapa, chamado as “Sete Teses”, onde está registrado claramente que: a reforma agrária é algo ultrapassado; que o governo federal precisa reorientar os recursos desse setor para uma nova política agrícola e que cerca de três milhões de imóveis da agricultura familiar são deficitários, portanto, devem ser desconsiderados das políticas públicas.

Demarcação proibida
Afinal, vão acabar indo para a cidade, não tem porque investir. É por isso mesmo que nãose pode demarcar as terras dos Terenas, em Sidrolândia, no MS, estado que conta com dois milhões de habitantes e uma população acima de 50 mil índios. Ora, Sidrolândia é uma terra rica, custa R$12 mil o hectare no mercado, é uma terra roxa própria para plantio agrícola. E o dono da Fazenda Buriti, Ricardo Bacha, ex-secretário da Fazenda (1995-1998), ex-presidente da Enersul, a companhia elétrica, ex-deputado, e homem muito bem relacionado com o governador André Pucinelli, famoso por seus arroubos autoritários. Ele disse que o avô dele comprou as terras da região em 1927, quando nem o estado existia – foi criado em 1977. Na época que a lei da terra, da posse para falar claramente, era garantida à bala.

Nos 13 anos que vivi em Campo Grande e rodei o cerrado, não foram poucas as histórias que ouvi sobre expulsão de posseiros ou de índios das suas terras. Sem contar a reforma agrária feita por Getúlio Vargas nas terras dos guaranis. Também é fato notório que muitas das terras da fronteira com o Paraguai, entre outras, tem documentação longe de ser legítima. Ouvir as lideranças ruralistas reclamarem da “insegurança jurídica”, que as demarcações de terras indígenas estão causando no país, é uma piada de péssimo gosto.

Comemorando o desmatamento
Também é evidente que o poder no Brasil rural, que envolve todos os setores da sociedade e o do Estado, ou estão sob controle dos ruralistas, ou não aguentam a pressão dos seus interesses. Sem contar que juízes, promotores, deputados, médicos, empresários, todos têm as suas fazendas. Mas voltando ao dia mundial do meio ambiente, a razão deste texto. Podemos comemorar o aumento do desmatamento no minguado patrimônio que resta da Mata Atlântica, que perdeu mais 13 mil hectares entre 2010 e 2011, última pesquisa do INPE com a Fundação Mata Atlântica. 

Não é emblemático que os dois estados que mais desmataram sejam Minas Gerais e Bahia. O primeiro com a siderurgia e exploração de minério, e o segundo com o avanço da fronteira agrícola no oeste e o eucalipto. Quem sabe podemos comemorar a aprovação do projeto no Senado Federal, de autoria do senador Flexa Ribeiro (PSDB PA), autorizando o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia Legal, em áreas desmatadas para aumentar a produção de etanol, enquanto no centro sul algumas usinas estão fechadas. Mesmo depois que a própria Embrapa tirou a cana do zoneamento agroecológico da Amazônia, extinguindo a possibilidade de construção de usinas no bioma. Principalmente, os membros do agronegócio não podem usar crédito oficial nas operações.

Aumento no uso do carvão
Quem sabe comemoramos a enchente do rio Negro em 35 municípios do Amazonas, ou a situação de emergência em 95% dos municípios do Ceará, em consequência da seca que assola a região a mais de um ano. E os seus respectivos gestores políticos, ao invés de criar um plano de emergência para toda a região, ficam participando das picuinhas da política nacional. A comemoração também pode ser estendida ao resto do globo: uma enchente na região central da Europa, pilhas de tornados na região do meio oeste estadunidense e a revolta dos turcos na Praça Taksim, onde o governo pretende reformar o parque Gezi e detonar 600 árvores e construir um monumental shopping center. Ainda vou acrescentar mais 115 árvores de uma avenida central no meio de um parque em Porto Alegre, na frente do Guaíba, que também serão detonadas. Tudo pelo progresso do capitalismo esquizofrênico.

E tem mais. Com o “boom” da exploração do gás de xisto nos Estados Unidos e a crise econômica europeia, as usinas de gás para produção de eletricidade da Europa entraram em um estado paralisante. Não suportam a concorrência do carvão, cujo preço caiu 19% na Bolsa Europeia de Energia, para entrega em um ano. As exportações dos Estados Unidos cresceram 23% em 2012, direcionada aos 27 países da União Europeia, chegaram a 66,3 milhões de toneladas. Os europeus têm ou tinham uma meta de reduzir a emissão de gases estufa em 20% até 2020. Ninguém mais garante o cumprimento da meta.

Motivos para comemorar é que não faltam.

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