Os operadores do Sistema Elétrico são – e devem ser – “homens de gelo” ao planejar o despacho energético das usinas térmicas e hidráulicas de geração de energia.
Mas há, entre eles, uma contida euforia com o cenário de chuvas de janeiro que, no início do mês, esperava-se fossem apenas dentro da média histórica, ou até um pouco abaixo dela.
A previsão, agora, é de que serão 30% maiores, podendo chegar, numa hipótese otimista, a superarem em até 50% a média para o mês.
Há mais de dois anos não se registrava um crescimento tão rápido da acumulação de água nas represas do Sudeste.
De ontem para hoje, subiu 1% no total e há a tendência que o aumento hoje e amanhã seja ainda maior, porque as chuvas, que estavam concentradas na porção sul da região, passaram a ser mais intensas também no centro, no Oeste e no Norte de Minas e em Goiás e assim seguirão até o próximo final de semana.
É a maior elevação registrada nos últimos anos e, mesmo com a redução das chuvas no final do mês, os níveis vão continuar em elevação, porque o fluxo das águas das cabeceiras e a percolação do solo são resilientes, tanto para aumentar quanto para diminuir.
Lá em cima você pode ver, graficamente, a situação dos reservatórios do Sudeste, na medição de cada dia 15 desde janeiro de 2014 até ontem. E a previsão (sempre a média) do ONS para o final de janeiro, o maior índice em dois anos.
Não é correto dizer que isso está ocorrendo apenas em função da crise econômica: o consumo industrial responde por 29% da carga total e, com crise ou sem crise, não há muito espaço de variação no consumo doméstico ou comercial, exceto, no verão, pela ocorrência de dias muito quentes.
E aí ao lado coloco o mapa de chuvas que integra o relatório do ONS divulgado ontem (aqui, para quem quiser baixar), com a precipitação prevista para os sete dias de hoje ao próximo sábado.
A barra de cores indica o índice, em milímetros, que é o valor da altura que a água acumulada chegaria em uma caixa imaginária com um metro de lado. A área em cinza é de previsão superior a 200 mm em uma semana, muito alta.
É o cenário dos sonhos para os responsáveis pelo setor elétrico, principalmente porque vai não apenas recuperar o Sudeste como, na próxima quinzena, o Nordeste, hoje a nossa situação mais crítica, onde o armazenamento esteve abaixo de 5% em boa parte do início de janeiro.
Não se pode fazer previsões simplistas, porque clima, apesar dos supercomputadores e do conhecimento que acumulamos, não é ciência exata. E, sobretudo, embora a gente tenha de tratar as coisas no agregado, a intensidade da chuva varia e as represas, mesmo numa região com carências, muitas vezes têm de verter água – liberar o excesso, mesmo sem produzir energia – para manterem a vazão dos rios e se precaverem contra fluxos muito concentrados que, se as encontrarem com 100% da capacidade, não têm como ser liberados pelos vertedouros sem riscos tanto para os reservatórios quanto para as comunidades rio abaixo. As represas do Rio Tietê, quase todas, estão fazendo isso.
Mas que a situação é promissora, é e o Governo Dilma pode ter aí sua primeira boa notícia econômica depois da recuperação das exportações, com a chance de retirar “bandeira vermelha” que encarece o custo da energia.
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