O Império Romano
foi o maior império da antiguidade. A história afirma que a sua superioridade
estava na grandiosidade do seu exército. Assim conquistava e dominava por
séculos outros povos. Mas para dominar um povo, por menor expressão que este
tenha, era necessário dominá-lo também culturalmente. Por isso os romanos
imediatamente destruíam seus deuses, suas estátuas, sua religião, sua
arquitetura e sua língua e impunham a sua ordem, seus deuses e seu idioma.
Tentaram fazer isso inclusive com a cultura cristã. Mas o Cristianismo dos
hebreus, inferior numérica, econômica e belicamente foi um grande movimento de
resistência cultural mesmo custando a morte de seu mentor: Jesus Cristo, o que
é o Cristianismo hoje?
O exemplo mais
recente de dominação está relacionado com os Estados Unidos que culturalmente,
depois dos anos de 1980, vem dominando o mundo. Aqui não foi preciso exército
para impor sua dominação. Os meios de comunicação, especialmente “Hollywood”,
através do cinema popularizaram a língua inglesa, com ela, o heroísmo do
americano, como se esse fosse o “mocinho” do mundo. Com isso hoje não é só
chique falar inglês, mas para se comunicar em qualquer parte do mundo é
necessário e ter dólar no bolso. É através da cultura que dominamos ou somos
dominados.
Seguindo esse
esquema norte-americano, aqui no Brasil, a televisão e o rádio usavam a música
inglesa nos anos de 1980 para monopolizar a cultura vendendo um estilo de vida
americano. Essa dominação cultural chegou a tal ponto que cantores brasileiros
gravam musicas em inglês, tinham o nome artístico inglês e se diziam dos
Estados Unidos para conquistar o público, pois ser brasileiro era ser caipira,
atrasado, da periferia do mundo.
Assim teríamos
outros exemplos na nossa história. Mas estes bastam para perceber que como diz
o sociólogo gaúcho Pedrinho Guareschi, a cultura é a alma de um povo. É aquilo
que anima uma nação. Dá sentido a vida de um povo. Um povo sem cultura é um
povo alienado, dominado e morto. Um povo sem identidade baseada na sua história
não desenvolve, não tem raízes, não tem argumentação, não tem alma e facilmente
dominado por outro povo. A cultura eterniza um povo tornando-o resistente. A
cultura é mais importante que o pão de cada dia. Sem cultura você não saberá
nem produzir o pão. Terá que adquiri-lo. Cultura fortalece a liberdade, a
auto-estima, a fé.
Cultura é tudo que
fazemos. Quando você enfeita seu quarto com um quadro estará fazendo cultura.
Quando você consome uma comida local ou de fora você está tomando uma posição
cultural. Cultura é tudo que curtimos. Mas um povo que tem consciência da sua
histórica e prioriza esse curtir para assim contribuir no desenvolvimento local
e sustentável. As comunidades tradicionais no interior dessa grande nação
chamada Brasil estavam profundamente ameaçadas de extinção pela globalização
com a chegada da energia elétrica, geladeira, parabólica, internet. Mas as
comunidades que se preparam com escolas e têm governantes locais comprometidos
com seu verdadeiro papel histórico, invertem essa ameaça. Usaram o avanço
tecnológico, a televisão e a internet para mostrar ao mundo a sua identidade
cultural. Vendem a sua cultura. Viraram sujeitos da história, produtores e não
só consumidores de cultura. Assim a cultura não é só a melhor forma de resgatar
a auto-estima, mas também gerar inclusão, renda e mais qualidade de vida a
essas comunidades, por mais tradicionais que elas sejam. Uma cultura não pode
dominar a outra, no máximo se integrar para juntos construir uma sociedade mais
justa e mais humana. Todo movimento cultural deve dialogar com a ética cristã.
Isso significa combater a pobreza. Dignificar e buscar o pobre, o excluído. Dar
sentido a vida. Respeitar o meio ambiente. Isso significa combater eventos onde
o fanatismo religioso, entre outras festas só levam o nosso pouco dinheiro em
troca de milagres. Fazer cultura é enfrentar, resistir permanentemente a esse
“império romano” ainda hoje disfarçado de cordeiro. Fazer cultura é concretizar
o conceito de libertação no mais profundo e eterno sentido cristão dessa
palavra.
TEXTO DE: Jorge Kuster
Jacob é sociólogo,
professor e secretário municipal de Cultura e Turismo de Vila Pavão, ES.
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