terça-feira, 16 de outubro de 2012

Autores do Massacre de Trelew condenados à prisão perpétua


Autores do Massacre de Trelew condenados à prisão perpétua

A Justiça argentina condenou à prisão perpétua três ex-oficiais da Marinha, como coautores responsáveis pela morte de 16 presos políticos, militantes das organizações PRT-ERP, FAR e Montoneros, fuzilados em 22 de agosto de 1972, na Base Aeronaval Almirante Zar, em Chubut, durante a ditadura de Alejandro Agustín Lanusse. O fato, que ficou conhecido como o Massacre de Trelew, foi declarado delito de lesa humanidade.



Buenos Aires - A Justiça argentina condenou à prisão perpétua três ex-oficiais da Marinha, como coautores responsáveis pela morte de 16 presos políticos, militantes das organizações PRT-ERP, FAR e Montoneros, fuzilados em 22 de agosto de 1972, na Base Aeronaval Almirante Zar, em Chubut, durante a ditadura de Alejandro Agustín Lanusse. O fato, que ficou conhecido como o Massacre de Trelew, foi declarado delito de lesa humanidade.

O Tribunal Oral Federal de Comodoro Rivadavia decidiu condenar à prisão perpétua Elmilio Del Real, Luis Sosa e Carlos Marandino, como coautores de fato e absolver Rubén Paccanini e Jorge Bautista. A sentença também requere a extradição do ex-oficial Alfredo Bravo, que mora nos Estados Unidos.

A sentença foi proferida ao término de um julgamento oral público que se iniciou em 7 de maio de 2012, pelo fuzilamento de 19 presos políticos, três dos quais conseguiram sobreviver, mas esses depois foram vítimas do terrorismo de Estado da última ditadura cívico-militar.

As vítimas do massacre são: Rubén Pedro Bonet, Clarisa Rosa Lea Place, Ana María Villarreal de Santucho, Eduardo Adolfo Capello, Carlos del Rey, José Mena, Jorge Alejandro Ulla, Miguel Angel Volpi, Mario Emilio Delfino, Miguel Ángel Polti, Humberto Toschi, do PRT-ERP (Partido Revolucionário dos Trabalhadores – Exército Revolucionário do Povo); Susana Graciela Lesgart, Mariano Pujadas, María Angélica Sabelli, Ricardo René Haidar (sobrevivente do Masacre, desaparecido na ESMA – Escola Superior da Armada, centro de tortura da ditadura Videla-Massera, instaurada a partir de um golpe, em 1976), dos Montoneros; e Carlos Heriberto Astudillo, Alfredo Elías Kohon. María Antonia Berger (sobrevivente do Masacre, desaparecida desde 1979), Alberto Miguel Camps (sobrevivente do Masacre, assassinado em 1977), das FAR.

Os sobreviventes Berger, Camps e Haidar puderam dar seu testemunho daquele que lhes deu, no cárcere, o poeta e jornalista Francisco “Paco” Urondo, no qual relatou os fuzilamentos e o desmentido da versão oficial da ditadura de Lanusse, que afirmou que as mortes tinham sido produzidas na tentativa de fuga.

O Massacre de Trelew
Em 15 de agosto de 1972, os presos políticos das organizações PRT – ERT, FAR (Forças Armadas Revolucionárias) e os Montoneros planejaram a fuga massiva da prisão de segurança máxima de Rawson, capital da Província de Chubut. Fizeram-no em grupos: o primeiro, de 6 pessoas, conseguiu fugir; o segundo, de 19, chegou até o velho aeroporto da cidade de Trelew; o terceiro, de 110, só conseguiu tomar o cárcere (o plano de fuga era tomar a prisão a partir de dentro da própria instituição, por meio de disfarces e da colaboração de agentes carcerários não hostis).

O grupo de 19 pessoas chegou ao aeroporto quando o avião com os 6 maiores dirigentes das organizações guerrilheiras (Mario Roberto Santucho, Enrique Gorriarán Merlo, Domingo Menna, Marcos Osatinsky Roberto Quieto e Fernando Vaca Narvaja) já tinha decolado rumo ao Chile. Diante disso, o grupo decidiu ocupar o prédio do aeroporto para negociar as condições de sua rendição. O ex-capitão de fragata Luis Emilio Sosa foi quem comandou o operativo nas imediações do aeroporto, assistindo um batalhão de infantes da Marinha.

Em 16 de agosto, os militantes comunicaram ao juiz de instrução de Rawson, o Dr. Alejandro Godoy, e a um jornalista, sua intenção de se renderem e exigiram que se lhes garantisse a sua segurança. Uma vez reintegrados à prisão, foram trasladados à Basse Militar Almirante Zar. Na que semana em que passaram alí, foram submetidos a extremo isolamento. Na madrugada de 22 de agosto, ordenaram-lhes que saíssem das celas, com o olhar fixo no chão, e que fizessem filas. Nessas circunstâncias foi ordenado o fuzilamento de 19 presos políticos.

Poucas horas antes da promulgada a sentença que gera um precedente na busca por verdade e justiça na Argentina, a Secretaria de Direitos Humanos da Nação tornou um quartel na Base Aeronaval Almirante Zar um lugar de memória. Ao ato de instituição do lugar onde se cometeram crimes de lesa humanidade autoridades nacionais e provinciais, ex-presos políticos, familiares das vítimas, organismos de direitos humanos e agrupamentos políticos e sociais.

Tradução: Katarina Peixoto

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