quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Dilma quer colaborar na reconstrução árabe


A presidente do Brasil disse que o País quer cooperar com as nações que passaram por mudanças políticas e sociais. Em Lima, no Peru, ela condenou a violência na Síria.

Isaura Daniel, enviada especialisaura.daniel@anba.com.br
Lima – A presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil quer contribuir com a reconstrução dos países que viveram a Primavera Árabe. Ela fez a afirmação nesta terça-feira (02) durante a abertura da 3ª Cúpula América do Sul – Países Árabes (Aspa), em Lima, no Peru, da qual participam 11 chefes de estado e de governo das duas regiões. “Queremos contribuir para a reconstrução destes países e seu desenvolvimento econômico e social, mas sabemos que o caminho destes países passa por eles mesmos”, disse a líder brasileira.

Ricardo Stuckert Filho/PR Ricardo Stuckert Filho/PR
Dilma falou na abertura da Aspa
Entre os países árabes que passaram por revoluções no ano passado, apenas a Tunísia tem a presença do seu presidente, Moncef Marzouki, na Aspa. Dilma afirmou que algumas situações vividas no mundo árabe causam muita preocupação. “A violência generalizada na Síria é fonte de profunda tristeza para o Brasil que abriga milhões de descendentes de árabes”, falou. “Estamos conscientes que a maior responsabilidade pelo ciclo de violência recai no governo de Damasco e faz vítimas mulheres, crianças e jovens. Mas sabemos também da responsabilidade das oposições armadas, crescentemente com o apoio militar logístico estrangeiro”, acrescentou.

Ela declarou que o caminho, no caso da Síria, é o diálogo. Sobre o processo de mudança política na região como um todo, Dilma lembrou que a América do Sul passou por momento semelhante, de transição para a democracia e a inclusão social no passado. “As transformações no plano político devem merecer nossa atenção. O mundo árabe vive atualmente profundos câmbios, manifestações populares que expressam anseios universais, como participação política, desenvolvimento econômico e justiça social”, disse.

A presidente destacou também que árabes e sul-americanos precisam assegurar que as turbulências econômicas internacionais não criem obstáculos para o desenvolvimento. Segundo ela, a política monetária expansionistas dos países desenvolvidos, juntamente com uma exagerada austeridade, exporta a crise para o resto do mundo. “Não soluciona os graves problemas dos países desenvolvidos, como o desemprego galopante e a falta de esperança”, disse. Segundo ela, essas medidas, que são protecionismo disfarçado, facilitam o acesso das nações desenvolvidas aos mercados emergentes, mas prejudicam as exportações dos últimos.

Dilma defendeu a cooperação entre as duas regiões como forma de garantir a segurança alimentar e energética de árabes e sul-americanos. Mas ela falou que a América do Sul não pode se conformar em ser exportadora de commodities. “Num mundo cada vez mais interdependente, nossa soberania política está cada vez mais associada à nossa capacidade de educar, produzir ciência e também inovar, desenvolvendo nossos sistemas produtivos e também de serviços”, afirmou a presidente.

A líder brasileira lembrou-se dos números de comércio. Segundo ela, desde a criação da Aspa o intercâmbio comercial entre as duas regiões mais do que dobrou. Passou de US$ 13,6 bilhões em 2005 para US$ 27,5 bilhões no ano passado, apesar dos efeitos da crise. Ele falou que o encontro empresarial paralelo que começou ontem e segue até hoje, também em Lima, identificará novas oportunidades. Há espaço, segundo a presidente, para ampliar o comércio e os investimentos. “Precisamos aproveitar a complementaridade das nossas economias”, disse Dilma.

A presidente falou ainda sobre outras questões políticas, condenando a islamofobia, mas também os ataques a representações diplomáticas da Alemanha e dos Estados Unidos. Sobre a Palestina, ela defendeu o seu reconhecimento como estado pelas Nações Unidas e disse que este é o único caminho para a paz na região.

O presidente do Líbano, Michel Sleiman, que participou da abertura da Aspa, também condenou os ataques ao profeta Maomé. O secretário geral da Liga Árabe, Nabil El Araby, falou sobre a questão palestina e afirmou que Israel segue com sua política de ocupação na região, sem atender aos pedidos internacionais. O presidente do Peru, Ollanta Humala, defendeu uma Palestina livre e soberana.

Secretaria-geral

O presidente do Líbano solicitou a criação de uma secretaria geral da Aspa e ofereceu seu país para sediá-la. Sleiman também sugeriu a criação de um banco de investimentos comum às duas regiões, do qual poderiam participar bancos sul-americanos e árabes, para o financiamento aos projetos de cooperação. Ele falou que a cooperação pode resultar em uma vida melhor aos povos sul-americanos e árabes. “O mundo está olhando para nós e seremos atores políticos importantes se soubermos trabalhar juntos”, disse o libanês.

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