quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A ordem é agregar valor


Presidente da Câmara Árabe, Salim Schahin, participou de painel sobre recursos naturais no fórum empresarial da Aspa, no Peru. Palestrantes defenderam a transformação de matérias-primas na origem.

Isaura Daniel, enviada especialisaura.daniel@anba.com.br
Lima – A existência de recursos naturais abundantes ajuda o Brasil a exportar alimentos para o mundo árabe. “Exportamos água para eles através das nossas exportações de alimentos, sem a água não poderíamos exportar”, disse o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin, em sua participação no debate “Além dos recursos naturais”, no Fórum Empresarial da Cúpula América do Sul – Países Árabes. O encontro começou nesta segunda-feira (01) e segue até esta terça (02) em Lima, no Peru.

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Painel discutiu recursos naturais
Schahin lembrou que a água é bem escasso no Oriente Médio e que o continente americano tem os maiores aquíferos de água doce do mundo. A proposta do debate era questionar se a abundância de recursos naturais é uma limitação para o desenvolvimento e a inovação. Os especialistas mostraram que não. Schahin falou do exemplo da Petrobras, companhia petrolífera do Brasil, que, com a exploração do pré-sal acabou desenvolvendo uma mão de obra especializada na área e trouxe também muitos investimentos, com geração de empregos na cadeia.

Issad Rebrab, presidente da Cevital, companhia produtora de alimentos da Argélia, foi o principal orador do painel e deu vários exemplos dos benefícios econômicos a partir da agregação de valor aos produtos, em vez da sua venda como matéria-prima. “Extraindo produtos do solo e do subsolo não podemos criar empregos e riqueza para o país todo, mas sim quando transformamos estes recursos”, disse. Ele lembrou que uma tonelada de algodão custa em média US$ 2 mil, enquanto uma tonelada de camisetas é vendida por US$ 10 mil. Na mesma linha, o propano tem o preço de US$ 600 a tonelada, mas chega a US$ 1,2 mil se virar propileno e a US$ 3 mil se for transformado tecido sintético.

Rebrab afirmou que a riqueza verdadeira dos países são os seus habitantes. "Se os países investem na formação de homens e mulheres darão apoio a essas pessoas para criar mais riqueza”, falou ele. Por isso, disse, ricos não são os países que possuem matérias-primas, mas os capazes de transformá-las.

O ministro do Meio Ambiente do Peru, Manuel Pulgar Vidal, alertou para a necessidade de uma avaliação criteriosas nos projetos industriais, mesmo que para geração de riquezas. Ele disse que se em vez de explorar minérios e vendê-los de forma bruta, eles forem transformados, a criação de siderúrgicas, por exemplo, também terá impacto no ambiente.

A desertificação, que vem avançando com o aquecimento global, também foi tema do painel e inclusive objeto da assinatura de um acordo, nesta segunda-feira, entre o brasileiro Instituto Nacional do Semiárido (Insa) e o Centro de Estudos de Zonas Áridas e Terras Secas da Liga Árabe. Eles se comprometeram a trocar informações e projetos na área, entre outras ações. O avanço da desertificação preocupa tanto o Brasil, que tem regiões semiáridas, como o mundo árabe, que tem grande área com zonas desérticas.

Convite

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Schahin: comércio com árabes cresceu
Durante o painel, o presidente da Câmara Árabe falou também sobe a imigração, afinal estima-se que o Brasil tem 12 milhões de descendentes de árabes. Ele lembrou da contribuição deles nas varias esferas do desenvolvimento do País, como na área médica, onde criaram hospitais de excelência e referência internacional. “Estávamos tão bem instalados no Brasil que não pensávamos nas antigas origens e [sobre] como fazer negócios com eles”, disse Schahin sobre o período anterior à criação da Câmara Árabe, que celebra 60 anos neste ano.

Ele contou que nestes anos a entidade foi trabalhando pela aproximação com a região e hoje a corrente comercial do Brasil com o mundo árabe chega a US$ 25 bilhões. “Existe um potencial enorme nas relações da América do Sul com os países árabes”, disse Schahin. Ele convidou os demais países sul-americanos a também criarem câmaras de comércio e trabalharem juntos sob uma mesma federação. Da Câmara Árabe também participaram do fórum o diretor geral Michel Alaby, o vice-presidente administrativo Marcelo Sallum e o assessor Alberto Pfeifer.

Lideranças

Essa aproximação da qual falou Schahin, e que ocorreu com os árabes nos últimos tempos, ficou visível durante o primeiro dia do fórum de negócios em Lima. A sala de palestras esteve lotada e muitos empresários se encontraram em rodadas de negócios e conversas informais pelos corredores do fórum.

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Sleiman: igualdade e democracia
O presidente do Líbano, Michel Sleiman, lembrou que o mundo árabe e o sul-americano tiveram crescimentos econômicos espetaculares apesar da crise econômica mundial.

“Temos uma crise econômica mundial e temos que trabalhar juntos para encontrar soluções melhores para todos”, disse o secretário geral adjunto da Liga Árabe, Ahmed Benhelli. Ele ressaltou a importância de melhorar a emissão de vistos entre os países para reforçar a cooperação.

Sleiman falou também sobre sua preocupação com a geração de empregos entre os jovens. “Temos o desafio do crescimento demográfico, há cada vez mais jovens chegando ao mercado de trabalho”, afirmou. Ele declarou que a agenda entre as duas regiões deve envolver essa questão, além de outras, como a energética. O presidente defendeu os princípios de igualdade e democracia no mundo e falou que Israel tem ido contra eles, referindo-se à questão palestina.

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