segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Em busca de posição no ranking do café, municípios do ES utilizam mais agrotóxicos



Jaguaré, que já foi líder na produção mundial de café, é agora campeão no consumo de venenos


Flávia Bernardes

Na corrida para consolidar os municípios capixabas como campeões mundiais na produção de café, o governo do Estado tem oferecido até prêmios para quem produzir mais café por hectare. A denúncia foi feita pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que alertou sobre os problemas que o incentivo vem causando no campo. Ansiosos por grandes colheitas, os municípios estão triplicando seu consumo de agrotóxico. Atualmente, o líder é o município de Jaguaré.


Segundo o MPA, o município do norte do Estado produz 160 sacas de café de 60 kg por hectare e já ocupou o topo do ranking da produção mundial de café, posição hoje ocupada pelo município vizinho, Vila Valério.
“Na ânsia por retomar o seu lugar, o que se vê é o incentivo do poder público local, de fazendeiros e comerciantes de agrotóxicos. Vendem a imagem de que cultivar alimento é um atraso e que não faz o município crescer. Quem não entra na lógica desenvolvimentista é considerado ultrapassado”.
 
A entidade afirma que tal lógica é baseada praticamente em monocultivo e uso intensivo de venenos agrícolas, sobretudo, pela pulverização aérea, considerada de alto impacto pelos camponeses.
 
Localizado a 202 km de Vitória, Jaguaré, que tem como a principal atividade econômica a cafeicultura, é palco também de graves contaminações por agrotóxicos. Foi na região que, em 2008, um avião pulverizou o pátio de uma escola, praças e pedestres. O MPA ressalta que Jaguaré é conhecido pelo maior índice de pulverização aérea no Estado. “Só no centro dacidade, os agricultores podem encontrar oito lojas que comercializam agrotóxicos”, diz o MPA.
 
Adalto Togenere, que trabalha com café, mas busca diversificar a produção com outros cultivos, foge da lógica da produção local e reclama da situação. “Antigamente o município praticava uma agricultura com café, milho, feijão, arroz, isso aos poucos foi mudando e se tornando praticamente só café”, lamentou.
 
O MPA destaca que a lógica do agronegócio, além de prejudicar a agricultura camponesa, atrai milhares de famílias camponesas do sul da Bahia, norte de Minas e de outras partes do Estado para trabalhar na colheita do café, porém, nem todos regressam ao seu lugar de origem, engrossando os bolsões de miséria e gerando o êxodo rural.
 

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