quinta-feira, 25 de outubro de 2012

PECUÁRIA PRECISA SER EFICIENTE.



Entrevista com Leandro Bovo
Scot Consultoria: Espera-se que a proteína de frango tenha o maior incremento no consumo nos próximos anos. Quais são as medidas que o setor da carne bovina deve adotar para acompanhar esta evolução?
Leandro Bovo: Sem dúvida nenhuma o setor de carne bovina precisará ser eficiente, ou seja, abater animais mais jovens, mais pesados e em menos tempo. O frango é, sabidamente, uma “máquina” mais eficiente de converter alimentos em proteína do que o boi, por isso é a proteína mais barata e com o maior incremento de consumo, mas o bovino tem condições de competir, já que é uma proteína bastante apreciada mundo afora, ganhos de eficiência que resultem em preços mais competitivos nos ajudarão a levar vantagem nessa “briga”.
Scot Consultoria: Como o Brasil pode aproveitar, de forma efetiva, o aumento do consumo de proteína animal dos países emergentes?
Leandro Bovo: Enquanto a Índia não se tornar um concorrente mais relevante na esfera mundial, o Brasil é o país que tem condições de crescer sua produção de proteína bovina, com sustentabilidade e qualidade, para abastecer um crescimento da demanda mundial.
Temos produtores altamente capacitados, indústrias sólidas e eficientes e, mais importante de tudo, terra e água em abundância (insumos que são cada vez mais escassos no mundo), então o Brasil é o principal candidato para se beneficiar de uma expansão do consumo. Depende apenas de fazermos a nossa parte. Se as negociações bilaterais com os governos de EUA e Japão evoluírem para abertura de destes mercados para a carne brasileira, teremos resultados fantásticos para a pecuária no Brasil.
Scot Consultoria: Qual o impacto, no setor de carne bovina, da crise europeia atual? Há diminuição no consumo? Caso haja, isso afeta o Brasil?
Leandro Bovo: Uma crise de proporções grandes e duradouras como está sendo a europeia afeta o Brasil de várias formas. A principal delas seria a diminuição do consumo de carne bovina na Europa ou a pressão por preços mais baixos, que afetaria o já baixo volume que estamos exportando para este destino.
Outra forma de sermos afetados é pelo canal financeiro, já que, se a crise europeia se agravar, isso tem o potencial de afetar bancos, que são importantes financiadores do comércio mundial, que pode ser penalizado em um cenário de forte aversão a riscos. Isso sem falar do congelamento ou adiamento de investimentos de empresas europeias por insegurança quanto aos desdobramentos da crise.
Scot Consultoria: O número de pecuaristas interessados em realizar o termo tem crescido? Em anos de ciclo de baixa, estes contratos tendem a crescer?
Leandro Bovo: Com o aumento do confinamento e um maior número de pecuaristas investindo na atividade, a demanda por ferramentas de proteção de preços tende a aumentar e isso inclui o mercado a termo em suas mais diversas modalidades. Mas não só o termo, como também o mercado de seguro de preços mínimos, que é o que tem tido o maior crescimento.
O número de animais negociados a termo depende mais dos preços do mercado futuro serem considerados interessantes do que de qualquer outro fator, mas, de maneira geral, esse número acompanha de perto a quantidade de animais confinados. Como a tendência é de aumento da utilização do confinamento, inclusive com empresas confinando o ano inteiro, a tendência é que o termo também cresça, independente do período do ciclo pecuário. Mas é claro que com o mercado em baixa surge um maior interesse por proteção de preços. A questão é saber se o mercado futuro tem preços interessantes para os confinadores.
Scot Consultoria: Em um momento de oferta maior de fêmeas, é comum os frigoríficos grandes aumentarem a participação de vacas nos abates ou estes apenas aproveitam a pressão destas sobre o mercado de machos?
Leandro Bovo: Acho que é um pouco de cada coisa. Com maior oferta de fêmeas, é natural que o diferencial de preços entre machos e fêmeas aumente, tornando-as mais interessantes principalmente para quem vende carne no mercado interno.
O problema é que a fêmea produz menos carne por animal abatido, piorando o rendimento da indústria, então essa participação de fêmeas no abate tem um limite econômico. Além do que, existe a necessidade de as indústrias atenderem a mercados específicos, que demandam apenas carne de machos. Mas, de maneira geral, o aumento da oferta de fêmeas, típico de fases de baixa do ciclo pecuário, tende a pressionar a carne no mercado interno, que, por sua vez, pressiona o preço da arroba do boi gordo.

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