Os bancos centrais dos países em desenvolvimento perderam US$ 81 bilhões em reservas de emergência por saída de capital e intervenções nos mercados de câmbio, de maio para cá, sem considerar a agitação que ressurgiu nesses mercados recentemente.
ROBIN WIGGLESWORTH
"É uma verdadeira mudança de regime, se comparada ao que vínhamos vendo nos últimos dez anos", disse James Lord, estrategista do Morgan Stanley.
As reservas dos bancos centrais existem para oferecer proteção contra tumultos, e em média continuam a ser muito mais altas do que era o caso em crises anteriores dos mercados emergentes. Mas o ritmo de queda vem preocupando alguns investidores e analistas.
É provável que muitos bancos centrais tenham sofrido novas perdas de reservas em agosto, porque a turbulência causada pela decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de reduzir seu estímulo monetário ressurgiu e agravou os efeitos das preocupações quanto à desaceleração do crescimento econômico em mercados emergentes.
INTERVENÇÃO
Os analistas do Bank of America apontam que intervenções podem ser na realidade contraproducentes, porque os bancos centrais precisam vender títulos do Tesouro norte-americano para comprar moeda de seus países. Isso eleva os rendimentos desses títulos, o que agrava o tumulto nos mercados emergentes e reduz o valor de suas reservas restantes denominadas nesse tipo de papel.
Administradores de ativos e analistas preveem que os bancos centrais logo abandonarão as intervenções diretas em defesa da taxa de câmbio e tomarão medidas mais decisivas em favor de conter a saída de capitais de suas economias.
"Se mantiverem as intervenções, queimarão suas reservas", disse Michael Wang, estrategista do Amiya Capital, um fundo de hedge cujo foco são os mercados emergentes.
"Os bancos centrais estão provavelmente chegando à conclusão de que isso não é sustentável."
Alguns bancos centrais já começaram a elevar as taxas de juros para sustentar suas moedas, mais recentemente o da Turquia, nesta semana. Novos aumentos de juros devem vir nos próximos meses, a despeito de um ambiente de crescimento tépido.
O Citi rebaixou suas projeções de crescimento para os mercados emergentes uma vez mais, nesta semana, para 4,6% enste ano e 5% em 2014. Os economistas do banco norte-americano apontaram que, excluindo a China e os países ricos em petróleo do golfo Pérsico, o balanço em conta-corrente dos mercados emergentes como um todo caiu de um superavit de 2,3% em 2006 para um deficit de 0,8% este ano --o maior deficit desde 1998, a última vez que os países em desenvolvimento enfrentaram uma crise.
"Em última análise, todos os países com grandes deficit em conta-corrente terão de elevar mais os juros, se quiserem proteger melhor suas moedas", disse Lord.
Alguns bancos centrais continuam a acumular reservas cambiais, porém. Lituânia, Polônia, Israel, Letônia e Colômbia todos viram crescimento de ao menos 1% em suas reservas entre maio e julho, de acordo com os números do Morgan Stanley.
Outros, como o Brasil e a Rússia, continuam a ter amplas reservas cambiais a despeito dos esforços para sustentar suas taxas de câmbio.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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