quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Catingueira garante produção de caprinos e ovinos na seca extrema


postado há 1 dia atrás



Por Ana Clara Cavalcante, Marco Bomfim, Fernando Henrique Albuquerque, Pesquisadores da Embrapa Caprinos e Ovinos.

É comum em época de seca, como a que está ocorrendo agora no semiárido, a vegetação da caatinga se mostrar seca, totalmente sem folhas, com uma aparência desoladora e sem qualquer esperança de mudança, que não seja o retorno das chuvas. No entanto, há mais de três anos sem chuvas consideráveis, agricultores familiares da região noroeste da Bahia encontraram, na mesma vegetação, uma planta que está sendo hoje não apenas a salvação, mas a base da alimentação de rebanhos de caprinos leiteiros e ovinos de corte, garantindo a geração de renda para famílias no semiárido.

A planta em questão é a Catingueira (figura 1), conhecida também como Caatinga de porco e Pau de Rato, uma árvore de múltiplas utilidades, usada como medicamento, madeira e forragem. Pode ser encontrada em altas densidades e, apesar da queda de folhas, pode ser manejada para aproveitar seu potencial de produção de forragem, tanto a partir da queda das folhas, quanto da fenação da folhagem, quanto antes que estas venham a cair.

Figura 1 - Árvore da Catingueira (Poincianella pyramidalis), município de Conceição do Coité (BA).
A fenação das folhas da Catingueira é um processo simples, que começa pelo raleamento das copas das árvores, com corte de apenas alguns galhos, de preferência aqueles mais periféricos, preservando os galhos centrais. Esse tipo de poda é um manejo conservacionista, permitindo que a planta se recupere da poda, sem danos. O nível de utilização da copa não deve ultrapassar 50%. Pesquisas têm demonstrado que o melhor valor nutritivo das folhas ocorre após 70 dias de rebrotação.

Os galhos cortados são colocados para secar no campo mesmo. Isso reduz o custo de transporte e manejo do material, refletindo no custo final do produto. Após o corte, os galhos com folhas ficam dispostos em medas ou coivaras (galhos soltos no campo), que após três dias em média, são desfeitas, com o batimento dos galhos, para desprendimento das folhas, que são postas em sacos e armazenadas para serem utilizadas na alimentação dos animais, dispensando processamento prévio. O ponto do feno é aquele em que não há umidade ao torcer os caules e ao amassar as folhas. Outro ponto importante é observar que, ao serem torcidas, as folhas podem até se quebrar, mas não devem se desfazer em migalhas, o que indica que o tempo de secagem foi excessivo. Atenção deve ser dada para evitar que o material não passe muitos dias no campo, pois a permanência pode comprometer o valor nutritivo do feno, mesmo de plantas cortadas no mesmo dia (Figura 2). Para isso, se há dificuldade de mão de obra, deve-se escalonar o corte de planta, para viabilizar a colheita e armazenamento no ponto certo.

Figura 2 - Feno de Catingueira cortado no mesmo dia, porém colhido após oito dias de secagem (esquerda) e colhido com três dias de secagem (direita).



Nesse processo, não se utiliza lona. Algumas folhas são deixadas no solo para servirem de cobertura e podem ainda ser utilizadas para pastejo por animais que venham a passar pela área. Essa forma de fazer o feno tem sido apontada por agricultores familiares como a mais viável em termos de rendimento e uso da mão de obra. Segundo levantamento na região, com uma diária de serviço é possível produzir, em média, 25 sacos de feno com 7kg cada um (175kg), o que resulta em um feno produzido a R$ 0,14/kg. Em sendo bem armazenado, há experiências que demonstram um feno de excelente qualidade, após três anos da realização do processo de fenação.

O feno de Catingueira é um volumoso que contém alto teor de proteína, considerando tratar-se de uma forrageira (algumas análises relatam até 19% de proteína bruta) e digestibilidade da matéria seca em torno de 55%. Tem sido utilizado em misturas com o milho em uma proporção de 24% de feno de Catingueira e 76% de milho, totalizando uma oferta em torno de 250g/dia (1,5% peso vivo) dessa mistura por animal em crescimento. Para animais adultos, a proporção é de 29% feno e 71% milho e o fornecimento de 350g/dia (0,87% do peso vivo). Apesar de não existirem indícios de problemas, recomenda-se, como precaução, evitar o fornecimento do feno de Catingueira na fase de cobertura e de início de gestação das matrizes.

As experiências de produtores na região Noroeste da Bahia têm confirmado a planta como importante fonte de alimentação tanto para rebanhos caprinos leiteiros, quanto para ovinos de corte. Em termos de rebanho leiteiro, há registro de cabras produzindo até seis litros de leite por dia com o consumo do feno associado à palma e concentrados (Figura 3). No caso de ovinos, podem-se encontrar, em pleno período de seca, animais em fase de crescimento, criados em pasto nativo, com até seis meses de idade, apresentando escore corporal de 3,5 e conformação corporal adequada para abate (Figura 3) consumindo uma mistura do feno com milho em grão.

Figura 3 - Cabras leiteiras se alimentando do feno da Catingueira (esquerda) e cordeiros em boa condição corporal após consumirem feno da mesma planta.



Para finalizar, o uso da Catingueira na alimentação animal deve ser realizado de forma sustentável, com podas conservacionistas e, além disso, deve-se atentar para o balanceamento da ração de modo que não venha a comprometer a saúde e o desempenho dos animais. Dessa maneira, pode-se contar com uma planta de excelente valor para uso estratégico em períodos de seca prolongada.
 

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