Nações Unidas, 30/7/2014 – A ambulância se deteve na cidade iraquiana de Kirkuk e as pessoas correram a ajudar. Desceram seis meninos, que tinham entre alguns meses e 11 anos, todos feridos supostamente por um ataque aéreo na vizinha localidade de Tuz Khurmatu.
“A situação no Iraque é grave”, disse à IPS a australiana Tirana Hassan, pesquisadora de emergências da organização Human Rights Watch, recordando uma cena que presenciou durante recente viagem à região. “As famílias, incluídas as que têm crianças, estão presas em meio a uma guerra cada vez mais violenta, e estão pagando o preço”, acrescentou.
O número de vítimas civis disparou quase dois meses após a eclosão da violência entre os combatentes islâmicos e as forças armadas iraquianas. Cerca de 1.500 pessoas morreram em junho, a maior quantidade em um mês desde 2008, segundo a Missão de Assistência das Nações Unidas para o Iraque (Unami). “Em todas as áreas afetadas pelo conflito as baixas de crianças devido aos ataques indiscriminados ou sistemáticos por parte de Grupos armados e pelos bombardeios do governo nas áreas povoadas aumentaram”, segundo a Unami.
Os ativistas denunciam que os ataques aéreos do governo contra os combatentes do Estado Islâmico do Iraque e o Levante (ISIS) causaram vítimas infantis. “Documentamos vários casos de bombas de barril utilizadas em Faluja que mataram crianças e mulheres”, informou Hassan. “O uso indiscriminado das armas em áreas onde residem crianças e suas famílias é uma violação do direito internacional”, acrescentou.
O Iraque se converteu em um dos lugares mais perigosos do mundo para as meninas e os meninos.
A Unami também documentou “violações sistemáticas e flagrantes” dos direitos humanos das crianças por parte do ISIS, incluídos assassinatos, violações e demais tipos de violência sexual e física, além do recrutamento forçado. A violência e as mortes dos últimos meses são a continuação do sofrimento que atingiu crianças no Iraque ao longo da última década.
O conflito em curso custou a vida de mais de 7.800 civis em 2013, o maior número desde 2008, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) começou contagem sistemática das vítimas civis no Iraque. Dessas vítimas em 2013, 248 eram meninas e meninos, mortos pela ação do ISIS e da extremista rede islâmica Al Qaeda, segundo a ONU. O governo iraquiano sustenta que o número seria maior, de 335 menores mortos e 1.300 feridos.
No começo de junho, pelo menos 1,2 milhão de iraquianos fugiram de suas casas em razão da violência. Em sua maioria buscaram refúgio em moradias temporárias, acampamentos de refugiados internos ou em casas de família, informou a ONU. “Um grande número de crianças refugiadas estão em extrema necessidade de ajuda”, afirmou à IPS Alec Wargo, funcionário do Escritório do Representante Especial do secretário-geral da ONU para a questão das crianças e os conflitos armados.
Segundo Wargo, há denúncias de crianças recrutadas pelos rebeldes e que foram mortas ou feridas nos combates. A ONU e o governo iraquiano tentam lidar com a situação, disse Wargo. Embora não existam informes oficiais sobre a situação das crianças nas zonas sob controle do ISIS, esta “não é bem vista”, acrescentou. A ONU expressou sua séria preocupação pela atenção inadequada que recebem as crianças em razão do impacto sofrido pelas hostilidades nas zonas controladas pelo governo.
A ONU calcula que a violência contra as crianças no Iraque seria maior do que a denunciada, especialmente nos casos de seqüestro, devido às dificuldades na recopilação da informação e à resistência das famílias em informar a policia. Mesmo sem estatísticas oficiais, a Unami recebeu denúncias de crianças recrutadas para combates por ambas as partes do conflito, incluídas s forçs do governo. Os menores são usados como informantes, mas também para ataques suicidas com bombas, vigilância em postos de controle e na luta, segundo a Unami.
“Embora o governo do Iraque não tenha o controle em algumas partes do país, ainda tem a responsabilidade primordial de respeitar e proteger os direitos das crianças e de evitar seu recrutamento e uso militar ilegais”, afirmou Richard Clarke, diretor da Child Soldiers International, uma organização britânica que trabalha para evitar o recrutamento infantil para fins bélicos.
Segundo Clarke, “o governo deve tomar todas as medidas legais, políticas e práticas necessárias para cessar e evitar o recrutamento de crianças pela força sob seu controle, e deve buscar ajuda de organizações internacionais para conseguir isso”. Envolverde/IPS
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