sábado, 19 de julho de 2014

FUTEBOL DE CELEBRIDADES CUSTA MUITO DINHEIRO



Os analistas parecem não se dar conta de que jogadores e clubes perderam autonomia ao serem capturados pela máquina de fazer dinheiro que são as marcas.


Ser adepto do capitalismo, mas contra o lucro revela uma das muitas esquizofrenias ideológicas do liberalismo simplório. O esquerdaloidismo também tem das suas como ao reivindicar total liberdade de manifestações e acusar de fascistas todos que discordam de suas opiniões. Resulta daí a dificuldade de distinguir entre os reclamos que geram progresso das bandeiras que propõem a sopa dos gatos pardos. Ou, pior, que nem se dão conta de que, no fundo, a sopa de gatos pardos é um tóxico capitalista.

Depois da derrota no futebol apareceu diagnóstico quase unânime de que os clubes são os maiores responsáveis pela evasão dos valores ao não atenderem corretamente às chamadas formações de base. Ora, os analistas parecem não se dar conta de que jogadores e clubes perderam autonomia ao serem capturados pela fabulosa máquina de fazer dinheiro que são as marcas desportivas e seus derivados. Os fantásticos salários pagos aos atletas e técnicos não são garantidos obviamente pela receita dos jogos, mas pela penca de anúncios que carregam na camisa, calções, meias e chuteiras (agora também cuecas entremostradas entre um tempo de jogo e outro estão sendo promovidas a original espécie de outass, se me permitem o manco neologismo em inglês). Tais figuras viraram celebridades, por via da propaganda ou não, e, como tais, tornam-se escassas. Por isso, caras. 

A criação de mitos faz parte do circuito de produção capitalista do terciário, setor de serviços. Depois de criada, Marilyn Monroe tornou-se única, assim como Lionel Messi, independente dos talentos reais que possuam no circuito a que pertencem. Tanto no caso do futebol quanto no da representação artística o feliz acaso consiste em que os veículos da propaganda são apaixonados pelo que fazem.

Jogadores, especialmente os verdadeiros craques, são sedentos pela prática do esporte e se entregam, como eles próprios dizem, de corpo e alma em cada partida. Por isso a idéia de se vender ao adversário é profundamente ofensiva aos atletas e são, com efeito, raríssimos os casos em que tal perversidade ocorre.

Típico negócio em que o investidor, a indústria esportiva e as anexas, podem contar com a absoluta cooperação e honestidade dos agentes produtivos.

Não é por falta de atenção dos clubes, mas de dinheiro, que as seleções de 58, 62 e 70, campeãs, foram constituídas por jogadores em ação nos clubes brasileiros e na de 2014 só um atleta do time supostamente efetivo joga no Brasil. Em 40 anos montou-se uma rede produtiva globalizada que atinge todas as seleções. Em poucas, atualmente, os principais jogadores atuam em times de seus países de origem. E depois dos conclaves internacionais lá se vão os craques revelados nas disputas. Da surpreendente seleção de Costa Rica diz-se que nenhum de seus jogadores atua no país, e já estão sendo negociados os bons jogadores da Colômbia, do Chile e até da Argélia. As somas envolvidas em tais contratos são incrivelmente elevadas e só se tornam inteligíveis quando se sabe que os times não estão alugando, digamos assim, esses talentos, mas investindo, como repassadores, os recursos de indústrias internacionais. O futebol se tornou um negócio de primeira grandeza, tal como o talento de seus garotos propaganda.

Os atletas, é claro, não são os responsáveis pela marcha do capitalismo nem, a rigor, ninguém. O capital prosseguirá segundo suas regularidades enquanto der e já não temos profecias críveis sobre como será o futuro próximo. Nem se sustenta a ingenuidade de supor que se trata de um problema de governo ou de suas relações financeiras com os clubes. Vários deles já são sustentados por conglomerados de empresas que investem o que lhes parece ter retorno aceitável.

Não é um problema simplório como imaginam liberalóides e esquerdóides. Nessa competição mercadológica que se desenrola através dos talentos de rapazes célebres, assim como em outras competições, o tal mercado propriamente dito é, como em outros, condicionado por grandes interesses econômicos. Embora cada um continue a torcer por seu time de preferência, lucros garantidos. É a parte cruel do mundo do dinheiro envolvida nos prazeres que financia. 




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